19.6.05

Introdução ao para-futebolismo

‘É fácil seres jogador de futebol, mesmo que nada percebas de bola: Arranja um treinador que perceba ainda menos do que tu’
Férenc 1.25

Sem dúvida que o curvilíneo atacante Vinha é uma referência no imaginário de todos os adeptos do futebol nacional e objecto de estudo dissecado de apreciadores de fenómenos para-futebolísticos. Existe, na realidade, uma linha de pensamento (inclusivamente elevado por alguns a estatuto de ciência) - o ‘para-futebolismo’ - que tenta estudar e explicar o aparecimento e a perenidade de figuras e fenómenos absolutamente inverosímeis no seio do desporto-rei. Esta escola de pensamento estuda actualmente casos como os de Remco Boer, Vítor Urbano ou os Irmaos Calheiros. Para nenhum destes casos ainda não existe uma teoria credível e muito poucas esperanças de encontrá-la. No caso de Vinha, no entanto, após vários anos de intensa investigação, conseguiu-se finalmente desenvolver uma teoría sobre a sua existência no futebol, após um estudo exaustivo a paus de vassoura e uma análise genética de um pelo do seu bigode.

Vamos lá ver: Nada tenho contra os cepos. Até acho que os cepos são necessários e dão um colorido particular ao jogo. Mas o facto é que o cepo-Vinha ultrapassa todas as definições de um cepo comum. E o que o difere, para além das suas particulares características morfológicas, é a sua capacidade de, em determinados momentos aflitivos, ter sido um elemento decisivo no resultado do jogo. Para a sua equipa, entenda-se, o que é ainda mais fantástico. A grande surpresa sobre Vinha como jogador de futebol está precisamente na sua utilidade, o que o faz um caso de reflexão.

Estudemos, então, Vinha: Umas andas com bigodinho á malandrim de Chicago dos anos 20, com uma cor timorense e com um ar pachorrento, postura que, aliás, transpunha para o terreno de jogo. Vinha, num relvado, devería sentir-se como um híbrido de pelicano com avestruz no seio de uma família dos batráquios.

Não se reconhece, obviamente, qualquer atributo futebolístico a este desengonçado gigantone de cabeça pequenita. Mas a verdade é que assumía um papel fundamental na estrutura das equipas por onde passou. Depois de algum protagonismo no Salgueiros, destacou-se tanto futebolística como mediáticamente no FC Porto, muito por mérito do Sr. Ivic, esse cientista do 1-0. Ivic tinha desenvolvidas 2 tácticas de jogo para a sua equipa: A primeira assentava num pressing violento e avassalador sobre José Pratas. Esta táctica demonstra um grande conhecimento das características dos seus jogadores e do próprio futebol português, mas que tinha o inconveniente de José Pratas nem sempre apitar jogos do FC Porto. Nesse caso, utilizava-se a táctica alternativa: Não sofrer golos até aos últimos 10 minutos do jogo, quando entra Vinha para o lugar de Domingos. Nesse momento, planta-se o pau no meio da grande área adversária e despeja-se sistemáticamente balões, num chuveirinho frenético, na esperança de alguma bater na cabeça do pau e escapar-se para o lado da baliza. E ás vezes isso acontecia, o Porto ganhava, Ivic ficava mais uma semana no lugar e Vinha dava entrevistas aos jornais.

A prova de que Alves Vinha (sim, ALVES VINHA) era um ser pouco comum, como se a sua aparência fìsica nao fosse suficente, era o facto de nunca ninguém, excepto Ivic, ter sabido para que servia - Fenómeno semelhante passava com outro case-study, Ivailo Iordanov. Por essa razão deve ter jogado em 26,000 posições diferentes no Salgueiros antes de Tomislav ‘Catanic’ Ivic o ter considerado imprescindível para o seu projecto nas Antas e decidir especializá-lo em mamujeiro. E em boa hora o fez, pois desse momento resulta a explicação da grande dúvida dos para-futebolistas: Vinha, na realidade, existe como um ente celestial, uma alma penada, substanciado sob a forma de um xananíco homenzito de aspecto ridículo e com ar de apanhador de fruta, que vagueava pelo estratosfera futebolística á procura do seu rumo, do seu caminho, da razão da sua existência. Alguém um dia lhe deve ter dito que o sentido da sua vida estava no campo. Devia ter querido dizer ‘campo de batatas’, mas ele percebeu mal. E por sorte lhe apareceu Ivic, ele próprio, mais do que uma alma penada, uma alma penosa, em absoluto declínio e degradaçao, que viu nele a luz da sua salvaçao. E foi uma salvaçao mútua: Ivic lá se mantinha no poleiro sem nunca ter tido mérito nem engenho. Mas beneficiando da inaptidao do seu protector, Vinha atingiu uma glória improvável para um bom rapaz pernalta de bigodinho ridículo á mafiosilho de Chicago mas sem arte de jogador de bola. E, por isso, a lenda ‘Vinha’ permanece viva entre todos nós. Tal como permanecem vivos os fenómenos do Entrocamento...

9 comments:

castor said...

vinha está para o futebol, como santana para a política: é o cepo que se põe à frente a ver se pega.

Férenc Meszaros said...

A verdade é que têm um percurso muito semelhante: Alguma relevância em equipas de segunda; inesperadamente dão o salto para clubes de topo; falta de classe para jogar ao mais alto nível; vetados ao ostracismo depois da dispensa. Mas acho que as gajas com quem o Vinha andava devíam ser muito mais sérias...

melga mike said...

e acho que veio para Portugal para jogar basquete... no Atlético.

Férenc Meszaros said...

E se acabou por se dedicar ao futebol,nem imagino como era no basket. Um híbrido de Manute Bol com Mari Alkatiri?

Harry Lime said...

o Iordanov era um jogador porreiro.

Não era um cepo.

Férenc Meszaros said...

Um dos momentos mais marcantes da minha vida como adepto do Sporting foi ver o búlgaro Iordanov, capitão da equipa do Sporting, subir na escada magirus até ao alto do Marquês para enfiar o cachecol no leão. O homem era um abnegado, mesmo depois da doença, um digno capitão e um gajo que sentia o Sporting como poucos. Tenho um tremendo respeito pelo homem. Mas isso não invalida que, a jogar á bola, não fosse um cepo.

Anonymous said...

A tua prosa tem momentos hilariantes; a homenagem ao Zé António foi mais porreira do que te esforças por (não) mostrar; o homónimo do teu blog vai estar em Alvalade. Eu hei-de voltar para ler.

melga mike said...

A questão relativa ao iorda tem mais que se lhe diga. A qualidade futebolísitica e dedicação como atleta é inegável, o problema do ferenc é mesmo epidérmico, parece-me a mim. Eu também gosto da raça do petit, mas não consigo gostar dele, prantes. Mas reconheço que no caso do iorda era pior, porque ele até parecia ser um mongaloide quase normal, mas depois já não era, como prova o episodio do marquês. A simples existencia do iorda é uma auto-machadada de luva verde e branca naquela velha soberba ceportenguista que leva dias da cunha de sabugosa a tecer considerações sobr eo parque automovel nacional ou soares branco a validar o golo de luisão pensando que era impossivel perder uma final da europeia em casa. Azarito.

Eurico Careca said...

epa, o tipo na se chamava alves vinha, mas sim alves nilo marcos(ou marques) fortes.e chegou a jogar no salgueiros com o irmão , que foi junior no porto fazendo dupla de ataque com um tal sergio conceição...mas isso agora é irrelevante