14.12.04

Declaracao Magiar - Todos temos um pouco de Luis Suaréz

“Cuidado com os olheiros de oculos escuros e gabardina comprida. Podem ser sempre o Padre Frederico.”
Ferenc 3.39

Meszaros , o Huno declara que a producao de artigos durante os proximos dias vai ser afectada por uma viagem de prospeccao que estamos actualmente a realizar no prolifero campeonato militar do Mali. Temos esperanca de conseguir descobrir um novo Keita ou um novo Diallo, duas quase-estrelas miticas da constelacao leonina caso tivessem jogado mais que uns meros segundos no campeonato.

A partir deste momento tambem nos posicionamos oficialmente contra os acentos. Os acentos estao para a ortografia como Joao Malheiro para o futebol: Dao um certo colorido, mas no final de contas nao fazem falta nenhuma. E comecamos finalmente a entender a politica de contratacoes do Uniao da Madeira de principios de anos 90...

No entretanto, Meszaros recomenda que tenham cuidado com as roturas de ligamentos cruzados e aconselha a jogar sempre pelos flancos. Haja saude.

1.12.04

Quim vs. Nascimento - O embate

'E quando lhe contaram as histórias dos seus antepassados, o Homem de Cro-Magnon disse: 'Houh''
Férenc 2.2

Varzim e Vit. Setúbal encontram-se na Póvoa. Ambiente de festa, com sardinhada e vinho tinto, tão comuns em encontros de gente do mar. Dentro do campo, as equipas sentem a excitação de um dos clássicos ignorados do futebol português, alvo de fervilhante paixão entre uma elite cada vez mais underground.

Começa o jogo.

Num ombro a ombro a meio campo, Quim (mais tarde, no FC Porto) e Nascimento, antepassados de Moreira e possuídores das mandíbulas mais temidas e proeminentes da primeira divisão, batem com o queixo um no outro. O som é arrepiante. A multidão arrefece em silêncio. Deixa de se ouvir barulho na lota de pesca. Qual dos dois tem que sair de maca?

Resposta em breve. Entretando, revelem toda a vossa astúcia, seus velhas raposas. Enviem as vossas respostas a meszaros@no-log.org e façam saltar do banco esse John Mortimore que têm adormecido dentro de vós. Será dos comprimidos pró coraçao...

Quem mandar uma boa resposta recebe o ‘Parabéns a Voçê’ cantado por todo o balneário.



30.11.04

Os discípulos de Borota I

‘ Quem tem medo compra um cao. Mas eles compraram pinchers’.
Férenc 88.09

Imaginemos que os 3 reis magos, a caminho de levar o ouro, incenso e a mirra ao Salvador, de repente perdiam a estrela de Belém. Desesperados tentaríam encontrar outra estrela que os orientasse no seu caminho. Apenas muito dias depois, dar-se-íam conta que se tinham enganado e estavam no Bangladesh ofereçendo o ouro ao filho de um produtor de arroz budista, porque o incenso e a mirra já tinham comido pelo caminho.

Esta alegoria serve apenas para explicar como se sentiu o FC Porto, quando depois de vender Vítor ‘Euro 2004’ Baía para o Barcelona tentou desesperadamente procurar outra estrela para guiar a sua defesa. Ao FC Porto aconteceu ainda pior que aos 3 reis magos. Se ir para o Bangladesh é mau, contratar um Ivica Kralj, um Eriksson y um Wosniak é muito pior.

Moral da história, se os reis magos nao percebem um boi de geografia, o FC nao percebe um Paulinho Santos de Futebol.

Ora vide:

Discípulo I
Lars ‘ o Homem tranquilo’ Eriksson

Varias teorías existiram sobre a serenidade de Lars Eriksson, um pacato guarda-redes Sueco que apareceu nas Antas ninguém sabe muito bem como nem porquê. Meszaros, o Huno traz-lhes aquí as teorías mais famosas:

- Teoría 1 – ‘Eriksson era apenas um homem muito calmo’. Segundo esta teoria estamos perante um fenómeno da condiçao humana. É que tendo diante uma defesa composta por um Secretário, um Jorge Costa, um Aloísio e um Paulinho Santos, até o Dalai Lama estaría nervoso. Todos sabemos que no caso de estes meninos nao terem um adversario directo para atacar, podiam virar-se contra qualquer um, como Rottweillers em fúria tentando saciar a sua codicia de sangue. Que o diga Mielcarski, que se fartava de levar caldos do Paulinho Santos de cada vez que marcava um golo. Talvez por isso preferisse estar lesionado. Teoría rejeitada por medo de agressao.

- Teoria 2 – ‘Eriksson na realidade era apenas depresivo’. Esta teoria apresenta ‘Homem Tranquilo’ Eriksson nao como uma pessoa calma mas catatónica, pela quantidade industrial de drunfes que lhe metíam por aquela boca dentro. No entanto, esta teoría é uma absoluta calúnia, pois a reputaçao do departamento médico do FC Porto é intocável. Tao intocável como as cabeças da maioría dos jogadores quando começam a perder cabelo ainda em idade de infantis. Teoría rejeitada e processo em tribunal.

- Teoria 3 – ‘ Eriksson estava morto’. Esta teoria é de todas a mais verosímil. Mais: Meszaros, o Huno sabe de fonte segura que a contrataçao de Eriksson constitui mais uma infame cabala orquestrada pela Camorra Sueca de tráfico de jogadores de futebol, responsável pelos fenómenos Martín Pringle e Hans Eskillson (prometido para um próximo blog) a qual Meszaros nao vai parar de denunciar. Sabemos que o Sr. Lars Eriksson, cidadao sueco e vendedor de electrodomésticos, foi comprado por um Agente FIFA a uma agencia funeraria (para ver até onde chegam os tentáculos deste polvo) depois de ter perecido por enfarte de miocárdio e vendido ao FC Porto como jogador de futebol. A trama foi tao bem orquestrada que ninguém desconfiou o facto de ter sempre alguém a dar-lhe pancaditas nas costas ou o seu agente ligar ao treinador para nao o pôr a jogar nos dias mais ventosos.

Apenas Vale e Azevedo, o Gil y Gil português, conseguiu detectar a tempo mais uma maquiavélica maquinaçao da Camorra Sueca, quando lhe tentaram vender o ponta de lança Rushfeldt, que na realidade era um boneco insuflável. Ladrao que apanha ladrao, também devia ter 100 anos de perdao. A justiça nao foi feita, Dr. Azevedo. E por isso, a Camorra Sueca anda por aí...



Ps. O facto deste mail nao ter alguns acentos é a prova cabal de que a Camorra Sueca tenta a todo o custo boicotar a nossa missao de esclarecer a verdade.

29.11.04

Walker, o Ranger do Bessa

‘Dêem-me uns pítons de alumínio, um par de caneleiras e uma colt .45 e até divido uma bola com o Valtinho.’
Férenc 4:11

Era uma vez um forasteiro. Viajou de um País distante para tentar construir a sua vida, numa terra para ele desconhecida, inóspita e dura, como tantos aventureiros que amuraram na nossa costa. De Skoda a Pitico, de Décio António a Voynov, todos tinham a mesma ilusão: Obter fama, ganhar fortuna e engatar uma gaja boa que trabalhasse numa loja de roupa da baixa.

Chegou ao faroeste do futebol português, deficitário de lei mas excendentário de ladrões de cavalos. Nas margens do Douro encontrou o seu refúgio. O Bessa era como uma pequena cidade sem ordem, desmandada e desgovernada, tornando-se um alvo extremamente vulnerável ao saque dos 2 pontos por quem o visitasse. Phil Walker rápidamente entendeu o seu destino: Impôr a sua lei, criar disciplina e ganhar o respeito dos outros bandos. Custe o que custasse.

Pegou nuns quantos delegados e pôs-se a organizar o forte. O Ranger Walker tinha que impôr a ordem. O meio do campo era o seu rancho, mas o seu território não tinha fronteiras. Em momentos de aflição, era ele quem dava o grito de alerta, impulsando a revolta dos seus fiéis delegados. Em alturas de tranquilidade, permitia aos seus vaqueiros uns copos no saloon e uns passitos de Cacan, mantendo-se ele de vigília.

O seu brilhantismo estava apenas na sua estrela de xerife, na sua liderança. Não era o mais rápido, o mais forte ou mais genial. Também não fazia falta. Era preciso um atirador furtivo para dar cabo de um par de coiotes, chama-se o Ricky, que até se misturava bem com a escuridão. Fazia falta um batedor, havia o Marlon Brandao que se enviezava pelos montes adversários, abrindo caminho para o resto do bando. O trabalho exigia um capanga de força bruta, ali estava o Nogueira, que até enganava bem com o seu ar de intelectual de festa do avante, mas que na altura de afiambrar era um verdadeiro skinhead. E até havia um par de lugares tenentes, Agatão e Rui Casaca, que lhe davam uma boa ajudinha na altura de reunir e avivar as tropas. Mas o chefe da banda era ele. O descendente do Bobó, de dreadlocks ao vento.

O mito nasceu e correu mundo. Dizia-se dele que quando alguém sofria uma entrada sua a pés juntos, ficava com a marca dos pítons para sempre cravada na pele, uma cabeça de gado mais da sua manada, marcada a ferro quente. Dizia-se que o seu grito de mando era tão poderoso que até deslocava as balizas, razão pela qual Ricky marcava golos. Dizia-se até que o segredo da sua pujança e energia estava no seu rasta aparentemente descuidado, o que até tinha um certo fundo de verdade, pois no seu rasta guardava sempre uma sandes de torresmo e uma mini-preta para quando lhe faltavam as forças. O rumor é a força motora do nascimento de um mito. Mas o mito só nasce se houver um embrião de verdade. E a gente do Bessa conhecía-a.

E ainda hoje para os lados da Boavista, nessas solarengas tardes de Domingo, se pode ouvir o som de uma harmónica triste, como chamando o velho vaqueiro. E nós que nos habituámos a vê-lo, de dreadlocks ao vento, olhamos para o pôr do sol e, escutando essa balada saudosista, sentimo-nos felizes: Sempre é melhor o som de uma harmónica do que a voz do Jorge Gabriel pelo sistema de som de um estádio qualquer.


23.11.04

A escala de Maside

‘ O primeiro inventor da pressao alta foi Anthímio de Azevedo’
Férenc 2:10

‘Senhores e senhoras espectadores do topo sul, por questoes de segurança, por favor, desloquem-se para a lateral, pois o Vitoria vai atacar na segunda parte para esse lado’.

Após as solicitaçoes de muitos clubes, da protecçao civil e da intervençao da Procuradoria Geral da República, a FPF viu-se obrigada a tomar esta medida de aviso aos espectadores como precauçao em cada jogo do Vitória de Setúbal e, mais tarde do Sporting.

Tudo porque, a extremo direito jogada o verdadeiro terramoto das bancadas: Rui ‘Richter’ Maside.

‘Richter’ Maside começava o jogo enconstado á linha. ‘ Rui’ dizia-lhe o Mister, ‘poe-te do lado de dentro da linha. É o lado onde estao os outros jogadores todos. Sim, os que estao de pé e equipados como tu’. E ía sempre em frente. Ás vezes passavam-lhe a bola, que se embrulhava nos pés e ficava para trás, mas o Rui continuava a correr. Outras vezes nem lhe passavam a bola, mas o Rui continuava a correr.

Mesmo com a sua quase completa inaptidao para ter a bola nos pés, até se podía dizer que era um extremo perigoso. Perigoso para a integridade física do adversário. Mas os danos eram mínimos pois quando começava a correr os defesas saíam da sua frente e deixavam-lhe o caminho livre. Os defesas e também os fiscais de linhas, os fotógrafos, os apanha-bolas e até o público.

Alguns estádios reforçaram a protecçao das bancadas com barras de aço trazidos directamente da Siderurgia Nacional, para evitar danos na estrutura. Outros estádios já foram construídos usando materiais e tecnologia anti-Maside.

Alvalade e Bonfim, no entanto, adaptaram-se tecnologicamente de modo a conseguir mante-lo mais ou menos dentro do campo sem terem um carro preparado na doca para o trazer ao estádio de cada vez que caía ao rio durante um jogo de futebol: A idéia consistia em revestir os topos do estádio com umas molas almofadadas, para que cada vez que Maside embatesse contra as bancadas fizesse ricochete para trás, mantendo-o sempre em jogo e evitando gastos em portoes novos.

Apesar de todas as críticas que o denominavam de verdadeiro desastre natural, os seus méritos foram reconhecidos pelo Sporting, dando a Rui ‘Richter’ Maside um lugar na nova história do clube, tendo um papel importante na demoliçao do antigo Estádio de Alvalade.

‘Richter’ Maside nao era um artista, um virtuoso, um brinca-na-areia. Era uma força da Natureza, indomável como um Dani depois das 10 da noite, como um Vítor Manuel a dirigir a sua equipa a partir do banco de suplentes, ou um Isidoro a distribuir cartoes. Ainda assim dizem as crónicas que houve um jogo em que conseguiu chutar a bola e fazer um cruzamento. Para as bancadas, mas também nao se pedem milagres. Mas foi só um jogo.

22.11.04

Uma frase do Mestre I

‘E um dia Vítor Baía, o pequeno apanha-bolas, estendeu a bola a Borota e ao vê-lo encaminhar-se para os postes, com admiraçao disse para si mesmo: Um dia quero ser como tú... ’
Férenc 2:22

Uma frase do Mestre:
‘ Luiz Fernando... já jogou na selecçao do Brasil... É portanto, brasileiro’
José Nicolau de Melo

Mestre, és o Pietra dos comentadores.

19.11.04

Agora é que fodemos isto tudo

Apenas uma palavra: Leónidas.

Quando fazes pop, já não há stop

‘Nem todos os suecos são altos, louros e toscos. Alguns são pretos’
Férenc 2:22

E um dia alguém acorda de manhã, com uma ressaca do caneco depois de uma noite de maluquice, sai de casa para comprar gurosans, e, de mal com o Mundo, olha para o primeiro gajo que vê na rua e diz: ‘Vou fazê-lo jogador de futebol e vendê-lo á equipa do Colombo’. Não sabemos se a história se passa exactamente assim, mas este fenómeno de transformação instantânea de gajos que passam na rua em jogadores de futebol, é real no nosso universo futebolístico e repete-se regularmente embora de forma não periódica. Tipo eclipse da lua. Assim se explica o surgimento de tantos jogadores como Eskilsson, Uribe, King, Escalona, Machairidis ou Walter Paz. Um dos ex-líbris do fenómeno pop-players, foi, no entanto, Martín ‘Bicho-Pau’ Pringle.

Reza a lenda que ‘Bicho-Pau’ Pringle foi descoberto enquanto entregava pizzas na Suécia. Chega a casa de um Agente FIFA:

tlim tlão
- Quem é?
- Telepizza, Sáxavor. São 2 familiares de rena com anchovas, não é isso chefe?
- É sim, obrigado.
- Ora muito bem. Aqui tem um anãozinho ajudante do Pai Natal insuflável, ofertinha da casa e um folheto anti-suícidio. Sao 43 Euros e 26 centimos, sáxavor.
- Greta! Ó Greta, dá lá o dinheiro pra pagar ó señor (Pausa). Aquí tá.
- Ó chefe, só tem notas de 50 Euros? Na tem trocado?
- Ó Greta, não tens trocado pró senhor? (Pausa) Ó amigo, desculpe lá mas não tenho.
- Chefe, isto assim na pode ser. Só posso aceitar trocado. Se na tem trocado na lhe posso deixar as pizzas.
- Entao mas o que quer que lhe faça? Eu não tenho trocado, só tenho essa nota.
- Desculpe lá, mas as regras sao as regras. Na há trocado na há pizza.
- Entao mas a gente nao pode arranjar uma maneira de dar a volta a isto? Olhe lá, voçê já pensou em ser jogador de futebol?

E foi assim.

A meio da peladinha do primeiro treino, o seu treinador já o pôs a jogar como ponta-de-lança, pois quando mais longe da própria baliza perdesse a bola, menor sería o estrago. Mas o mais surpreendente na carreira de ‘Bicho-Pau’ Pringle no desporto-rei, onde ficou conhecido por coisa nenhuma, não foi ter chegado á equipa do Colombo, mas sim o facto de ainda hoje continuar a ter contratos de futebol profissional. Isto leva a pensar que a história-lenda de ‘Bicho-Pau’ Pringle não está muito bem contada: Ele tería que levar, no mínimo, três pizzas de rena com anchovas e não apenas duas...




18.11.04

Fado da Moda afro-disco da Buraca

‘Uma palestra do Artur Jorge depois de um murro do Sá Pinto. Isso sim, é poesia’
Férenc 19:19


Do outro lado da circular
Quando a equipa era popular
Existiu fenómeno sem igual.
Expoente de idolatração
Amado pela multidão
O verdadeiro ídolo nacional

Não deslumbrava pela subtileza
Nem pelo comando da defesa
Muito menos pelo rigor do passe.
Deslumbrava pela figura,
Pelo seu conceito de estética pura
Que o levitava a outra classe

Era aquela enorme cabeleira
Que tapava a baliza inteira
Alvo de admiração e desejo
E aquele bigode massiço
Gordo, farfalhudo e roliço
De uma sexualidade que eu invejo

Não era um futebolista, era um revolucionário
Um lírico, um visionário
Mais que um génio, um profeta
Um herói desta nação
Ïcone de uma geração.
Gritemos todos bem alto: Nao te esqueçeremos, Minervino Pietra!


17.11.04

Paulo vs. Manuela

‘Nunca te metas com um extremo de raíz’
Férenc 14:31


Este foi um dos melhores momentos da televisão portuguesa, comparado apenas a... Não. Foi mesmo o melhor momento da televisão portuguesa.

Paulo Futre, acabado de chegar á equipa do Colombo, vindo do Ol. Marselha, para iniciar a segunda de três fases da sua reforma, é o convidado especial de Manuela Moura Guedes no Jornal da Noite da TVI. Horário Nobre. E merecido.

Paulo Futre tem aquí uma demonstração inquestionável de que mantinha o mesmo jogo de cintura que levou tantos rins ás mesas de operações para tirar os nós. Á Vado.

Manuela: ‘Paulo, quanto ganhas?’
Paulo: ‘Bem Manuela, isso é algo que não te vou dizer aqui.’
(Atenção ao sotaque, pois é imprescindível. Tem que ser lido com a entoação de quem nasceu no Montijo, partilhou parte da sua vida com Gil y Gil e tem um porche amarelo canário)
Manuela: Paulo, reconheces que é algo que todos os espectadores têm curiosidade de saber e que tem sido alvo de bastante especulação.
Paulo: ‘Bem Manuela, se me disseres quanto ganhas tu, digo-te quanto ganho eu’
Manuela (resposta imediata, olhando-lhe nos olhos como quem diz ‘ vê lá como te safas desta’): ‘Eu ganho 300 contos’.
Paulo (surpreendido mas nunca rendido): ‘ Pois eu ganho um pouco mais’

Isto sim, é serviço público.


16.11.04

Priiiii!

‘Dá-me seis gajos com bigode, três carecas, um comunista e um vesgo e eu faço-te campeão nacional’
Férenc 16:15

O futebol português já Não é o que era. Se falamos de futebol, ainda mais de futebol português, é imprescindível começarmos com um cliché. Como é que fazem os jogadores brasileiros mal aterram no aeroporto? Ãh? Podíamos utilizar outros, como o octaviano ‘com muito trabalho alcançaremos os nossos objectivos’, o solidário ‘temos um balneário muito unido’, o auto-moderador ‘temos que ser humildes e respeitar o nosso adversário’ ou até o subversivo ‘sabem que não costumo falar dos árbitros, mas...’, mas estes não vêm nada a propósito. Fiquemos com o saudosista ‘O futebol português já não é o que era ‘. A verdade é essa: O futebol português mudou. Não de um dia para o outro, Não de forma espontanea ou por artes mágicas. Nada é permanente, tudo se transforma. Menos Jaime Pacheco.

Não interessa se essa evoluçao foi para melhor ou para pior, isso deixamos para outros gajos. Não interessa se um campo com tartan é melhor ou pior que umas bancadas a poucos metros da baliza, se um estilo afro-disco-dos-suburbios do Minervino é mais sexualmente atraente que um estilo neo-Mohawk de Porfírio, se era mais beto o Bi-Bota (vénia) ou o Diogo, se devíamos manter por cá os nossos Jorge Leitões, Mamedes ou Rui Patacas como antes mantínhamos os nossos Luis Sauras, Crisantos ou Chicos Faria, se preferíamos um Rui Tovar ou um Daniel Bessa. Não estamos aqui para fazer juízos de valor, apesar de ainda termos fotos de Minervino dentro do guarda-fato (o poster do meio. E com o bigode aparadinho).

A verdade é que temos saudades. Temos saudades de ver jogos no peão ao domingo á tarde, do bigode de Vermelhinho, do romantismo de um Feirense que prefere manter a sua identidade lusitana a ganhar jogos, do tempo em que se vendiam garrafas de vidro nos estádios e os árbitros vestiam de preto, do bigode do Vermelhinho, do tempo em que as faltas por trás não levavam amarelo e os guarda-redes defendiam um atraso com as maos, do Bernardino Pedroto a treinar o V. Guimaraes e do bigode do Vermelhinho.

Temos saudades do tempo dos capitaes de aço, como Gregório Freixo, Ferreira da Costa ou Rui França, homens de nobre linhagem que impunham o seu carisma e comandavam as suas tropas, com a eloquência subtil de pastores brasileiros de uma qualquer igreja alternativa, exigindo, em cada domingo, a dízima ao seu rebanho.

Temos saudades quando tínhamos o privilégio de nos deixarmos inebriar pelo exotismo sedutor de uma legião estrangeira digna e meritória, heterogénea mas solidária, onde um Negrete ‘pontapé-de-moinho’ galantemente se enfrentava a um Amarildo ‘coiçe-de-mula’ e um Mladenov compartia o seu protagonismo de estrela internacional com um Mapuata, representando a universalidade do futebol portugues num mundo ainda não globalizado, separado por uma barreira que era muito mais que física.

Temos saudades do Espinho de Quinito, do Guimarães de Autuori, do Boavista de Raul Águas e do Belenenses de Marinho Peres. E de John Mortimore. Ai, John Mortimore... E do morcego-da-paz Octávio, o vigilante da noite, digníssimo Presidente dos Bombeiros Voluntários de Palmela.

Chamem-nos piegas, revivalistas, saudosistas e o caneco. Assumimos! Somos! Mas quem viveu uma apresentação do Eskilsson aos sócios e se não foi dos que se esvaiu em sangue após cortar os pulsos, sabe do que estamos a falar. A diferença entre o futebol português de há 15 anos é que antes os ídolos se chamavam Cabumba, Conhé, Bobó e Babá. Agora chamam-se Ricardo e Não Labreca, Beto e Não Severo, apenas Simao, já sem o Sabrosa. E quem se chama agora Tamagnini? Bem hajam Bodunha, Febras e Edú Brasil, seus incorruptíveis. Houve uma evolução no futebol português, sim. Mas uma evolução quase apenas cosmética mas que não se resumiu apenas ao nome dos jogadores. Cosmética. A substância manteve-se, ou piorou. A diferença entre o futebol português de há 15 anos e o de agora está na genuinidade. Perdeu-se quando se impôs a hipocrisia.

Apenas queremos voltar a uma época em que o futebol era mais puro e mais macho. Apenas queremos voltar a sentir esse encanto, lembrar esses momentos, homenagear esses ídolos e divagar sobre tantas particularidades que o fizeram (e, em alguns casos, ainda fazem- Obrigado Papa) tão sui generis. Nunca te esqueçeremos, Minervino.

Queremos fazer justiça e recordar um futebol português já esquecido, tantas vezes irreconhecido e muitas desprezado. Antes de mais para nós mesmos, para nosso prazer, como os putos caixeiros que preferem divertir-se em toques e fintas, ratas e bicicletas antes de deixar que os outros curtam também um cochinho. A verdade é que somos os donos da bola e só joga quem a gente quiser. E vai pá baliza quem for mais gordo.

E temos saudades do Festas e do Vivas. Mudós cinco, acabós dez. Começó jogo.


Vatatoon, o palhaço preto

‘Se o Moreira de Sá e o Sammy Davis Jr copulassem, nascería sempre um artista’
Férenc 23.11

Este atleta de elite foi um dos grandes ícones da equipa do Colombo dos anos 80. Amado e idolatrado tanto pelos seus incontestáveis dotes futebolísticos como pela arte circense que espalhava por esses relvados, fazia de cada Domingo, um verdadeiro carnaval de Torres.

Vata, franzino, de pose esguía e maleável, era a imagem da pluralidade com que o futebol português presenteava o País. Embaixador do seu continente, mostrava que África era muito mais que o Vale da Amoreira e mao de obra não qualificada na construção civil. Era fantasia, espontaneidade e muito, muito humor. Avançado de estilo repentino (de repente tocava na bola, de repente não; de repente estava de pé, de repente não), ingressou no corso do Colombo para deixar a marca de toda a sua pouca felinidade e muito boa disposição. Chegou juntamente com Miranda, um verdadeiro humpty-dumpty do miolo do terreno, deixando, ambos, as boas gentes poveiras em prantos e desnorteadas pela perda das referências da sua equipa, o seu Yin e Yan, os bastiões do equilíbrio espiritual e étnico do Varzim. A saída de Vata e Miranda para o Colombo deixou os nobres pescadores poveiros orfãos de pai e mãe, perdidos num mar revolto, sem farol nem bússola, num naufrágio do qual tememos, não mais regressaram. Nem mesmo após a chegada de Mendonça, ‘a locomotiva da Muchima’, uma esperança infelizmente efémera e que nunca provou ser descendente da estirpe dos seus míticos antecessores.

Apesar de ter sido o melhor marcador da primeira divisão no ano dos pobrezinhos, o que não deve constituir um grande motivo de orgulho nem o valoriza em muito, Vata distinguia-se mais pelos pormenores cómicos que espalhava pelos relvados que pelos dotes de goleador: a sua posição fetal antes de cair ao tropeçar numa bola, a forma símia como se encavalitava nos centrais para cabeçar num pontapé de canto, os chutos no ar e os trambolhões de mãos levantadas fingindo cair num buraco, levaram milhares de crianças aos relvados e vários milhões a implorar aos pais que os deixassem ficar de pé para esperar pelo Domingo Desportivo, para ver as diabruras do seu herói e rir ás gargalhadas, bem dispostos para começar uma nova semana de escola.

Vata constituiu um exemplo histórico de um artista que consegue pegar em duas artes e interpretá-las de forma totalmente harmoniosa e complementar, em prol do espectáculo e da diversão das massas.

Mas sem dúvida o seu momento mais brilhante e ousado de uma carreira repleta de tropelías, foi quando numa semi-final da taça dos campeões, contra o Marselha, realiza o seu acto mais visionário no show-bizz futebolístico, um daqueles que diferencia um semi-deus que roça o Olímpo de um comum mortal que apenas o sonha. Um Stan Valckx de um Machairidis, um Douglas de um Jamir, um Balakov de um Uribe. De uma forma harmoniosa e poética, transporta toda a sua alma circense para dentro do campo de futebol, qual saltimbanco da grande área, fazendo, num passe de malabarismo com a sua mão, entrar a bola dentro da baliza do Ol. Marselha. Perante a exaltação geral de uma plateia pouco dada a pormenores regulamentares sempre que fossem a seu favor, Tapie agonizava com o atrevimento do pequeno mariola mas apontava num caderninho tudo o que tinha aprendido naquela noite. Ficou famosa a sua frase, anos mais tarde, quando foi preso foi corrupção: 'Que inveja dos gajos do Benfica.. *'

Ainda hoje Vata é relembrado por todos com um sorriso nos lábios, fazendo parte do imaginário infanto-juvenil do folclore desportivo. Conseguiu como só os maiores conseguem, pela sua audácia e genialidade, ser odiado por uns e... enfim... que outros lhe achassem graça.

* Traduçao por Rui Pataca. Obrigado, Rui!