29.11.04

Walker, o Ranger do Bessa

‘Dêem-me uns pítons de alumínio, um par de caneleiras e uma colt .45 e até divido uma bola com o Valtinho.’
Férenc 4:11

Era uma vez um forasteiro. Viajou de um País distante para tentar construir a sua vida, numa terra para ele desconhecida, inóspita e dura, como tantos aventureiros que amuraram na nossa costa. De Skoda a Pitico, de Décio António a Voynov, todos tinham a mesma ilusão: Obter fama, ganhar fortuna e engatar uma gaja boa que trabalhasse numa loja de roupa da baixa.

Chegou ao faroeste do futebol português, deficitário de lei mas excendentário de ladrões de cavalos. Nas margens do Douro encontrou o seu refúgio. O Bessa era como uma pequena cidade sem ordem, desmandada e desgovernada, tornando-se um alvo extremamente vulnerável ao saque dos 2 pontos por quem o visitasse. Phil Walker rápidamente entendeu o seu destino: Impôr a sua lei, criar disciplina e ganhar o respeito dos outros bandos. Custe o que custasse.

Pegou nuns quantos delegados e pôs-se a organizar o forte. O Ranger Walker tinha que impôr a ordem. O meio do campo era o seu rancho, mas o seu território não tinha fronteiras. Em momentos de aflição, era ele quem dava o grito de alerta, impulsando a revolta dos seus fiéis delegados. Em alturas de tranquilidade, permitia aos seus vaqueiros uns copos no saloon e uns passitos de Cacan, mantendo-se ele de vigília.

O seu brilhantismo estava apenas na sua estrela de xerife, na sua liderança. Não era o mais rápido, o mais forte ou mais genial. Também não fazia falta. Era preciso um atirador furtivo para dar cabo de um par de coiotes, chama-se o Ricky, que até se misturava bem com a escuridão. Fazia falta um batedor, havia o Marlon Brandao que se enviezava pelos montes adversários, abrindo caminho para o resto do bando. O trabalho exigia um capanga de força bruta, ali estava o Nogueira, que até enganava bem com o seu ar de intelectual de festa do avante, mas que na altura de afiambrar era um verdadeiro skinhead. E até havia um par de lugares tenentes, Agatão e Rui Casaca, que lhe davam uma boa ajudinha na altura de reunir e avivar as tropas. Mas o chefe da banda era ele. O descendente do Bobó, de dreadlocks ao vento.

O mito nasceu e correu mundo. Dizia-se dele que quando alguém sofria uma entrada sua a pés juntos, ficava com a marca dos pítons para sempre cravada na pele, uma cabeça de gado mais da sua manada, marcada a ferro quente. Dizia-se que o seu grito de mando era tão poderoso que até deslocava as balizas, razão pela qual Ricky marcava golos. Dizia-se até que o segredo da sua pujança e energia estava no seu rasta aparentemente descuidado, o que até tinha um certo fundo de verdade, pois no seu rasta guardava sempre uma sandes de torresmo e uma mini-preta para quando lhe faltavam as forças. O rumor é a força motora do nascimento de um mito. Mas o mito só nasce se houver um embrião de verdade. E a gente do Bessa conhecía-a.

E ainda hoje para os lados da Boavista, nessas solarengas tardes de Domingo, se pode ouvir o som de uma harmónica triste, como chamando o velho vaqueiro. E nós que nos habituámos a vê-lo, de dreadlocks ao vento, olhamos para o pôr do sol e, escutando essa balada saudosista, sentimo-nos felizes: Sempre é melhor o som de uma harmónica do que a voz do Jorge Gabriel pelo sistema de som de um estádio qualquer.


1 comment:

Anonymous said...

Brilhante Post!