‘Homem pequenino, ou velhaco ou numero 10’
Férenc 3.62
No meio de tanto matulão
Só o pequenote, atarracado
De rufia finta rente ao relvado
Fazia erguer a multidão
Implora por ele a selecção
O artista mais apreciado
E até no Canadá, o terreno alcatifado
Sente o aroma do seu pitão
Um dia, pensador da fantasia
Outro, maestro da desilusão
Em futebol estéril e desolado
Depois do sopro de magia
Assoma sempre a decepção.
Mas o número 10 é sempre o Vado.
Meszaros, o Huno
Prefiro passar uma rabeta a marcar um golo de antologia Meszaros@no-log.org
20.6.06
2.5.06
The best in the… aaah….pfff…hmmm… street?
‘O maior momento de magia no futebol foi a transformação de um secretário num merengue’
Férenc 4.14
No futebol, não é invulgar ouvirmos histórias de guarda-redes de sucesso que foram encontrados por acaso: Porque um colega se magoa no treino e mais ninguém quer ir para a baliza; porque gostava era mesmo de jogar a numero 10, mas os seus pés têm a mesma destreza que um par de covos para polvos e é bom menino demais para ser central; porque é gordo e ocupa metade da baliza; ou simplesmente o dono da bola quer que seja ele o guarda-redes e toda a gente sabe que o poder do dono da bola só é inferior ao do Pinto da Costa. Enfim, as razões para se começar uma carreira na baliza podem ser muitas e na maioria das vezes têm em comum o factor ‘acaso’, a fortuna que os levou para um destino talvez inesperado. Desconheço se o rapazola que se segue, por debaixo da sua careca a meia haste aparadinha nas margens e escondido atrás do seu bigodinho sempre impecavelmente aparadinho, também foi empurrado para a baliza. Apenas sei que não foi por vocação natural. E a grande questão que se coloca é: Denotando uma capacidade entre os postes própria de uma pessegueiro desbastado, a que se deve o seu nome de guerra?
Artur tem pinta de bancário, mas fazia lembrar o Seaman sem rabicho. Carita oval, meio bochechudo, marcava presença pela sua reluzente meia lua e pelo bem cuidado apêndice capilar que repousava serenamente entre a narigota e a boca. Acho que o que sempre me impressionou nele foi precisamente esse surpreendente mas harmonioso contraste entre a superfície nua que unia as sobrancelhas ao cucuruto da cabeça e a farfalhuda bigodaça. E foi esse mesmo contraste que transportou para campo e que, afinal, marcou para sempre a sua aventura no futebol e no imaginário dos adeptos. Falo-vos de Best (E quem neste momento não deixou cair um sorriso - leve que fosse – de saudade, ligue para o 213610460). Ninguém se esquece do Best!
Best é um daqueles nomes marcantes da história do futebol português, conhecido pela magnificamente irónica contradição entre o seu nome e a sua categoria futebolística e por... nada, por mais nada. Best conseguiu a proeza de, com um nome destes, ter sido anos a fio suplente de figuras míticas como Vladan, Pedro Espinha ou Jorge Silva. Para mais, quando finalmente e já veterano (se é que a definição poderá aceitar-se para o seu caso) começa a jogar regularmente no Tirsense e assiste encostado ao poste, à monumental derrocada do clube da 2a divisão de Honra até aos distritais. Coincidência? Não me parece.
Best, mesmo sem ter feito mais de 30 jogos em 7 épocas na primeira divisão, deixou nome no futebol português. Teria sido do bigodinho e da careca, os dois na mesma cabeça? De ter sido anos a fio suplente eterno de guarda-redes que não o Marco Aurélio? Ou pelo élan de um dia ter sido transferido, ainda júnior, do Vitória de Guimarães para o FC Porto, por troca com o Paulinho Cascavel (sim, esse mesmo) num momento verdadeiramente secretariano? Seja por que razão foi, Artur Silva, mesmo mantendo-se na alta-roda do futebol português durante anos a fio, nunca vingou, nem fez juz ao nome. E a origem da sua alcunha, permanece, entre nós, vulgares espectadores, como um insondável mistério. Mas da história de Best um saber retiramos: Antes de Baroni, Mogroviejo, Mitharski ou Kralj, já Pinto da Costa tinha metido umas rennies no bucho…
Férenc 4.14
No futebol, não é invulgar ouvirmos histórias de guarda-redes de sucesso que foram encontrados por acaso: Porque um colega se magoa no treino e mais ninguém quer ir para a baliza; porque gostava era mesmo de jogar a numero 10, mas os seus pés têm a mesma destreza que um par de covos para polvos e é bom menino demais para ser central; porque é gordo e ocupa metade da baliza; ou simplesmente o dono da bola quer que seja ele o guarda-redes e toda a gente sabe que o poder do dono da bola só é inferior ao do Pinto da Costa. Enfim, as razões para se começar uma carreira na baliza podem ser muitas e na maioria das vezes têm em comum o factor ‘acaso’, a fortuna que os levou para um destino talvez inesperado. Desconheço se o rapazola que se segue, por debaixo da sua careca a meia haste aparadinha nas margens e escondido atrás do seu bigodinho sempre impecavelmente aparadinho, também foi empurrado para a baliza. Apenas sei que não foi por vocação natural. E a grande questão que se coloca é: Denotando uma capacidade entre os postes própria de uma pessegueiro desbastado, a que se deve o seu nome de guerra?
Artur tem pinta de bancário, mas fazia lembrar o Seaman sem rabicho. Carita oval, meio bochechudo, marcava presença pela sua reluzente meia lua e pelo bem cuidado apêndice capilar que repousava serenamente entre a narigota e a boca. Acho que o que sempre me impressionou nele foi precisamente esse surpreendente mas harmonioso contraste entre a superfície nua que unia as sobrancelhas ao cucuruto da cabeça e a farfalhuda bigodaça. E foi esse mesmo contraste que transportou para campo e que, afinal, marcou para sempre a sua aventura no futebol e no imaginário dos adeptos. Falo-vos de Best (E quem neste momento não deixou cair um sorriso - leve que fosse – de saudade, ligue para o 213610460). Ninguém se esquece do Best!
Best é um daqueles nomes marcantes da história do futebol português, conhecido pela magnificamente irónica contradição entre o seu nome e a sua categoria futebolística e por... nada, por mais nada. Best conseguiu a proeza de, com um nome destes, ter sido anos a fio suplente de figuras míticas como Vladan, Pedro Espinha ou Jorge Silva. Para mais, quando finalmente e já veterano (se é que a definição poderá aceitar-se para o seu caso) começa a jogar regularmente no Tirsense e assiste encostado ao poste, à monumental derrocada do clube da 2a divisão de Honra até aos distritais. Coincidência? Não me parece.
Best, mesmo sem ter feito mais de 30 jogos em 7 épocas na primeira divisão, deixou nome no futebol português. Teria sido do bigodinho e da careca, os dois na mesma cabeça? De ter sido anos a fio suplente eterno de guarda-redes que não o Marco Aurélio? Ou pelo élan de um dia ter sido transferido, ainda júnior, do Vitória de Guimarães para o FC Porto, por troca com o Paulinho Cascavel (sim, esse mesmo) num momento verdadeiramente secretariano? Seja por que razão foi, Artur Silva, mesmo mantendo-se na alta-roda do futebol português durante anos a fio, nunca vingou, nem fez juz ao nome. E a origem da sua alcunha, permanece, entre nós, vulgares espectadores, como um insondável mistério. Mas da história de Best um saber retiramos: Antes de Baroni, Mogroviejo, Mitharski ou Kralj, já Pinto da Costa tinha metido umas rennies no bucho…
2.12.05
O Espírito Pré-Natal
‘Pai, quando formos á craia, cagas-me um gelado?’
Mito do menino que trocava os ‘C’s’ pelos ‘P’s’
Nos últimos tempos, os posts do Meszaros têm sido apenas ocasionais e sem a regularidade que desejava. A razão, vou-a revelar:
Quiçás embriagado por um espírito pré-natalício e influenciado positivamente pela moda da solidariedade na qual o futebol adoptou, aqui o Meszaros acha que não é menos do que o Vítor Baía nem que o Figo.
Não, não quero fugir abrir uma fundação nem fugir aos impostos. Quero também sentir o poder do futebol em contrapartidas concretas para as famílias mais desprotegidas e que vão para além das famílias Paixão e Benquerença; Quero sentir que sou uma figura sensível, solidária e socialmente interessada. Enfim, quero que todos pensem que sou boa pessoa e dar uma boa imagem de mim a toda a gente, sem que para isso tenha que me enfiar numa jardineiras ridículas e fazer carinha de acólito simplório de uma paróquia de Amarante.
Por isso, meti-me num bote dos chocos que pedi emprestado ao Aparício e desci pelo mar abaixo, até dar a voltinha, subir um bocadito e encalhar a fateixa ao largo de Moçambique. O meu objectivo: Encontrar o Ali Hassan e dar-lhe uns trocos para o homem finalmente poder dar aos filhos o gelado que não pôde comprar enquanto jogava no Sporting, porque o Bigodes não lhe pagava o ordenado. A sua entrevista aos jornais, na qual quase chorava por não poder satisfazer um desejo tão simples dos seus filhos, comoveu-me. Existem dramas que não se esquecem. E eu, diante deste ex-quase-unha-de-leão, deste sabugo de Alvalade, estendo-lhe a mão e digo-lhe: ‘Ali, compra-lhes um de duas bolas’.
Mito do menino que trocava os ‘C’s’ pelos ‘P’s’
Nos últimos tempos, os posts do Meszaros têm sido apenas ocasionais e sem a regularidade que desejava. A razão, vou-a revelar:
Quiçás embriagado por um espírito pré-natalício e influenciado positivamente pela moda da solidariedade na qual o futebol adoptou, aqui o Meszaros acha que não é menos do que o Vítor Baía nem que o Figo.
Não, não quero fugir abrir uma fundação nem fugir aos impostos. Quero também sentir o poder do futebol em contrapartidas concretas para as famílias mais desprotegidas e que vão para além das famílias Paixão e Benquerença; Quero sentir que sou uma figura sensível, solidária e socialmente interessada. Enfim, quero que todos pensem que sou boa pessoa e dar uma boa imagem de mim a toda a gente, sem que para isso tenha que me enfiar numa jardineiras ridículas e fazer carinha de acólito simplório de uma paróquia de Amarante.
Por isso, meti-me num bote dos chocos que pedi emprestado ao Aparício e desci pelo mar abaixo, até dar a voltinha, subir um bocadito e encalhar a fateixa ao largo de Moçambique. O meu objectivo: Encontrar o Ali Hassan e dar-lhe uns trocos para o homem finalmente poder dar aos filhos o gelado que não pôde comprar enquanto jogava no Sporting, porque o Bigodes não lhe pagava o ordenado. A sua entrevista aos jornais, na qual quase chorava por não poder satisfazer um desejo tão simples dos seus filhos, comoveu-me. Existem dramas que não se esquecem. E eu, diante deste ex-quase-unha-de-leão, deste sabugo de Alvalade, estendo-lhe a mão e digo-lhe: ‘Ali, compra-lhes um de duas bolas’.
31.10.05
A triste história de uma entrada
‘… com a camisola numero 4, Freddy Kruger…’
Férenc 8:42
Futebol rima com sumol. E rima com vibração, espectáculo, emoção, êxtase. Mas também com frustração e dor. Principalmente se eras ponta de lança e estavas marcado por um talhante. Centrais duros, tanto de rins como de coice, andavam por aí ao magote e chegavam aos contentores, depositados num qualquer entreposto sombrio de algum manhoso empresário de jogadores. Nada tenho contra jogadores assim. Até acho que fazem falta. Mas pergunto-me: que razões pode ter alguém para querer mandar, definitivamente, um adversário para o estaleiro? Podia perguntar ao Petit, mas ele se calhar não sabe o que quer dizer a palavra ‘definitivamente’ e ainda levo com o queixo daquela cabeça made in Ilha-da-Páscoa. Eu respondo, Petit, não te chateies: Uma das razões pelas quais não sou jogador da bola, para além da minha inata falta de jeitinho (que como toda a gente sabe não é razão válida – Vide metade dos centrais da equipa do Colombo desde 1990), é saber que se tivesse a sorte de encontrar o Simão num campo, veria o resto do jogo desde o plasma lá do Linhó. Ou um Martelinho, tanto me faz. Ou qualquer outro gajo com uma cara tipo Secretário.
Ora é por isto que não jogo à bola. Mas isto sou eu, gajo consciente e bem formado (para além de giro e bem cheiroso), que nunca levaria alfinetes para um jogo, nunca cortaria as unhas em bico, nem comeria nenhuma gaja da Zara. Pronto, talvez pudesse comer uma gaja da Zara, desde que tivesse chegado há pouco tempo. Mas infelizmente para o Paulo Ribeiro, no futebol, há mais Balacós dos que Nénés.
Esta é uma história lúgubre e infeliz: Paulo Ribeiro (é importante trazer o elemento místico para a conversa, tipo atenuante) nunca foi um gajo com sorte. Ponta de lança da geração de Riade, da fornada de Valido, Morgado, Xavier ou Resende, falhou os seus 15 minutos de fama e barrigadas de riso à pala das folhinhas de menta penderocadas no bigode do professor Queirós, por se ter lesionado com gravidade umas semanas antes do Mundial. Na passagem para sénior, o Sporting não lhe deu lugar na equipa principal e o rapaz lá teve que fazer pela vida. Para o que importa aqui, vamos encontrá-lo em Setúbal, em 1996/97, e, mesmo já não sendo um garoto, a realizar uma boa época, depois de anos a calcorrear divisões inferiores. Titular indiscutível parece que finalmente está a demonstrar aquilo que sempre se julgou que valia. No entanto, a malapata voltou. E de vez.
Se tentarmos pensar em quezílias entre jogadores e entradas de carniceiro, daquelas que só um José Pratas era capaz de deixar passar, das que dão direito a pena de morte em 51 dos 50 Estados Americanos e que até fariam o Dinis levar as mãos à cabeça, há umas quantas que ficam marcadas na nossa memória, tal piton de alumínio em canela nua: Os célebres arrufos de Jokanovic e Latapy, que acabavam normalmente em pernas partidas; os sinais de afecto dentre machos de Paulinho Santos e João Pinto; a mocada do Bento na cara do Manuel Fernandes; os afagos entre Couto e Juskowiak; qualquer jogada de Nogueira, Valtinho ou Lula, por exemplo. A entrada do Acácio ao joelho do Paulo Ribeiro também resiste na minha memória (e com som…), como um dos momentos de mais arrepiante terror do futebol português.
Um Farense-Vitória em Faro. O Paulo Ribeiro, no ataque, cai para o lado do Acácio, que já lhe deu a entender não ter rins nem humor. Mas o rapazola está impertinente e atrevido. Pega na bola e manda-se para a frente de Acácio, tentando passar-lhe a uma distância segura daqueles cotovelos que pesam uns 20 quilos cada um. Mas o monstrengo não está para aturar diabruras. E para acabar de vez com a insolência do catraio, Acácio tira-lhe as medidas. O sangue já lhe fervia nas veias. O calor porventura toldava-lhe as ideias e os poucos neurónios que por ali andavam já estavam mareados de tanta correria. Tanta ousadia, arrogância e descaramento, roçam a falta de educação. Intolerável, a falta de respeito por alguém que corre muito menos. Cego pela humilhação, Acácio vê o meio metro de gente correr na sua direcção, a distância alcançável. Aponta a mira. Baixa a cabeça. Bufa e arrasta o pé direito repetidamente para trás, rasgando a relva, dando balanço. Avança. O sangue raia-lhe os olhos, o ódio inunda-lhe na alma. O petulante já está perto. E Acácio, com respiração presa e a veia do pescoço a latejar, levanta o pé e deita o corpo para trás, num voo arrasador. O reflexo do sol incendeia o piton, o seu brilho a ofuscar todo o estádio, como que obrigando as testemunhas a desviar o olhar do crime que está a uma brisa de acontecer. E então acontece: Acácio no ar, o pé levantado; o pazada na rótula; o grito de dor; os fôlegos presos; a incredulidade antecedendo a indignação. A bota de Acácio tinha voado com a força de um ariete na direcção precisa e premeditada do joelho de Paulo Ribeiro que estava mais perto. O resultado foi o previsto. Paulo Ribeiro agoniza. E é levado para fora do relvado. Para não voltar.
Não sei se foi intenção do central acabar com a carreira do outro. Mas que queria dar-lhe uma arrochada a sério, disso não há dúvida. A carreira de Paulo Ribeiro ficou enterrada naquele lance, mas a do Acácio também. Apanhou uns jogos de suspensão, mas a partir daí a carreira foi-se precipitando, até acabar perdido pelos distritais, lá no clube da terra. Com a mesma dignidade com que bateu no seu adversário.
E hoje, o pobre Paulo Ribeiro prossegue a sua vida de pessoa desafortunada fora dos relvados. Mas pior que ter uma carreira acabada prematuramente e um joelho com mais tarraxas que um móvel do Ikea, é ter uma irmã que é Presidente do clube de fãs oficial do Cristiano Ronaldo. Definitivamente, não é um homem com sorte. Mas podia ser pior: Podia ser Presidente do clube de fãs do Simão Sabrosa.
Férenc 8:42
Futebol rima com sumol. E rima com vibração, espectáculo, emoção, êxtase. Mas também com frustração e dor. Principalmente se eras ponta de lança e estavas marcado por um talhante. Centrais duros, tanto de rins como de coice, andavam por aí ao magote e chegavam aos contentores, depositados num qualquer entreposto sombrio de algum manhoso empresário de jogadores. Nada tenho contra jogadores assim. Até acho que fazem falta. Mas pergunto-me: que razões pode ter alguém para querer mandar, definitivamente, um adversário para o estaleiro? Podia perguntar ao Petit, mas ele se calhar não sabe o que quer dizer a palavra ‘definitivamente’ e ainda levo com o queixo daquela cabeça made in Ilha-da-Páscoa. Eu respondo, Petit, não te chateies: Uma das razões pelas quais não sou jogador da bola, para além da minha inata falta de jeitinho (que como toda a gente sabe não é razão válida – Vide metade dos centrais da equipa do Colombo desde 1990), é saber que se tivesse a sorte de encontrar o Simão num campo, veria o resto do jogo desde o plasma lá do Linhó. Ou um Martelinho, tanto me faz. Ou qualquer outro gajo com uma cara tipo Secretário.
Ora é por isto que não jogo à bola. Mas isto sou eu, gajo consciente e bem formado (para além de giro e bem cheiroso), que nunca levaria alfinetes para um jogo, nunca cortaria as unhas em bico, nem comeria nenhuma gaja da Zara. Pronto, talvez pudesse comer uma gaja da Zara, desde que tivesse chegado há pouco tempo. Mas infelizmente para o Paulo Ribeiro, no futebol, há mais Balacós dos que Nénés.
Esta é uma história lúgubre e infeliz: Paulo Ribeiro (é importante trazer o elemento místico para a conversa, tipo atenuante) nunca foi um gajo com sorte. Ponta de lança da geração de Riade, da fornada de Valido, Morgado, Xavier ou Resende, falhou os seus 15 minutos de fama e barrigadas de riso à pala das folhinhas de menta penderocadas no bigode do professor Queirós, por se ter lesionado com gravidade umas semanas antes do Mundial. Na passagem para sénior, o Sporting não lhe deu lugar na equipa principal e o rapaz lá teve que fazer pela vida. Para o que importa aqui, vamos encontrá-lo em Setúbal, em 1996/97, e, mesmo já não sendo um garoto, a realizar uma boa época, depois de anos a calcorrear divisões inferiores. Titular indiscutível parece que finalmente está a demonstrar aquilo que sempre se julgou que valia. No entanto, a malapata voltou. E de vez.
Se tentarmos pensar em quezílias entre jogadores e entradas de carniceiro, daquelas que só um José Pratas era capaz de deixar passar, das que dão direito a pena de morte em 51 dos 50 Estados Americanos e que até fariam o Dinis levar as mãos à cabeça, há umas quantas que ficam marcadas na nossa memória, tal piton de alumínio em canela nua: Os célebres arrufos de Jokanovic e Latapy, que acabavam normalmente em pernas partidas; os sinais de afecto dentre machos de Paulinho Santos e João Pinto; a mocada do Bento na cara do Manuel Fernandes; os afagos entre Couto e Juskowiak; qualquer jogada de Nogueira, Valtinho ou Lula, por exemplo. A entrada do Acácio ao joelho do Paulo Ribeiro também resiste na minha memória (e com som…), como um dos momentos de mais arrepiante terror do futebol português.
Um Farense-Vitória em Faro. O Paulo Ribeiro, no ataque, cai para o lado do Acácio, que já lhe deu a entender não ter rins nem humor. Mas o rapazola está impertinente e atrevido. Pega na bola e manda-se para a frente de Acácio, tentando passar-lhe a uma distância segura daqueles cotovelos que pesam uns 20 quilos cada um. Mas o monstrengo não está para aturar diabruras. E para acabar de vez com a insolência do catraio, Acácio tira-lhe as medidas. O sangue já lhe fervia nas veias. O calor porventura toldava-lhe as ideias e os poucos neurónios que por ali andavam já estavam mareados de tanta correria. Tanta ousadia, arrogância e descaramento, roçam a falta de educação. Intolerável, a falta de respeito por alguém que corre muito menos. Cego pela humilhação, Acácio vê o meio metro de gente correr na sua direcção, a distância alcançável. Aponta a mira. Baixa a cabeça. Bufa e arrasta o pé direito repetidamente para trás, rasgando a relva, dando balanço. Avança. O sangue raia-lhe os olhos, o ódio inunda-lhe na alma. O petulante já está perto. E Acácio, com respiração presa e a veia do pescoço a latejar, levanta o pé e deita o corpo para trás, num voo arrasador. O reflexo do sol incendeia o piton, o seu brilho a ofuscar todo o estádio, como que obrigando as testemunhas a desviar o olhar do crime que está a uma brisa de acontecer. E então acontece: Acácio no ar, o pé levantado; o pazada na rótula; o grito de dor; os fôlegos presos; a incredulidade antecedendo a indignação. A bota de Acácio tinha voado com a força de um ariete na direcção precisa e premeditada do joelho de Paulo Ribeiro que estava mais perto. O resultado foi o previsto. Paulo Ribeiro agoniza. E é levado para fora do relvado. Para não voltar.
Não sei se foi intenção do central acabar com a carreira do outro. Mas que queria dar-lhe uma arrochada a sério, disso não há dúvida. A carreira de Paulo Ribeiro ficou enterrada naquele lance, mas a do Acácio também. Apanhou uns jogos de suspensão, mas a partir daí a carreira foi-se precipitando, até acabar perdido pelos distritais, lá no clube da terra. Com a mesma dignidade com que bateu no seu adversário.
E hoje, o pobre Paulo Ribeiro prossegue a sua vida de pessoa desafortunada fora dos relvados. Mas pior que ter uma carreira acabada prematuramente e um joelho com mais tarraxas que um móvel do Ikea, é ter uma irmã que é Presidente do clube de fãs oficial do Cristiano Ronaldo. Definitivamente, não é um homem com sorte. Mas podia ser pior: Podia ser Presidente do clube de fãs do Simão Sabrosa.
3.8.05
O Rita Villas-Boas
‘Cola-te aos centrais, segura a bola e tabela com o que entra. Se não consegues, pronto, canta a ‘Telepatia’’.
Férenc 8.28
O Miguel Bruno não é um histórico do futebol. E se algum dia o seu nome ficar gravado nos anais do futebol português é mais certo que seja por razões de nobreza semelhantes á de Luis Campos do que por algum mérito que tenha alcançado. Mas o seu percurso como jogador da bola tem uma particularidade que nao merece ser ignorada e que o podia levar mesmo a estar mencionado em letras pequeninas nalguma contra-página de algum obscuro compêndio de curiosidades futebolísticas. Já lá vamos, já teremos tempo para nos espraiarmos sobre alguém que certamente prefere comer 10 quilinhos de carne de um restaurante chinês do que um bifinho de Alcatra.
Confesso que me enganei com este rapaz quando o vi jogar pela primeira vez. E logo duplamente:
- Uma, porque pensava que até podia ser bom jogador.
- Outra, porque pensei que aquela careca era moda.
Áparte de ter sido certamente devido a um momento de cegueira histérica que não reparei que a minha mãe tinha mudado de canal e que quem estava com a bola era um caniche branquinho, envergonha-me de todas as formas a falta de capacidade de dedução que tive no momento. E também por duas razões:
- Uma, pelo velho adágio popular que diz que juntar dois nomes próprios só fica bem nos cartazes da Festas da Rebordosa, ao lado da foto em que o artista sorridente, dentro da camisa vermelha de golas em bico, fechadas pela gargantilha de prata e com as mãos apoiadas sobre o acordeao, mostra um bocadito dos dentes num sorriso educado de pessoa de bem. Para um jogador de futebol, por razões que se desconhecem, ter dois nomes próprios, salvo raras excepções, nunca dá bom resultado e ainda menos se for avançado. Vide Pedro Miguel.
- A outra é porque ninguém com um pescoço tõo curto consegue ter a mínima noção de estética. Faz parte das leis do universo. Vide Pedro Miguel.
No entanto, da mesma forma que fui eu enganado, vários clubes de futebol também sofreram o mesmo fenómeno de cegueira histérica, o que não é necesariamente um consolo. E tão rápidamente como eu reconheceram o seu erro.
Miguel Bruno, seria provavelmente uma das figuras dos cartazes das Romarias da Senhora da Barrosca, onde seria recebido em apóteose pela multidao de 9 pessoas e 13 emigrantes prontas para ripar a tarde toda ao som do seu orgão Casio, em comboiozitos sem fim. Provavelmente até teria a sua própria vannette, com ‘Miguel Bruno – Artista Musical – Festas e Casamentos’ colado no vidro traseiro, na diagonal, com o número de contacto por baixo. Da TMN, claro. E com sorte ainda o vermelho das letras não estaria carcomido pelo sol. Provavelmente até o deixariam anunciar o lançamento dos foguetes. Quem sabe... Se tivesse tocado o ‘Anel de Noivado’, do Trio Odemira, talvez. Agora ser avançado, jogar entre os centrais, ou mesmo vagabundo descaindo para as alas, vir de trás ou jogar fixo, desequilibrar com um passe de morte, uma finta de corpo, fazer uma tabelinha á entrada da área ou até (Deus!) marcar um golo, pois, isso é que já é mais difícil para quem tem dois nomes próprios.
Por isso Miguel Bruno, como um Vitor Vieira inglório ou um Luis Campos dos 3/4 de terreno, saltimbancava em busca daquela equipa, daquela treinador, que conseguisse, por magia, perenizar alguma qualidade que o chegou a levar, igualmente de forma efémera, ás selecçoes nacionais. Mas depois os piques falhavam, a finta nao saía, o último passe não chegava ao ponta-de-lança. E uma vez mais Miguel Bruno arrumava a trouxa, pegava no ‘diablo’ e arrastava o rafeiro pela corda. Com a mesma esperança do mister que lhe dava um cacifo e acreditava que podia ser desta, Miguel Bruno pululava de terra em terra (como a famosa senhora do título saltava de barra paralela em barra paralela e de jogador do Sporting em jogador do Sporting), calcorreando tudo que fosse equipa que luta para não descer ou para subir, por vezes mais do que uma vez por época, acreditando que era mais do que um medíocre cantor de festas de aldeia que se tinha perdido.
Mas as suas alegrias no futebol foram também efémeras, tal como os momentos de prazer que proporcionava aos adeptos. E depois de ter mamado uns 12 clubes em 9 épocas de sénior e ter conquistado uma mão cheia de arrelias e convites da Brisa para a inauguração de mais um novo troço de auto-estrada, vamos todos fazer um favor ao homem e comprar-lhe uma camisa de cetim preto com os colarinhos bordeados a prateado. Pode ser que vá a tempo.
Férenc 8.28
O Miguel Bruno não é um histórico do futebol. E se algum dia o seu nome ficar gravado nos anais do futebol português é mais certo que seja por razões de nobreza semelhantes á de Luis Campos do que por algum mérito que tenha alcançado. Mas o seu percurso como jogador da bola tem uma particularidade que nao merece ser ignorada e que o podia levar mesmo a estar mencionado em letras pequeninas nalguma contra-página de algum obscuro compêndio de curiosidades futebolísticas. Já lá vamos, já teremos tempo para nos espraiarmos sobre alguém que certamente prefere comer 10 quilinhos de carne de um restaurante chinês do que um bifinho de Alcatra.
Confesso que me enganei com este rapaz quando o vi jogar pela primeira vez. E logo duplamente:
- Uma, porque pensava que até podia ser bom jogador.
- Outra, porque pensei que aquela careca era moda.
Áparte de ter sido certamente devido a um momento de cegueira histérica que não reparei que a minha mãe tinha mudado de canal e que quem estava com a bola era um caniche branquinho, envergonha-me de todas as formas a falta de capacidade de dedução que tive no momento. E também por duas razões:
- Uma, pelo velho adágio popular que diz que juntar dois nomes próprios só fica bem nos cartazes da Festas da Rebordosa, ao lado da foto em que o artista sorridente, dentro da camisa vermelha de golas em bico, fechadas pela gargantilha de prata e com as mãos apoiadas sobre o acordeao, mostra um bocadito dos dentes num sorriso educado de pessoa de bem. Para um jogador de futebol, por razões que se desconhecem, ter dois nomes próprios, salvo raras excepções, nunca dá bom resultado e ainda menos se for avançado. Vide Pedro Miguel.
- A outra é porque ninguém com um pescoço tõo curto consegue ter a mínima noção de estética. Faz parte das leis do universo. Vide Pedro Miguel.
No entanto, da mesma forma que fui eu enganado, vários clubes de futebol também sofreram o mesmo fenómeno de cegueira histérica, o que não é necesariamente um consolo. E tão rápidamente como eu reconheceram o seu erro.
Miguel Bruno, seria provavelmente uma das figuras dos cartazes das Romarias da Senhora da Barrosca, onde seria recebido em apóteose pela multidao de 9 pessoas e 13 emigrantes prontas para ripar a tarde toda ao som do seu orgão Casio, em comboiozitos sem fim. Provavelmente até teria a sua própria vannette, com ‘Miguel Bruno – Artista Musical – Festas e Casamentos’ colado no vidro traseiro, na diagonal, com o número de contacto por baixo. Da TMN, claro. E com sorte ainda o vermelho das letras não estaria carcomido pelo sol. Provavelmente até o deixariam anunciar o lançamento dos foguetes. Quem sabe... Se tivesse tocado o ‘Anel de Noivado’, do Trio Odemira, talvez. Agora ser avançado, jogar entre os centrais, ou mesmo vagabundo descaindo para as alas, vir de trás ou jogar fixo, desequilibrar com um passe de morte, uma finta de corpo, fazer uma tabelinha á entrada da área ou até (Deus!) marcar um golo, pois, isso é que já é mais difícil para quem tem dois nomes próprios.
Por isso Miguel Bruno, como um Vitor Vieira inglório ou um Luis Campos dos 3/4 de terreno, saltimbancava em busca daquela equipa, daquela treinador, que conseguisse, por magia, perenizar alguma qualidade que o chegou a levar, igualmente de forma efémera, ás selecçoes nacionais. Mas depois os piques falhavam, a finta nao saía, o último passe não chegava ao ponta-de-lança. E uma vez mais Miguel Bruno arrumava a trouxa, pegava no ‘diablo’ e arrastava o rafeiro pela corda. Com a mesma esperança do mister que lhe dava um cacifo e acreditava que podia ser desta, Miguel Bruno pululava de terra em terra (como a famosa senhora do título saltava de barra paralela em barra paralela e de jogador do Sporting em jogador do Sporting), calcorreando tudo que fosse equipa que luta para não descer ou para subir, por vezes mais do que uma vez por época, acreditando que era mais do que um medíocre cantor de festas de aldeia que se tinha perdido.
Mas as suas alegrias no futebol foram também efémeras, tal como os momentos de prazer que proporcionava aos adeptos. E depois de ter mamado uns 12 clubes em 9 épocas de sénior e ter conquistado uma mão cheia de arrelias e convites da Brisa para a inauguração de mais um novo troço de auto-estrada, vamos todos fazer um favor ao homem e comprar-lhe uma camisa de cetim preto com os colarinhos bordeados a prateado. Pode ser que vá a tempo.
19.6.05
Introdução ao para-futebolismo
‘É fácil seres jogador de futebol, mesmo que nada percebas de bola: Arranja um treinador que perceba ainda menos do que tu’
Férenc 1.25
Sem dúvida que o curvilíneo atacante Vinha é uma referência no imaginário de todos os adeptos do futebol nacional e objecto de estudo dissecado de apreciadores de fenómenos para-futebolísticos. Existe, na realidade, uma linha de pensamento (inclusivamente elevado por alguns a estatuto de ciência) - o ‘para-futebolismo’ - que tenta estudar e explicar o aparecimento e a perenidade de figuras e fenómenos absolutamente inverosímeis no seio do desporto-rei. Esta escola de pensamento estuda actualmente casos como os de Remco Boer, Vítor Urbano ou os Irmaos Calheiros. Para nenhum destes casos ainda não existe uma teoria credível e muito poucas esperanças de encontrá-la. No caso de Vinha, no entanto, após vários anos de intensa investigação, conseguiu-se finalmente desenvolver uma teoría sobre a sua existência no futebol, após um estudo exaustivo a paus de vassoura e uma análise genética de um pelo do seu bigode.
Vamos lá ver: Nada tenho contra os cepos. Até acho que os cepos são necessários e dão um colorido particular ao jogo. Mas o facto é que o cepo-Vinha ultrapassa todas as definições de um cepo comum. E o que o difere, para além das suas particulares características morfológicas, é a sua capacidade de, em determinados momentos aflitivos, ter sido um elemento decisivo no resultado do jogo. Para a sua equipa, entenda-se, o que é ainda mais fantástico. A grande surpresa sobre Vinha como jogador de futebol está precisamente na sua utilidade, o que o faz um caso de reflexão.
Estudemos, então, Vinha: Umas andas com bigodinho á malandrim de Chicago dos anos 20, com uma cor timorense e com um ar pachorrento, postura que, aliás, transpunha para o terreno de jogo. Vinha, num relvado, devería sentir-se como um híbrido de pelicano com avestruz no seio de uma família dos batráquios.
Não se reconhece, obviamente, qualquer atributo futebolístico a este desengonçado gigantone de cabeça pequenita. Mas a verdade é que assumía um papel fundamental na estrutura das equipas por onde passou. Depois de algum protagonismo no Salgueiros, destacou-se tanto futebolística como mediáticamente no FC Porto, muito por mérito do Sr. Ivic, esse cientista do 1-0. Ivic tinha desenvolvidas 2 tácticas de jogo para a sua equipa: A primeira assentava num pressing violento e avassalador sobre José Pratas. Esta táctica demonstra um grande conhecimento das características dos seus jogadores e do próprio futebol português, mas que tinha o inconveniente de José Pratas nem sempre apitar jogos do FC Porto. Nesse caso, utilizava-se a táctica alternativa: Não sofrer golos até aos últimos 10 minutos do jogo, quando entra Vinha para o lugar de Domingos. Nesse momento, planta-se o pau no meio da grande área adversária e despeja-se sistemáticamente balões, num chuveirinho frenético, na esperança de alguma bater na cabeça do pau e escapar-se para o lado da baliza. E ás vezes isso acontecia, o Porto ganhava, Ivic ficava mais uma semana no lugar e Vinha dava entrevistas aos jornais.
A prova de que Alves Vinha (sim, ALVES VINHA) era um ser pouco comum, como se a sua aparência fìsica nao fosse suficente, era o facto de nunca ninguém, excepto Ivic, ter sabido para que servia - Fenómeno semelhante passava com outro case-study, Ivailo Iordanov. Por essa razão deve ter jogado em 26,000 posições diferentes no Salgueiros antes de Tomislav ‘Catanic’ Ivic o ter considerado imprescindível para o seu projecto nas Antas e decidir especializá-lo em mamujeiro. E em boa hora o fez, pois desse momento resulta a explicação da grande dúvida dos para-futebolistas: Vinha, na realidade, existe como um ente celestial, uma alma penada, substanciado sob a forma de um xananíco homenzito de aspecto ridículo e com ar de apanhador de fruta, que vagueava pelo estratosfera futebolística á procura do seu rumo, do seu caminho, da razão da sua existência. Alguém um dia lhe deve ter dito que o sentido da sua vida estava no campo. Devia ter querido dizer ‘campo de batatas’, mas ele percebeu mal. E por sorte lhe apareceu Ivic, ele próprio, mais do que uma alma penada, uma alma penosa, em absoluto declínio e degradaçao, que viu nele a luz da sua salvaçao. E foi uma salvaçao mútua: Ivic lá se mantinha no poleiro sem nunca ter tido mérito nem engenho. Mas beneficiando da inaptidao do seu protector, Vinha atingiu uma glória improvável para um bom rapaz pernalta de bigodinho ridículo á mafiosilho de Chicago mas sem arte de jogador de bola. E, por isso, a lenda ‘Vinha’ permanece viva entre todos nós. Tal como permanecem vivos os fenómenos do Entrocamento...
Férenc 1.25
Sem dúvida que o curvilíneo atacante Vinha é uma referência no imaginário de todos os adeptos do futebol nacional e objecto de estudo dissecado de apreciadores de fenómenos para-futebolísticos. Existe, na realidade, uma linha de pensamento (inclusivamente elevado por alguns a estatuto de ciência) - o ‘para-futebolismo’ - que tenta estudar e explicar o aparecimento e a perenidade de figuras e fenómenos absolutamente inverosímeis no seio do desporto-rei. Esta escola de pensamento estuda actualmente casos como os de Remco Boer, Vítor Urbano ou os Irmaos Calheiros. Para nenhum destes casos ainda não existe uma teoria credível e muito poucas esperanças de encontrá-la. No caso de Vinha, no entanto, após vários anos de intensa investigação, conseguiu-se finalmente desenvolver uma teoría sobre a sua existência no futebol, após um estudo exaustivo a paus de vassoura e uma análise genética de um pelo do seu bigode.
Vamos lá ver: Nada tenho contra os cepos. Até acho que os cepos são necessários e dão um colorido particular ao jogo. Mas o facto é que o cepo-Vinha ultrapassa todas as definições de um cepo comum. E o que o difere, para além das suas particulares características morfológicas, é a sua capacidade de, em determinados momentos aflitivos, ter sido um elemento decisivo no resultado do jogo. Para a sua equipa, entenda-se, o que é ainda mais fantástico. A grande surpresa sobre Vinha como jogador de futebol está precisamente na sua utilidade, o que o faz um caso de reflexão.
Estudemos, então, Vinha: Umas andas com bigodinho á malandrim de Chicago dos anos 20, com uma cor timorense e com um ar pachorrento, postura que, aliás, transpunha para o terreno de jogo. Vinha, num relvado, devería sentir-se como um híbrido de pelicano com avestruz no seio de uma família dos batráquios.
Não se reconhece, obviamente, qualquer atributo futebolístico a este desengonçado gigantone de cabeça pequenita. Mas a verdade é que assumía um papel fundamental na estrutura das equipas por onde passou. Depois de algum protagonismo no Salgueiros, destacou-se tanto futebolística como mediáticamente no FC Porto, muito por mérito do Sr. Ivic, esse cientista do 1-0. Ivic tinha desenvolvidas 2 tácticas de jogo para a sua equipa: A primeira assentava num pressing violento e avassalador sobre José Pratas. Esta táctica demonstra um grande conhecimento das características dos seus jogadores e do próprio futebol português, mas que tinha o inconveniente de José Pratas nem sempre apitar jogos do FC Porto. Nesse caso, utilizava-se a táctica alternativa: Não sofrer golos até aos últimos 10 minutos do jogo, quando entra Vinha para o lugar de Domingos. Nesse momento, planta-se o pau no meio da grande área adversária e despeja-se sistemáticamente balões, num chuveirinho frenético, na esperança de alguma bater na cabeça do pau e escapar-se para o lado da baliza. E ás vezes isso acontecia, o Porto ganhava, Ivic ficava mais uma semana no lugar e Vinha dava entrevistas aos jornais.
A prova de que Alves Vinha (sim, ALVES VINHA) era um ser pouco comum, como se a sua aparência fìsica nao fosse suficente, era o facto de nunca ninguém, excepto Ivic, ter sabido para que servia - Fenómeno semelhante passava com outro case-study, Ivailo Iordanov. Por essa razão deve ter jogado em 26,000 posições diferentes no Salgueiros antes de Tomislav ‘Catanic’ Ivic o ter considerado imprescindível para o seu projecto nas Antas e decidir especializá-lo em mamujeiro. E em boa hora o fez, pois desse momento resulta a explicação da grande dúvida dos para-futebolistas: Vinha, na realidade, existe como um ente celestial, uma alma penada, substanciado sob a forma de um xananíco homenzito de aspecto ridículo e com ar de apanhador de fruta, que vagueava pelo estratosfera futebolística á procura do seu rumo, do seu caminho, da razão da sua existência. Alguém um dia lhe deve ter dito que o sentido da sua vida estava no campo. Devia ter querido dizer ‘campo de batatas’, mas ele percebeu mal. E por sorte lhe apareceu Ivic, ele próprio, mais do que uma alma penada, uma alma penosa, em absoluto declínio e degradaçao, que viu nele a luz da sua salvaçao. E foi uma salvaçao mútua: Ivic lá se mantinha no poleiro sem nunca ter tido mérito nem engenho. Mas beneficiando da inaptidao do seu protector, Vinha atingiu uma glória improvável para um bom rapaz pernalta de bigodinho ridículo á mafiosilho de Chicago mas sem arte de jogador de bola. E, por isso, a lenda ‘Vinha’ permanece viva entre todos nós. Tal como permanecem vivos os fenómenos do Entrocamento...
6.6.05
Zéntoin
O Zéntoin já merecia a homenagem do Meszaros.
Fomos atrasando e agora temos que fazer uma que não queríamos. Não gosto de homilías dramalhonas e demagogas, por isso pensei em não escrever nada, porque sabia que ia correr o risco de cair num chorradinho sentimental que podía parecer de ocasião. Mas não tenho deixado de pensar que o devía fazer. Porque simpatizava com o homem.
E afinal, é justo, principalmente porque o Zéntoin já tinha a promessa de ver aqui um post a si dedicado. E não era propriamente a elogiá-lo, como não são a maioria dos que vêm aqui parar. Provavelmente sublinharia o seu dom para (não jogar) com os pés e não me esqueceria das suas lustrosas entradas que encadeavam qualquer ponta-de-lança e seria, essa sim, a sua maior arma. Mas também deixaria claro que o Zéntoin entra no meu grupo restrito dos grandes capitães, os á moda antiga, os do amor á camisola, os de comandar quando faz falta (apesar de, e é um mérito adicional, nunca ter sido um Viriato no seu carisma), os de dar a cara quando as coisas correm mal, os que se aprende a admirar não pelo que jogam, mas pela forma profissional como jogam e como se dedicam. É assim que o vou lembrar. E com as suas entradas...
És o primeiro a ter foto no Meszaros, Zéntoin.
25.5.05
A Igreja Meszarista de São Gil Baiano
‘Arranjem-me um lateral que faça todo o corredor e eu ponho-vos a Margarida Prieto a rezar de joelhos’
Férenc 9.43
Aqui não se fala de actualidade. O Meszaros é apenas um blog revivalista. Apesar de vivermos agora, invocamos permanentemente o passado futebolístico nacional, por vezes de forma talibânica, como o d’ ‘os bons velhos tempos’. Mas sem vivermos o que se passa hoje, não poderemos fazer, daqui a uns 10 anos, um post de 885,342,829 palavras a ofender o Simão. Esta história toda para confessar que, posso não ter morrido do coração com as voltaretas hitchckoquianas do campeonato, mas fiquei com os estômago todo cheio de nós. Começou por isso a produzir um camião cisterna de ácidos verdes e viscosos que me inundam, no qual já vivem seres pequeninos que gostam de viver dentro de ácidos verdes e viscosos e que começaram já a escavar umas quantas úlceras. Apenas essa poderá ser a razão desta interminável azia que sinto desde a semana passada e que teve a sua apoteose magistral no Domingo, quando a minha mucosa perdeu definitivamente as temperas e começou a gregoriar-se para o meu estômago numa incontinente produção de ácido clorídrico, estilo Sabry a perder bolas no ataque. Mas pensava já em fazer uma laqueação do estômago a-la El Pibe ‘ex-estomago-de-vaca’, pois quanto mais pequeno é menos se enche, quando me surge uma imagem celestial que surtiu um efeito Guronsan milagroso. O estômago acalmou, aligeirou-se-me este amargo de boca e até já consigo escutar as palavra ‘Colombo’ e ‘orelhas’. Apesar de quando as tento pronunciar apenas me sai a palavra ‘Benquerença’. Se eu tinha dúvidas da sua essência a roçar o divino, este efeito balsâmico converteu-me definitivamente. Vou comprar um armazém de conservas velho e cheio de ratos e vou criar a Igreja Meszarista de São Gil Baiano, o arcanjo Gabriel. Os ratos podem lá ficar.
Exercício: Lembrem-se de 10 grandes jogadores de futebol. Podem ser os que consideram os melhores do Mundo, lá da terra, ou até da vossa rua se não moram lá só gajos de pés tortos como na minha (o Faleiro é da Rua das Oliveiras). Dá igual. Agora digam-me lá quantos desses 10 são laterais. Eu arrisco: Nenhum.
Quando os putos vão aos treinos de captação, de forma geral, a defesa lateral metem sempre os canhotos que não sejam muito jeitosos e os putos mais pequenitos, porreiritos, caladitos, que não levantam muita onda e que quase sempre são filhos de um vizinho do roupeiro ou de um vogal da direcção e que não sabendo dar uma patada na bola, encostam-no ali ao lado para que possa estar mais perto da mãe nos jogos.
Só aí se entende que ostensivos ícones da vulgaridade possam jogar á bola e até ser internacionais ( Aqui vai uma referência especial ao amigo Carlos 'Não gozó' Secretário), num fosso grotesto de categoria com os seus colegas. Generalizo e reconheço que até há excepções, mas isto aplica-se como uma luva ao rapaz que se segue: Gil Baiano.
Chegou ao Sporting lá para 96, com a responsabilidade de substituir um dos capitães, Carlos Xavier e vinha com o rótulo de qualidade da selecção brasileira. Se a selecção brasileira é realmente sinónimo de qualidade então a contrafacção chinesa já imperava em grande nessa altura, pois no mesmo cabaz do Gil Baiano também andaram pérolas como Wilson Gottardo (mais tarde no Marítimo), Antonio Carlos (FC Porto) ou Donizete (esse bandidolas). E chegou caladito como tinha chegado aos treinos de captação, com os seus angelicais caracolitos dourados e os seu sorriso angelical de menino bonzinho, como um arcanjo mulatito, gordico e rechunchudo cheio de asinhas pequeninas que não servem para nada porque o canalhinha tem o cú demasiado gordo. No relvado demonstrava igualmente os seus angelicais dotes de bom rapaz, de angelical sorrisinho nos lábios, movendo-se nas suas angelicais 2 velocidades ( devagarinho até ao meio campo, devagarinho para trás – asas de merda, pois), realizando sempre angelicais boas acções para com os seus adversários, deixando-os passar á sua frente como mandavam as suas boas maneiras, nem nunca entrando duro porque as canaleiras são caras e podiam ficar riscadas.
E enquanto sorria e distribuia bons dias a toda agente, da mesma forma angelical meteram-no num avião e lá se foi embora, com o seu angelical caracolito dourado e com o seu angelical sorrisinho, deixando uma fartura de saudades, particularmente entre os escuteiros do Lumiar, que tanto choraram a sua partida quando com eles cantou o ‘Chegou a hora do adeus, irmãos vamos partiiiiiir’ de uma forma tão serena e angelical á volta da fogueira.
Em Alvalade sempre se acreditou que, sendo um jogador tão vulgar que não servia nem para jogar futebol sem bola no ciclo, o homem só podería mesmo ser um pai-de-santo. Se tinha vindo para fazer um cadomblézito, então tudo bem: a Margarida Prieto tinha a sua capelinha, o Pimenta Machado arranjou o Alexandrino, o Sporting podía ter o Gil Baiano. Eu pessoalmente tinha dúvidas até nos seus poderes místicos. Mas redimo-me pois fui abençoado pelo que terá sido o seu terceiro milagre. O primeiro foi ter chegado á selecção do Brasil. O segundo ter feito 16 jogos em Alvalade. Começem já a canonização. Pela minha parte vou ligar ao Marco Aurélio e montar uma igreja.
Férenc 9.43
Aqui não se fala de actualidade. O Meszaros é apenas um blog revivalista. Apesar de vivermos agora, invocamos permanentemente o passado futebolístico nacional, por vezes de forma talibânica, como o d’ ‘os bons velhos tempos’. Mas sem vivermos o que se passa hoje, não poderemos fazer, daqui a uns 10 anos, um post de 885,342,829 palavras a ofender o Simão. Esta história toda para confessar que, posso não ter morrido do coração com as voltaretas hitchckoquianas do campeonato, mas fiquei com os estômago todo cheio de nós. Começou por isso a produzir um camião cisterna de ácidos verdes e viscosos que me inundam, no qual já vivem seres pequeninos que gostam de viver dentro de ácidos verdes e viscosos e que começaram já a escavar umas quantas úlceras. Apenas essa poderá ser a razão desta interminável azia que sinto desde a semana passada e que teve a sua apoteose magistral no Domingo, quando a minha mucosa perdeu definitivamente as temperas e começou a gregoriar-se para o meu estômago numa incontinente produção de ácido clorídrico, estilo Sabry a perder bolas no ataque. Mas pensava já em fazer uma laqueação do estômago a-la El Pibe ‘ex-estomago-de-vaca’, pois quanto mais pequeno é menos se enche, quando me surge uma imagem celestial que surtiu um efeito Guronsan milagroso. O estômago acalmou, aligeirou-se-me este amargo de boca e até já consigo escutar as palavra ‘Colombo’ e ‘orelhas’. Apesar de quando as tento pronunciar apenas me sai a palavra ‘Benquerença’. Se eu tinha dúvidas da sua essência a roçar o divino, este efeito balsâmico converteu-me definitivamente. Vou comprar um armazém de conservas velho e cheio de ratos e vou criar a Igreja Meszarista de São Gil Baiano, o arcanjo Gabriel. Os ratos podem lá ficar.
Exercício: Lembrem-se de 10 grandes jogadores de futebol. Podem ser os que consideram os melhores do Mundo, lá da terra, ou até da vossa rua se não moram lá só gajos de pés tortos como na minha (o Faleiro é da Rua das Oliveiras). Dá igual. Agora digam-me lá quantos desses 10 são laterais. Eu arrisco: Nenhum.
Quando os putos vão aos treinos de captação, de forma geral, a defesa lateral metem sempre os canhotos que não sejam muito jeitosos e os putos mais pequenitos, porreiritos, caladitos, que não levantam muita onda e que quase sempre são filhos de um vizinho do roupeiro ou de um vogal da direcção e que não sabendo dar uma patada na bola, encostam-no ali ao lado para que possa estar mais perto da mãe nos jogos.
Só aí se entende que ostensivos ícones da vulgaridade possam jogar á bola e até ser internacionais ( Aqui vai uma referência especial ao amigo Carlos 'Não gozó' Secretário), num fosso grotesto de categoria com os seus colegas. Generalizo e reconheço que até há excepções, mas isto aplica-se como uma luva ao rapaz que se segue: Gil Baiano.
Chegou ao Sporting lá para 96, com a responsabilidade de substituir um dos capitães, Carlos Xavier e vinha com o rótulo de qualidade da selecção brasileira. Se a selecção brasileira é realmente sinónimo de qualidade então a contrafacção chinesa já imperava em grande nessa altura, pois no mesmo cabaz do Gil Baiano também andaram pérolas como Wilson Gottardo (mais tarde no Marítimo), Antonio Carlos (FC Porto) ou Donizete (esse bandidolas). E chegou caladito como tinha chegado aos treinos de captação, com os seus angelicais caracolitos dourados e os seu sorriso angelical de menino bonzinho, como um arcanjo mulatito, gordico e rechunchudo cheio de asinhas pequeninas que não servem para nada porque o canalhinha tem o cú demasiado gordo. No relvado demonstrava igualmente os seus angelicais dotes de bom rapaz, de angelical sorrisinho nos lábios, movendo-se nas suas angelicais 2 velocidades ( devagarinho até ao meio campo, devagarinho para trás – asas de merda, pois), realizando sempre angelicais boas acções para com os seus adversários, deixando-os passar á sua frente como mandavam as suas boas maneiras, nem nunca entrando duro porque as canaleiras são caras e podiam ficar riscadas.
E enquanto sorria e distribuia bons dias a toda agente, da mesma forma angelical meteram-no num avião e lá se foi embora, com o seu angelical caracolito dourado e com o seu angelical sorrisinho, deixando uma fartura de saudades, particularmente entre os escuteiros do Lumiar, que tanto choraram a sua partida quando com eles cantou o ‘Chegou a hora do adeus, irmãos vamos partiiiiiir’ de uma forma tão serena e angelical á volta da fogueira.
Em Alvalade sempre se acreditou que, sendo um jogador tão vulgar que não servia nem para jogar futebol sem bola no ciclo, o homem só podería mesmo ser um pai-de-santo. Se tinha vindo para fazer um cadomblézito, então tudo bem: a Margarida Prieto tinha a sua capelinha, o Pimenta Machado arranjou o Alexandrino, o Sporting podía ter o Gil Baiano. Eu pessoalmente tinha dúvidas até nos seus poderes místicos. Mas redimo-me pois fui abençoado pelo que terá sido o seu terceiro milagre. O primeiro foi ter chegado á selecção do Brasil. O segundo ter feito 16 jogos em Alvalade. Começem já a canonização. Pela minha parte vou ligar ao Marco Aurélio e montar uma igreja.
25.4.05
Este gajo tem GPS...*
‘Se tivesse uns pés destes, jogada ás setas á biqueirada’
Férenc 6.79
Eu nao sou um fa particular dos números 10. Talvez seja um recalcamento dos tempos em jogava á bola, na rua. Aí, normalmente, o numero 10 ( ou seja o médio atacante que jogava no centro atrás do gajo mais adiantado – normalmente o Zé Birrolho), era o Faleiro.
Até tínhamos uma modinha para lhe cantar quando o Faleiro tinha a bola: ‘Faleiro, Faleiro, passa a bola, nao sejas caixeiro’, com a música do Quicky Koala Show. Por cada posse de bola cantávamos, pelo menos, 3 vezes. Depois perdia-a. O Faleiro era um artista, a quem passávamos a bola á espera de um lance de génio que humilhasse a defesa contrária ou quando nao sabíamos o que fazer com ela porque nao conseguíamos fintar o gajo que tínhamos á frente. Com o Faleiro nao havia problema. Fintava tudo e todos. Até se fintar a ele mesmo, perder a bola, sofrermos um golo num contra-ataque e termos todos que o mandar pró caralho. Se o Faleiro fosse preto, sería o Sabry. Mas um pouco melhor. A questao toda é que o Faleiro nunca se esforçava para conquistar a bola, nao lutava com a equipa. Apenas a quería ter no pé para fintar e poder marcar a diferença. Ás vezes marcava, muitas outras nao. Porque lhe caíam 3 matuloes em cima e lhe davam uma joelhada na coxa, por trás. Quem marca faltas no futebol de rua??
Talvez tenha ficado complexado, mas sempre achei os números 10 francamente manientos, com pouco espírito de equipa e que a utilidade da sua arte nao é compensada pelas peneiras que têm. Mas gostava do Guetov (alô, alô Algarve Desunited), um dos meus jogadores preferidos. Peneiras? pois tinha. Apesar das peneiras de um búlgaro serem diferentes. Vide Mihailov por exemplo, que apenas a participaçao num Campeonato do Mundo até lhe fez crescer cabelo na careca mais limpa que a do Caccioli.
Em 88, Plamden Guetov chegou ao Portimonense com o estatuto de astro do futebol internacional. Já em 86 tinha estado no México, compartindo tonturas de altitude e chili com carne com grandes vedetas do seu País, como o futuro ex-careca Mihailov, o possante Dimitrov, o ladino Gospodinov e o irritante Kostadinov, pelo que nao sentiu grandes problemas de ambientaçao ao chegar a Portimao e partilhar engates a cabeleireiras camones e sandes de coirato com outras estrelas de igual dimensao como o imponente Flóris, o cerebral Skoda ou o fuçador Cadorin. De facto, Guetov beneficiou da ausência da jovem esperança Stoichkov do Mundial, sancionado pela dura Federaçao búlgara por ter andado á porrada num jogo da taça, para se assumir como titular indiscutível e deixar a sua marca por terras aztecas com um golito contra a Coreia do Sul. O homem até jogou (e perdeu) contra a célebre Argentina campea mundial de Cucciffo, Burruchaga e El Pibe del Estômago-de-Vaca. Assim, a grande questao que se coloca é: Como diabo conseguiu o Portimonense contratar este gajo?? (alô, alô Algarve Desunited)
Como se esperava tornou-se na grande referência da equipa e uma das estrelas do campeonato nacional. Todo o jogo ofensivo dos algarvios era validado pelos pés mágicos do jovem Plamden, obssecado em jogar prá frente e viciado em fazer fazer passes de morte. Mas a sua perdiçao eram mesmo os livres directos. O pobre Plamden, da mesma forma que toda a rapaziada de leste nao resiste a entrar num Lidl, tinha uma inapelável atracçao por bolas paradas em frente (ou mais ou menos) da baliza adversária. Era incontrolável. Olhava pra ela, cabecita de lado, tipo cachorrito que nao percebe o assobio que sai do rabo do seu dono e pensava: ‘Vou ter que te dar uma pázada bem dada, nao?’ Olhando para a bola, enquanto o árbitro se esforçava desumanamente para empurrar uma barreira absolutamente histérica de terror, dava já um passito para trás e para o seu lado direito, enquanto orientava o seu pé esquerdo. E depois, nada: A barreira em pânico, o público adversário resignado, os seus adeptos em júbilo, um passo de balanço e a bola dentro. Matemática pura. O homem era um controlo remoto humano e o seu pé um daqueles carros teleguiados com amortecedores que se vendem no Natal como churros.
Nao era o mais rápido nem o mais agressivo. Tao pouco o mais regular. Nao precisava. Num estilo percursor do Barbosismo (vénia, Chefe), era um génio que podía resolver o jogo de um momento para o outro: através de um regate imprevisível a talhar os rins de um pobre Barny qualquer, de uma abertura impossível que isolava Cadorin na cara de um guarda-redes aflito, do habitual livre orientado pelas coordenadas do seu GPS esquerdo. Ou simplesmente de um míssil á entrada da área, depois de aguentar cinco cargas dos desesperados adversários que iam ficando para trás, impotentes e derrotados, á espero do desfecho previsível.
Até há quem possa considerá-lo um pouco arrogante e pouco solidário dentro do campo. Mas só dizem isso quem nunca viu o Hristo jogar. Mas a verdade é que todos os numeros 10 têm um pouco de Faleiro. Certo é que a sua categoria marcou uma época em Portimao. E os dirigentes algarvios ficaram tal mal habituados que estavam tao convencidos que tinham encontrado o caminho para um filao inesgotável de vedetas. E na época seguinte poem-se a importar contentores de búlgaros (uma moda que se tornou quase nacional), entre os quais Voynov, futuro ponta de lança do Estoril-Praia (a afinidade dos canarinhos com o Algarve, nao é, como se vê, recente), que, tal como os seus companheiros Bezinski e Kachmerov nao fizeram história nenhuma e só fizeram o seu maestro encolher-se de vergonha.
Já em 96, no ocaso da sua carreira vamos encontrá-lo em Chaves, a sua vida uma parábola do costa-a-costa que nunca fez em campo, numa equipa que é uma tentativa frustrada de recuperar os áureos tempos de Radi, Slavkov e Karoglan. Para tal estao uns rapazes bem intencionados como Ottosson, Dacroce ou Quim Machado, cujo único problema que têm é terem que jogar á bola. E Guetov, já cansado e envergonhado por ver isto, decide partir, tentando deixar o seu legado nos pés do espanhol Toniño. Mas já tinha esgotado a sua conta de milagres...
* Grandes Pés, Sóce...
Férenc 6.79
Eu nao sou um fa particular dos números 10. Talvez seja um recalcamento dos tempos em jogava á bola, na rua. Aí, normalmente, o numero 10 ( ou seja o médio atacante que jogava no centro atrás do gajo mais adiantado – normalmente o Zé Birrolho), era o Faleiro.
Até tínhamos uma modinha para lhe cantar quando o Faleiro tinha a bola: ‘Faleiro, Faleiro, passa a bola, nao sejas caixeiro’, com a música do Quicky Koala Show. Por cada posse de bola cantávamos, pelo menos, 3 vezes. Depois perdia-a. O Faleiro era um artista, a quem passávamos a bola á espera de um lance de génio que humilhasse a defesa contrária ou quando nao sabíamos o que fazer com ela porque nao conseguíamos fintar o gajo que tínhamos á frente. Com o Faleiro nao havia problema. Fintava tudo e todos. Até se fintar a ele mesmo, perder a bola, sofrermos um golo num contra-ataque e termos todos que o mandar pró caralho. Se o Faleiro fosse preto, sería o Sabry. Mas um pouco melhor. A questao toda é que o Faleiro nunca se esforçava para conquistar a bola, nao lutava com a equipa. Apenas a quería ter no pé para fintar e poder marcar a diferença. Ás vezes marcava, muitas outras nao. Porque lhe caíam 3 matuloes em cima e lhe davam uma joelhada na coxa, por trás. Quem marca faltas no futebol de rua??
Talvez tenha ficado complexado, mas sempre achei os números 10 francamente manientos, com pouco espírito de equipa e que a utilidade da sua arte nao é compensada pelas peneiras que têm. Mas gostava do Guetov (alô, alô Algarve Desunited), um dos meus jogadores preferidos. Peneiras? pois tinha. Apesar das peneiras de um búlgaro serem diferentes. Vide Mihailov por exemplo, que apenas a participaçao num Campeonato do Mundo até lhe fez crescer cabelo na careca mais limpa que a do Caccioli.
Em 88, Plamden Guetov chegou ao Portimonense com o estatuto de astro do futebol internacional. Já em 86 tinha estado no México, compartindo tonturas de altitude e chili com carne com grandes vedetas do seu País, como o futuro ex-careca Mihailov, o possante Dimitrov, o ladino Gospodinov e o irritante Kostadinov, pelo que nao sentiu grandes problemas de ambientaçao ao chegar a Portimao e partilhar engates a cabeleireiras camones e sandes de coirato com outras estrelas de igual dimensao como o imponente Flóris, o cerebral Skoda ou o fuçador Cadorin. De facto, Guetov beneficiou da ausência da jovem esperança Stoichkov do Mundial, sancionado pela dura Federaçao búlgara por ter andado á porrada num jogo da taça, para se assumir como titular indiscutível e deixar a sua marca por terras aztecas com um golito contra a Coreia do Sul. O homem até jogou (e perdeu) contra a célebre Argentina campea mundial de Cucciffo, Burruchaga e El Pibe del Estômago-de-Vaca. Assim, a grande questao que se coloca é: Como diabo conseguiu o Portimonense contratar este gajo?? (alô, alô Algarve Desunited)
Como se esperava tornou-se na grande referência da equipa e uma das estrelas do campeonato nacional. Todo o jogo ofensivo dos algarvios era validado pelos pés mágicos do jovem Plamden, obssecado em jogar prá frente e viciado em fazer fazer passes de morte. Mas a sua perdiçao eram mesmo os livres directos. O pobre Plamden, da mesma forma que toda a rapaziada de leste nao resiste a entrar num Lidl, tinha uma inapelável atracçao por bolas paradas em frente (ou mais ou menos) da baliza adversária. Era incontrolável. Olhava pra ela, cabecita de lado, tipo cachorrito que nao percebe o assobio que sai do rabo do seu dono e pensava: ‘Vou ter que te dar uma pázada bem dada, nao?’ Olhando para a bola, enquanto o árbitro se esforçava desumanamente para empurrar uma barreira absolutamente histérica de terror, dava já um passito para trás e para o seu lado direito, enquanto orientava o seu pé esquerdo. E depois, nada: A barreira em pânico, o público adversário resignado, os seus adeptos em júbilo, um passo de balanço e a bola dentro. Matemática pura. O homem era um controlo remoto humano e o seu pé um daqueles carros teleguiados com amortecedores que se vendem no Natal como churros.
Nao era o mais rápido nem o mais agressivo. Tao pouco o mais regular. Nao precisava. Num estilo percursor do Barbosismo (vénia, Chefe), era um génio que podía resolver o jogo de um momento para o outro: através de um regate imprevisível a talhar os rins de um pobre Barny qualquer, de uma abertura impossível que isolava Cadorin na cara de um guarda-redes aflito, do habitual livre orientado pelas coordenadas do seu GPS esquerdo. Ou simplesmente de um míssil á entrada da área, depois de aguentar cinco cargas dos desesperados adversários que iam ficando para trás, impotentes e derrotados, á espero do desfecho previsível.
Até há quem possa considerá-lo um pouco arrogante e pouco solidário dentro do campo. Mas só dizem isso quem nunca viu o Hristo jogar. Mas a verdade é que todos os numeros 10 têm um pouco de Faleiro. Certo é que a sua categoria marcou uma época em Portimao. E os dirigentes algarvios ficaram tal mal habituados que estavam tao convencidos que tinham encontrado o caminho para um filao inesgotável de vedetas. E na época seguinte poem-se a importar contentores de búlgaros (uma moda que se tornou quase nacional), entre os quais Voynov, futuro ponta de lança do Estoril-Praia (a afinidade dos canarinhos com o Algarve, nao é, como se vê, recente), que, tal como os seus companheiros Bezinski e Kachmerov nao fizeram história nenhuma e só fizeram o seu maestro encolher-se de vergonha.
Já em 96, no ocaso da sua carreira vamos encontrá-lo em Chaves, a sua vida uma parábola do costa-a-costa que nunca fez em campo, numa equipa que é uma tentativa frustrada de recuperar os áureos tempos de Radi, Slavkov e Karoglan. Para tal estao uns rapazes bem intencionados como Ottosson, Dacroce ou Quim Machado, cujo único problema que têm é terem que jogar á bola. E Guetov, já cansado e envergonhado por ver isto, decide partir, tentando deixar o seu legado nos pés do espanhol Toniño. Mas já tinha esgotado a sua conta de milagres...
* Grandes Pés, Sóce...
8.4.05
Declaraçao Magiar III – Todos temos um pouco de Gil
‘O que importa é ter um espírito jovem. Como o Mantorras’
Férenc 9.00
Em nova ausencia do espaço blogosférico, partimos desta vez para a mítica terra de Angola, tao presente no imaginario do povo portugués, tanto pela sua fertilidade em lagostas e doenças hemorrágicas como em grandes esperanças futebolísticas inconsequentes como um Mendonça, um Paulo Silva ou um Carlos Pedro.
Nao vamos desta vez em busca de novas palancas. Já nos chega espécimenes neolíticos como o desconcertante Abel Campos, o explosivo Paulao ou o locomotor Quinzinho. Aprendemos a liçao.
Vamos sim em busca da fonte da eterna juventude, da qual o campeao mundial sub-20 Gil ou a estrela do futebol Qatari ,Fabrice Maieco (aka Akwá), beberam tao sofregamente e de penalti. Por isso, pegamos num aviao, metemos 50 contos na algibeira e, em Luanda, sem tocar em ninguém, damos um saltinho ao Bairro do Palanca, a caminho da Viana e em 2 horas chamamos-nos Artur, nascemos em 1987 e pró ano ainda vamos ser campeoes europeus de esperanças. Na mesma equipa dos nossos filhos...
Férenc 9.00
Em nova ausencia do espaço blogosférico, partimos desta vez para a mítica terra de Angola, tao presente no imaginario do povo portugués, tanto pela sua fertilidade em lagostas e doenças hemorrágicas como em grandes esperanças futebolísticas inconsequentes como um Mendonça, um Paulo Silva ou um Carlos Pedro.
Nao vamos desta vez em busca de novas palancas. Já nos chega espécimenes neolíticos como o desconcertante Abel Campos, o explosivo Paulao ou o locomotor Quinzinho. Aprendemos a liçao.
Vamos sim em busca da fonte da eterna juventude, da qual o campeao mundial sub-20 Gil ou a estrela do futebol Qatari ,Fabrice Maieco (aka Akwá), beberam tao sofregamente e de penalti. Por isso, pegamos num aviao, metemos 50 contos na algibeira e, em Luanda, sem tocar em ninguém, damos um saltinho ao Bairro do Palanca, a caminho da Viana e em 2 horas chamamos-nos Artur, nascemos em 1987 e pró ano ainda vamos ser campeoes europeus de esperanças. Na mesma equipa dos nossos filhos...
4.4.05
Manifesto Anti-Dantas. Ou o homem que nao devía estar lá.
'Falópio, que sopras tu?'
Férenc 7.54
Permito-me neste blog fazer a denúncia de um factor que, na minha opiniao, contribui decididamente para o declínio do futebol nacional e o afastamento dos espectadores dos estádios. Nao falo da falta de credibilidade das instituiçoes do futebol, de nos obrigarem a ver equipas cheias de Juanicos ou de treinadores que fazem o ‘cattanacio’ parecer o uma avalancha de futebol de ataque. Falo sim, de algo muito mais sério e ofensivo, que nos atinge muito mais os nervos que os comentários do Alder Dante: Falo do Homem do Trompete.
Nao importa a intensidade do jogo, a imprevisibilidade do marcador, a exaltaçao das massas. Só me importa aquele ‘Y viva España’ impróprio e irritante que o filha-da-mae do bucha nao pára de me fazer entrar pelos ouvidos dentro até á agonia. E dentro do campo só passo a ver pitinhas vestidas de sevilhanas e maquilhadas com baldes de tinta, a tocar castanholas em ritmos frenéticos e absolutamente possessos.
Reconheço que me falta a lucidez para ter uma atitude madura e sensata, como chegar ao pé dele e desancá-lo á porrada, como faría qualquer homem a sério. Ou arranjar um bando duns 30 gajos, metermo-nos á volta dele com dois trompetes cada um e assoprá-los até dilatarmos o olho do cú, só pra ver se o canalha gosta.
Porquê esta mania doentia de ter sempre, pelo menos, um gordo seboso e de bochechas rosaditas á porco a apitar pradentro daquilo, infatigável, durante todo o jogo? Porque é que nao se lembram de levar antes uma pandeireta ou uma harpa? Até compreendo que alguns jogos, tanto pelo espectáculo como pelos intervenientes, possam ser confundíveis com uma corrida de touros, até porque anda por lá o Maurício do Vale, mas onde é que estao os trajes de luzes? Ah?
Além de ser um som paranóicamente incómodo, com livre-trânsito para destruir qualquer sistema nervoso central e uma violaçao permanente a todas as leis da poluiçao sonora e do bom gosto, é igualmente um atentado á saúde pública de todos os espectadores e intervenientes do espectáculo (á excepçao do Joao Malheiro e do José Guilherme Aguiar, que sao como as baratas), por ser um poderoso meio de difusao contínua do mau hálito do balofo, seguramente fértil em CO2, polisaturados e francesinhas. Como espectador de futebol, sinto-me violado e agredido pela imposiçao perpétua a que nos obriga este chupador invertido, que me persegue tanto no estádio como em casa. E se já nao bastasse a minha mae ter-se rejeitado a passar de 10 em 10 minutos apregoando queijadas de Sintra enquanto estou refastelado no sofá a ver a bola, vejo-me obrigado a escolher entre a dor pungente inflingida pelo trompete do terror ou a de nao escutar os doutos comentários de um Vítor Manuel ou de qualquer dos gurus da RTP. É inaguentável. Ser espectador de futebol devía ser um ofício subsidiado pelo Estado...
Férenc 7.54
Permito-me neste blog fazer a denúncia de um factor que, na minha opiniao, contribui decididamente para o declínio do futebol nacional e o afastamento dos espectadores dos estádios. Nao falo da falta de credibilidade das instituiçoes do futebol, de nos obrigarem a ver equipas cheias de Juanicos ou de treinadores que fazem o ‘cattanacio’ parecer o uma avalancha de futebol de ataque. Falo sim, de algo muito mais sério e ofensivo, que nos atinge muito mais os nervos que os comentários do Alder Dante: Falo do Homem do Trompete.
Nao importa a intensidade do jogo, a imprevisibilidade do marcador, a exaltaçao das massas. Só me importa aquele ‘Y viva España’ impróprio e irritante que o filha-da-mae do bucha nao pára de me fazer entrar pelos ouvidos dentro até á agonia. E dentro do campo só passo a ver pitinhas vestidas de sevilhanas e maquilhadas com baldes de tinta, a tocar castanholas em ritmos frenéticos e absolutamente possessos.
Reconheço que me falta a lucidez para ter uma atitude madura e sensata, como chegar ao pé dele e desancá-lo á porrada, como faría qualquer homem a sério. Ou arranjar um bando duns 30 gajos, metermo-nos á volta dele com dois trompetes cada um e assoprá-los até dilatarmos o olho do cú, só pra ver se o canalha gosta.
Porquê esta mania doentia de ter sempre, pelo menos, um gordo seboso e de bochechas rosaditas á porco a apitar pradentro daquilo, infatigável, durante todo o jogo? Porque é que nao se lembram de levar antes uma pandeireta ou uma harpa? Até compreendo que alguns jogos, tanto pelo espectáculo como pelos intervenientes, possam ser confundíveis com uma corrida de touros, até porque anda por lá o Maurício do Vale, mas onde é que estao os trajes de luzes? Ah?
Além de ser um som paranóicamente incómodo, com livre-trânsito para destruir qualquer sistema nervoso central e uma violaçao permanente a todas as leis da poluiçao sonora e do bom gosto, é igualmente um atentado á saúde pública de todos os espectadores e intervenientes do espectáculo (á excepçao do Joao Malheiro e do José Guilherme Aguiar, que sao como as baratas), por ser um poderoso meio de difusao contínua do mau hálito do balofo, seguramente fértil em CO2, polisaturados e francesinhas. Como espectador de futebol, sinto-me violado e agredido pela imposiçao perpétua a que nos obriga este chupador invertido, que me persegue tanto no estádio como em casa. E se já nao bastasse a minha mae ter-se rejeitado a passar de 10 em 10 minutos apregoando queijadas de Sintra enquanto estou refastelado no sofá a ver a bola, vejo-me obrigado a escolher entre a dor pungente inflingida pelo trompete do terror ou a de nao escutar os doutos comentários de um Vítor Manuel ou de qualquer dos gurus da RTP. É inaguentável. Ser espectador de futebol devía ser um ofício subsidiado pelo Estado...
22.3.05
Deixem-nos sonhar! - A armada de ébano
‘ Vestidos com as suas peles de leopardo, pegaram nas fisgas e aí foram eles deitar fora a garrafa de coca-cola’
Férenc 3:81
A imprevisibilidade é, sem dúvida, um dos factores que mais atrai no futebol. A atracçao do inesperado, o sedutor charme do inadvertido. A incerteza do resultado de um jogo; a dúvida de se um Vítor Urbano estará a olhar prá defesa ou a antecipar já o contra-ataque; a imprevisibilidade de jogadores como um Pingo do qual nunca se sabe se sai rata ao adversário ou uma desmarcaçao geométrica para o Mike Walsh, de um Chico Faria que nunca se sabe se atira fora ou nem sequer atira, de um Jorge Soares que nunca se sabe quando dá a monumental fífia ou entra directamente á tíbia do adversário, de um Mielcarski que nunca se sabe se próxima vez será uma rotura nos ligamentos ou um estiramento da coxa; E principalmente, a ténue probabilidade teórica de poder haver sempre alguém que corrompa uma homogeneidade instituída – a imprevisibilidade das equipas surpresa, os outsiders.
O outsider é o derradeiro bastiao do romantismo no futebol: O clube que mais ou menos inesperadamente se vê envolvido em objectivos que nao sao inicialmente os seus e que vai tentar ridicularizar os candidatos nos confrontos directos em casa. Tipo ‘self-made man’ nascido do pouco, edificado sobre o seu próprio orgulho e que vai madurando na sua própria humildade. O povo simpatiza com os que se galvanizam e sao capazes de fazer tremer o monopólio capitalista dos soberanos, aqueles que materializam o sonho de que até os Vados podem marcar golos de cabeça. E como paga, o povo trata de criar um míto, que pulula no imaginário popular, deixando o tempo polvilhar com o fermento da nostalgia até se tornar num fenómeno inflamado de dimensoes mais o menos épicas. Alguns destes mítos devíam ser estudados nas aulas de História logo desde o ciclo: O Tirsense de Marcelo, Giovanella e Caetano; o Espinho de Pingo, N’kongolo e Zezé Gomes; o Chaves de Radi, Slavkov e Garrido ou o Portimonense de Cadorin, Nivaldo e Barao. Hoje ficamo-nos pelo Vit. Guimaraes de N’Dinga, N’kama e Basaúla.
Municipal de Guimaraes, 1986. Numa manobra arriscada, o audaz Presidente Machado investe numa pequena revoluçao de uma equipa que, para além de ter ficado no quarto lugar no campeonato anterior, tinha também Bobó. Como sabemos, nao é fácil um homem tomar a decisao de nao querer um Bobó ( desculpem, nao resisti á piada fácil), um Gregório Freixo ou um Teixeirinha. Mas o Presidente Machado estava em noite sim e desata como um louco a contratar homens que fizeram história e marcaram uma geraçao em Guimaraes. Muitos notários quando abriam as portas na segunda-feira tinham filas de pais para registrar os filhos com o nome de Ademir e Nené. Mesmo que fossem meninas. Mas a verdadeira loucura chegou com o grito da hiena, quando o Presidente Machado abre os portoes para um grupo de guerreiros que nos pés traziam as lanças para caçar os sonhos das gentes da terra e na boca uma catrefada de dentes. Algumas más-linguas ignorantes chegaram a difamar que se tratavam dos novos capangas do Presidente Machado, mas eram N’Dinga, N’Kama e Basaula, a armada de ébano. E ao primeiro toque no treino viu-se que tinham algo mais para dar que enxertos de porrada pelas boites de Amarante.
Estas pérolas encaixavam como rodas dentadas na mecânica do extrovertido Peres, um universo de corpos distintos mas complementares, onde, todos juntos, criavam uma harmonia celestial. Onde havía um mágico Ademir, havía um sólido Costeado. Um cerebral Adao era compensado por um irreverente Miguel. Para o matador Cascavel estava um Jesús mais ou menos de ferro. E aquí faço um parentesís: Tenho para mim a teoria ainda nao totalmente desenvolvida, de que Jesus, o Astérix e Meszaros eram o mesmo jogador. Reparai que nunca foram visto lado a lado e o facto de jogarem os dois, um em cada baliza, quando as suas equipas se confrontavam deve-se, obviamente, á sua capacidade de omnipresença. Mas é só uma teoria. Adiante.
E onde entravam as feras africanas? Umas de início, outras durante o jogo. N’Dinga era um cao de caça. Na sua terra antes de jogar á bola devía ter sido fumeiro de folhas de milho ou algo pelo estilo, tal o seu á vontade para secar os adversários. Ainda que o seu raio de acçao no meio campo se limitava á bolinha no centro onde se poe a bola para começar o jogo, precursor do estilo minimalista de Michael Thomas e Paulo Almeida, N’Dinga impôs-se como verdadeiro soba pela capacidade de liderança. Enfiava o seu chapelinho com corninhos e missangas e toda a gente obedecia, enfitiçados pelo seu ‘Ué-lé-lé’ de comando.
Basaúla, pelo contrário, possuía toda a rebeldía e descaramento de um madjé das ruas de Kinshasa. Um gingao de pernas fininhas, o prazer da liberdade no corpo e o atrevimento na ponta da bota. Basaúla, se motivado, empolgava a multidao, engatava todo o estádio e era irresistível para os adversários. Para no jogo seguinte parecer que tinha passado a noite toda nas putas e levado um enxerto de porrada do porteiro. Que, por sinal até podía ser N´Kama...
N´Kama. Ainda hoje estará para descobrir, tal como os adeptos do Guimaraes e todos nós, em que posiçao jogava. E que mais dava? N´Kama era um todo-terreno formidável, que parecía até estar mais confortável a jogar no terreno do Crosse das Amendoeiras em flôr. Os seus pés eram capazes de transformar um passo de kizomba em fandango, mas a sua força fazía uma pegada de caras parecer um lavai-ai. N´Kama era um tanque de coragem e dedicaçao, brio e suor. E chega...
A verdade é que a armada de ébano de Guimaraes, tal como o resto da equipa, marcou uma época. Mas teve o mérito de, p or um lado, escancarar definitivamente os portoes para o exótico, mas deslumbrante e rico filao africano, por onde chegaram magníficos adornos para o nosso campeonato como Mangonga, Makukula Pai, Kipulu, Vata ou Lufemba. Por outro, a personalidade de N’Dinga, o 'yo' de Basaúla e a robustez de N'Kama deram a consistência e o toque de originalidade e acentuaram o brilhantismo de uma equipa que chegou a sonhar com o título, fez furor na Taça Uefa, deixou as gentes da terra a fazer claques como coelhos e o Afonso Henriques a querer voltar a dar porrada á mae. Foi pouco? Bem, é que o Presidente Machado já tinha gasto tudo em luvas com o N’Dinga...
Férenc 3:81
A imprevisibilidade é, sem dúvida, um dos factores que mais atrai no futebol. A atracçao do inesperado, o sedutor charme do inadvertido. A incerteza do resultado de um jogo; a dúvida de se um Vítor Urbano estará a olhar prá defesa ou a antecipar já o contra-ataque; a imprevisibilidade de jogadores como um Pingo do qual nunca se sabe se sai rata ao adversário ou uma desmarcaçao geométrica para o Mike Walsh, de um Chico Faria que nunca se sabe se atira fora ou nem sequer atira, de um Jorge Soares que nunca se sabe quando dá a monumental fífia ou entra directamente á tíbia do adversário, de um Mielcarski que nunca se sabe se próxima vez será uma rotura nos ligamentos ou um estiramento da coxa; E principalmente, a ténue probabilidade teórica de poder haver sempre alguém que corrompa uma homogeneidade instituída – a imprevisibilidade das equipas surpresa, os outsiders.
O outsider é o derradeiro bastiao do romantismo no futebol: O clube que mais ou menos inesperadamente se vê envolvido em objectivos que nao sao inicialmente os seus e que vai tentar ridicularizar os candidatos nos confrontos directos em casa. Tipo ‘self-made man’ nascido do pouco, edificado sobre o seu próprio orgulho e que vai madurando na sua própria humildade. O povo simpatiza com os que se galvanizam e sao capazes de fazer tremer o monopólio capitalista dos soberanos, aqueles que materializam o sonho de que até os Vados podem marcar golos de cabeça. E como paga, o povo trata de criar um míto, que pulula no imaginário popular, deixando o tempo polvilhar com o fermento da nostalgia até se tornar num fenómeno inflamado de dimensoes mais o menos épicas. Alguns destes mítos devíam ser estudados nas aulas de História logo desde o ciclo: O Tirsense de Marcelo, Giovanella e Caetano; o Espinho de Pingo, N’kongolo e Zezé Gomes; o Chaves de Radi, Slavkov e Garrido ou o Portimonense de Cadorin, Nivaldo e Barao. Hoje ficamo-nos pelo Vit. Guimaraes de N’Dinga, N’kama e Basaúla.
Municipal de Guimaraes, 1986. Numa manobra arriscada, o audaz Presidente Machado investe numa pequena revoluçao de uma equipa que, para além de ter ficado no quarto lugar no campeonato anterior, tinha também Bobó. Como sabemos, nao é fácil um homem tomar a decisao de nao querer um Bobó ( desculpem, nao resisti á piada fácil), um Gregório Freixo ou um Teixeirinha. Mas o Presidente Machado estava em noite sim e desata como um louco a contratar homens que fizeram história e marcaram uma geraçao em Guimaraes. Muitos notários quando abriam as portas na segunda-feira tinham filas de pais para registrar os filhos com o nome de Ademir e Nené. Mesmo que fossem meninas. Mas a verdadeira loucura chegou com o grito da hiena, quando o Presidente Machado abre os portoes para um grupo de guerreiros que nos pés traziam as lanças para caçar os sonhos das gentes da terra e na boca uma catrefada de dentes. Algumas más-linguas ignorantes chegaram a difamar que se tratavam dos novos capangas do Presidente Machado, mas eram N’Dinga, N’Kama e Basaula, a armada de ébano. E ao primeiro toque no treino viu-se que tinham algo mais para dar que enxertos de porrada pelas boites de Amarante.
Estas pérolas encaixavam como rodas dentadas na mecânica do extrovertido Peres, um universo de corpos distintos mas complementares, onde, todos juntos, criavam uma harmonia celestial. Onde havía um mágico Ademir, havía um sólido Costeado. Um cerebral Adao era compensado por um irreverente Miguel. Para o matador Cascavel estava um Jesús mais ou menos de ferro. E aquí faço um parentesís: Tenho para mim a teoria ainda nao totalmente desenvolvida, de que Jesus, o Astérix e Meszaros eram o mesmo jogador. Reparai que nunca foram visto lado a lado e o facto de jogarem os dois, um em cada baliza, quando as suas equipas se confrontavam deve-se, obviamente, á sua capacidade de omnipresença. Mas é só uma teoria. Adiante.
E onde entravam as feras africanas? Umas de início, outras durante o jogo. N’Dinga era um cao de caça. Na sua terra antes de jogar á bola devía ter sido fumeiro de folhas de milho ou algo pelo estilo, tal o seu á vontade para secar os adversários. Ainda que o seu raio de acçao no meio campo se limitava á bolinha no centro onde se poe a bola para começar o jogo, precursor do estilo minimalista de Michael Thomas e Paulo Almeida, N’Dinga impôs-se como verdadeiro soba pela capacidade de liderança. Enfiava o seu chapelinho com corninhos e missangas e toda a gente obedecia, enfitiçados pelo seu ‘Ué-lé-lé’ de comando.
Basaúla, pelo contrário, possuía toda a rebeldía e descaramento de um madjé das ruas de Kinshasa. Um gingao de pernas fininhas, o prazer da liberdade no corpo e o atrevimento na ponta da bota. Basaúla, se motivado, empolgava a multidao, engatava todo o estádio e era irresistível para os adversários. Para no jogo seguinte parecer que tinha passado a noite toda nas putas e levado um enxerto de porrada do porteiro. Que, por sinal até podía ser N´Kama...
N´Kama. Ainda hoje estará para descobrir, tal como os adeptos do Guimaraes e todos nós, em que posiçao jogava. E que mais dava? N´Kama era um todo-terreno formidável, que parecía até estar mais confortável a jogar no terreno do Crosse das Amendoeiras em flôr. Os seus pés eram capazes de transformar um passo de kizomba em fandango, mas a sua força fazía uma pegada de caras parecer um lavai-ai. N´Kama era um tanque de coragem e dedicaçao, brio e suor. E chega...
A verdade é que a armada de ébano de Guimaraes, tal como o resto da equipa, marcou uma época. Mas teve o mérito de, p or um lado, escancarar definitivamente os portoes para o exótico, mas deslumbrante e rico filao africano, por onde chegaram magníficos adornos para o nosso campeonato como Mangonga, Makukula Pai, Kipulu, Vata ou Lufemba. Por outro, a personalidade de N’Dinga, o 'yo' de Basaúla e a robustez de N'Kama deram a consistência e o toque de originalidade e acentuaram o brilhantismo de uma equipa que chegou a sonhar com o título, fez furor na Taça Uefa, deixou as gentes da terra a fazer claques como coelhos e o Afonso Henriques a querer voltar a dar porrada á mae. Foi pouco? Bem, é que o Presidente Machado já tinha gasto tudo em luvas com o N’Dinga...
17.3.05
Uma Frase do Mestre II
‘Aprende a falar, Edite Estrela!‘
Ferenc 1.85
Num Portugal- Ucrânia:
"Que grande golo! O público rejubila e canta... Que maravilhoso espectáculo... Podem-me acusar de ser um patrioteiro barato, mas eu estou-me marimbando!".
José Nicolau de Melo
Mestre, também eu canto, rejubilo e tenho orgulho de TÚ!
Ferenc 1.85
Num Portugal- Ucrânia:
"Que grande golo! O público rejubila e canta... Que maravilhoso espectáculo... Podem-me acusar de ser um patrioteiro barato, mas eu estou-me marimbando!".
José Nicolau de Melo
Mestre, também eu canto, rejubilo e tenho orgulho de TÚ!
14.3.05
Carta ao Rei da Espanha
‘ Renegados aqueles que só jogam em contençao e ainda assim perdem’
Ferenc 4.82
‘A V. Alteza Real
O Rei da Espanha
Majestade,
Solicito o V. perdao pela ousadia de nos dirigirmos a Vós. Rogamos, no entanto, que nos conceda o privilégio de continuar a ler esta missiva.
Vimos por este meio, V. Majestade, suplicar que aceite o Sr. Luis Campos, treinador de futebol do Beira-Mar e normalmente do Gil Vicente, como nossa humilde oferenda. Reconhecemos que o V. magnífico País dispoe de todas as infra-estructuras, principalmente morais, para que este excelso exemplar de treinador de futebol da nova geraçao possa demonstrar todas as suas amplas qualidades e traduzi-las em méritos desportivos de (ainda mais) orgulho próprio.
Esta nossa oferta deve-se ao facto de, em Portugal, nao existir nenhum clube capaz de oferecer ao Sr. Campos uma carreira digna e permanente na primeira divisao, tal como o seu trajecto profissional demonstra. Nenhum dos 294 clubes que treinou se esforça por e permanecer na primeira divisao enquanto ele anda por lá. E isto é desagradável para ele, porque nao lhe fazem a vontade e absolutamente desgastante para o seu ego. Diria até que parece que os clubes fazem de propósito.
Também nao existe nenhum jogador que compreenda a sua elevada cultura táctica, pois como publicamente reconhece o próprio Sr. Campos após cada derrota, a sua equipa nunca é capaz de seguir e reproduzir em campo as suas instruçoes. E aí nao existe, como bem compreende V. Majestade, nunca nenhuma responsabilidade do treinador.
O próprio reconhece as suas elevadas competências e qualidades de estratega e líder. Um vencedor nato, imprescindível a qualquer equipa com ansias de vitórias. Infelizmente, em Portugal, nao existem equipas assim, que desejem ver materializadas em vitórias o esforço da dura gestao de recursos mínimos. Nem tao pouco de entender e aceitar os méritos de um prendado orador, capaz de desbravar incansávelmente durante horas, os rudes caminhos da dialéctica e da retórica, com eloquentes discursos sobre ele próprio e as suas qualidades.
Nao se permita, V. Majestade, ludibriar pela sua estatura. Luis Campos é sem dúvida pequenino. Até no alto do seu metro e meio. No entanto, garantimos que cresce alguns metros quando se empoleira nos tacoes da sua auto-estima.
Deste modo, V. Majestade, estamos diante de um homem de, e segundo opiniao do próprio, inegável mérito, pelo qual merece ter uma oportunidade de jeito, já que nas inúmeras que até agora tem tido apenas tem demonstrado uma constrangedora inépcia, inversamente proporcional ao alto reconhecimento que tem ele tem de si mesmo.
Sabendo que nenhum ser humano pode ter-se em tao boa conta sem ter aparentemente nenhuma razao para tal, chegamos á conclusao que o Sr. Campos está a ser prejudicado por viver neste País onde é o seu génio é incompreendido e as suas aspiraçoes limitadas.
Uma vez que já tiveram a amabilidade de receber o Calado, o Edgar e o Joao Manuel Pinto, creemos que gostará ao acolhedor e hospitaleiro povo espanhol receber o Sr. Campos, o qual poderá finalmente provar o seu potencial a gentes que sejam capazes de o reconhecer, para além dele próprio e quiçá, da sua mae.
Estamos conscientes do valor desta nossa oferenda. Mas fazemo-la ao reino de Espanha, de coraçao aberto e como mostra da afinidade e amizade que existe entre os nosso países. No entanto, para que nao se sinta, V. Majestade, em dívida para conosco, estamos inclusivamente dispostos a trocar o Sr. Luis Campos pela Elsa Pataky, ou em alternativa, por um torrao de Alicante.
Fazemos votos da Vossa boa vontade e da V. contribuiçao para que, de uma forma definitiva, todos os portugueses possam reconhecer a V. Magnanimidade e esquecermos aquela história de Olivença.
Meszaros, o Huno’
Ferenc 4.82
‘A V. Alteza Real
O Rei da Espanha
Majestade,
Solicito o V. perdao pela ousadia de nos dirigirmos a Vós. Rogamos, no entanto, que nos conceda o privilégio de continuar a ler esta missiva.
Vimos por este meio, V. Majestade, suplicar que aceite o Sr. Luis Campos, treinador de futebol do Beira-Mar e normalmente do Gil Vicente, como nossa humilde oferenda. Reconhecemos que o V. magnífico País dispoe de todas as infra-estructuras, principalmente morais, para que este excelso exemplar de treinador de futebol da nova geraçao possa demonstrar todas as suas amplas qualidades e traduzi-las em méritos desportivos de (ainda mais) orgulho próprio.
Esta nossa oferta deve-se ao facto de, em Portugal, nao existir nenhum clube capaz de oferecer ao Sr. Campos uma carreira digna e permanente na primeira divisao, tal como o seu trajecto profissional demonstra. Nenhum dos 294 clubes que treinou se esforça por e permanecer na primeira divisao enquanto ele anda por lá. E isto é desagradável para ele, porque nao lhe fazem a vontade e absolutamente desgastante para o seu ego. Diria até que parece que os clubes fazem de propósito.
Também nao existe nenhum jogador que compreenda a sua elevada cultura táctica, pois como publicamente reconhece o próprio Sr. Campos após cada derrota, a sua equipa nunca é capaz de seguir e reproduzir em campo as suas instruçoes. E aí nao existe, como bem compreende V. Majestade, nunca nenhuma responsabilidade do treinador.
O próprio reconhece as suas elevadas competências e qualidades de estratega e líder. Um vencedor nato, imprescindível a qualquer equipa com ansias de vitórias. Infelizmente, em Portugal, nao existem equipas assim, que desejem ver materializadas em vitórias o esforço da dura gestao de recursos mínimos. Nem tao pouco de entender e aceitar os méritos de um prendado orador, capaz de desbravar incansávelmente durante horas, os rudes caminhos da dialéctica e da retórica, com eloquentes discursos sobre ele próprio e as suas qualidades.
Nao se permita, V. Majestade, ludibriar pela sua estatura. Luis Campos é sem dúvida pequenino. Até no alto do seu metro e meio. No entanto, garantimos que cresce alguns metros quando se empoleira nos tacoes da sua auto-estima.
Deste modo, V. Majestade, estamos diante de um homem de, e segundo opiniao do próprio, inegável mérito, pelo qual merece ter uma oportunidade de jeito, já que nas inúmeras que até agora tem tido apenas tem demonstrado uma constrangedora inépcia, inversamente proporcional ao alto reconhecimento que tem ele tem de si mesmo.
Sabendo que nenhum ser humano pode ter-se em tao boa conta sem ter aparentemente nenhuma razao para tal, chegamos á conclusao que o Sr. Campos está a ser prejudicado por viver neste País onde é o seu génio é incompreendido e as suas aspiraçoes limitadas.
Uma vez que já tiveram a amabilidade de receber o Calado, o Edgar e o Joao Manuel Pinto, creemos que gostará ao acolhedor e hospitaleiro povo espanhol receber o Sr. Campos, o qual poderá finalmente provar o seu potencial a gentes que sejam capazes de o reconhecer, para além dele próprio e quiçá, da sua mae.
Estamos conscientes do valor desta nossa oferenda. Mas fazemo-la ao reino de Espanha, de coraçao aberto e como mostra da afinidade e amizade que existe entre os nosso países. No entanto, para que nao se sinta, V. Majestade, em dívida para conosco, estamos inclusivamente dispostos a trocar o Sr. Luis Campos pela Elsa Pataky, ou em alternativa, por um torrao de Alicante.
Fazemos votos da Vossa boa vontade e da V. contribuiçao para que, de uma forma definitiva, todos os portugueses possam reconhecer a V. Magnanimidade e esquecermos aquela história de Olivença.
Meszaros, o Huno’
4.3.05
A táctica do Pirilau
‘Encosta!... Corta!... Mete o pé!... Ganha!... Poe o rímel!... Chuta!...’
Férenc 01.87
Com mais de 100 anos despertando emoçoes e reflexoes de milhoes de pessoas em todo o Mundo, é costume dizer-se que no futebol já está tudo inventado e que a evoluçao se regista muito mais a nível das novas metodologias de treino nos atletas e dos seus efeitos a nível físico do que a nível técnico e, principalmente táctico.
Na minha modesta opiniao, acho que aparece sempre um gajo qualquer, nao se sabe muito bem donde, a querer estragar as filosofias dos estudiosos e a mandar todas a teorias pro galheiro. A inovaçao pode ser um gesto de prepotência, que esconde o prazer pelo risco de um visionário seguro, o brilho de um génio. Mas normalmente nao é mais do que um acto de soberbos imbecis ou a ignorância absoluta de profundos incompetentes.
Acredito fielmente que, a nível táctico, o futebol actual evolui e adapta-se, mas nada nele se inventa. E sou um homem feliz por só agora ter oportunidade de escrever esta frase. Porque se o tivesse feito há uns anos talvez o Paulo Autuori nao se tivesse dado ao trabalho de inventar uma das tácticas mais impotentes e patéticas da história: Senhoras e Senhores, apresento-vos, pelo Sr. Paulo Autuori, a táctica do Pirilau. E agora os meninos vao prá caminha.
Colombo, 1996. Ainda em precoce estado de convalescença por excesso de Artur Jorge no sangue, a equipa do Colombo, em evidente estado de catatonia, estava urgindo uma enxorrada de estímulo novo que a pudesse tirar daquele marasmo animicó-espiritualó-futebolístico. Sem sexismos, mas a equipa fazia lembrar uma miúda dependente do seu namorado a quem, pensando que tinha ali um ganda homem, tinha entregado totalmente a alma ao ponto de trocar 4 jogadores por um Luiz Gustavo, e que de um momento para o outro se viu abandonada, perdida, sem referente emocional, sem porto de abrigo. Uma miúda agora extremamente susceptível a todos os engatatoes que dizem é gira e boa só para ela ficar toda convencida e ser mais fácil mandar-lhe uma foda.
Depois do limpa-chaminés Toni ter falhado, o samaritano Autuori assume o seu papel de tutor, tentando devolver a dignidade a esta donzela rejeitada e humilhada pelo farsante. Mas depressa se apercebe que a donzela nao é virtuosa como tentam fazer crer: Nao é a mais prendada, a mais formosa, a mais delicada, a de melhores maneiras nem a de melhores famílias. A donzela, ao contrário do que todos tentavam fazer crer, nao tem as qualidades para se impôr na dura, competitiva e cruel sociedade que é o futebol português. Autuori, nao tanto por arrogância nem por incompetência, mas por falta de opçoes, vê-se obrigado a improvisar: Assim, como hábil cirurgiao, constrói no seu laboratório uma inovadora táctica que espera que funcione como um Prozac e que a eleve do estado de depressao que a absorvia. Desta forma, tenta inserir-lhe um mecanismo assente numa defesa tradicional de 4 elementos e posteriormente numa bichinha indiana pelo centro do relvado até ao ataque. Esta táctica, inicialmente prevista para ser um prozac, revelou-se afinal um viagra pequenino e azul bebé. Ao seu 4x2x2x2 chamou-lhe o mesmo Autuori, a Táctica do Pirilau.
O modelo táctico, sem jogadores pelas bandas a partir de uma defesa atrasada, residia fundamentalmente pelo domínio do corredor central do terreno, em binómios paralelos de jogadores, do meio campo até ao ataque. Assim, normalmente, no olho do cú estava Preu’Homme, que fazia o que podía para tentar manter a sua dignidade inviolada. Os testículos, retraídos e pouco oscilantes, eram Marinho e Dimas (por vezes Kennedy), ao lado de um escroto viril mas pouco flexivel como era Helder e Bermudez, o que nao naturalmente nao dá maleabilidade suficiente a nada. Jamir e Bruno Caires e Valdo e Panduru eram um tronco flácido, pouco robusto e bastante curtinho, que raramente conseguia uma penetraçao poderosa e magnífica de fazer engasgar a defesa contrária. A glande Joao Pinto, embora insuficiente, era o elemento mais sensível de toda a estrutura fálicó-táctica e o que algum prazer provocava, mas Hassan, como buraquinho do mijo, era tao inconstante que, ora ejaculando precocemente ora sofrendo de frigidez, nao era capaz de assegurar o clímax desejado, como tantas vezes tinha feito ao serviço do Farense.
A táctica do Pirilau revelou-se finalmente uma revoluçao genitálica pouco viril e fundamentalmente estéril, uma vez que nao se adaptou á natureza essencial da equipa. Para justificar em parte a impotência da táctica do pirilau é importante nao esquecer essa natureza frágil e feminina de uma equipa com pouco amor próprio, abandonada e rejeitada, enxovalhada e escarnecida. Por isso este conceito táctico parecía forçado, anti-natura.
Na verdade, a cirurgia de Autuori tornou a equipa transsexuada, como uma mulher a quem foi colocado um ostensivo falo pouco convincente para enganar algum desprevenido. A equipa de Autuori tornou-se uma gaja com pila. Mas por ser gaja, nao a sabía usar. Autuori, pelos vistos, também nao a soube ensinar muito bem. Deixo-vos com esta reflexao...
Férenc 01.87
Com mais de 100 anos despertando emoçoes e reflexoes de milhoes de pessoas em todo o Mundo, é costume dizer-se que no futebol já está tudo inventado e que a evoluçao se regista muito mais a nível das novas metodologias de treino nos atletas e dos seus efeitos a nível físico do que a nível técnico e, principalmente táctico.
Na minha modesta opiniao, acho que aparece sempre um gajo qualquer, nao se sabe muito bem donde, a querer estragar as filosofias dos estudiosos e a mandar todas a teorias pro galheiro. A inovaçao pode ser um gesto de prepotência, que esconde o prazer pelo risco de um visionário seguro, o brilho de um génio. Mas normalmente nao é mais do que um acto de soberbos imbecis ou a ignorância absoluta de profundos incompetentes.
Acredito fielmente que, a nível táctico, o futebol actual evolui e adapta-se, mas nada nele se inventa. E sou um homem feliz por só agora ter oportunidade de escrever esta frase. Porque se o tivesse feito há uns anos talvez o Paulo Autuori nao se tivesse dado ao trabalho de inventar uma das tácticas mais impotentes e patéticas da história: Senhoras e Senhores, apresento-vos, pelo Sr. Paulo Autuori, a táctica do Pirilau. E agora os meninos vao prá caminha.
Colombo, 1996. Ainda em precoce estado de convalescença por excesso de Artur Jorge no sangue, a equipa do Colombo, em evidente estado de catatonia, estava urgindo uma enxorrada de estímulo novo que a pudesse tirar daquele marasmo animicó-espiritualó-futebolístico. Sem sexismos, mas a equipa fazia lembrar uma miúda dependente do seu namorado a quem, pensando que tinha ali um ganda homem, tinha entregado totalmente a alma ao ponto de trocar 4 jogadores por um Luiz Gustavo, e que de um momento para o outro se viu abandonada, perdida, sem referente emocional, sem porto de abrigo. Uma miúda agora extremamente susceptível a todos os engatatoes que dizem é gira e boa só para ela ficar toda convencida e ser mais fácil mandar-lhe uma foda.
Depois do limpa-chaminés Toni ter falhado, o samaritano Autuori assume o seu papel de tutor, tentando devolver a dignidade a esta donzela rejeitada e humilhada pelo farsante. Mas depressa se apercebe que a donzela nao é virtuosa como tentam fazer crer: Nao é a mais prendada, a mais formosa, a mais delicada, a de melhores maneiras nem a de melhores famílias. A donzela, ao contrário do que todos tentavam fazer crer, nao tem as qualidades para se impôr na dura, competitiva e cruel sociedade que é o futebol português. Autuori, nao tanto por arrogância nem por incompetência, mas por falta de opçoes, vê-se obrigado a improvisar: Assim, como hábil cirurgiao, constrói no seu laboratório uma inovadora táctica que espera que funcione como um Prozac e que a eleve do estado de depressao que a absorvia. Desta forma, tenta inserir-lhe um mecanismo assente numa defesa tradicional de 4 elementos e posteriormente numa bichinha indiana pelo centro do relvado até ao ataque. Esta táctica, inicialmente prevista para ser um prozac, revelou-se afinal um viagra pequenino e azul bebé. Ao seu 4x2x2x2 chamou-lhe o mesmo Autuori, a Táctica do Pirilau.
O modelo táctico, sem jogadores pelas bandas a partir de uma defesa atrasada, residia fundamentalmente pelo domínio do corredor central do terreno, em binómios paralelos de jogadores, do meio campo até ao ataque. Assim, normalmente, no olho do cú estava Preu’Homme, que fazia o que podía para tentar manter a sua dignidade inviolada. Os testículos, retraídos e pouco oscilantes, eram Marinho e Dimas (por vezes Kennedy), ao lado de um escroto viril mas pouco flexivel como era Helder e Bermudez, o que nao naturalmente nao dá maleabilidade suficiente a nada. Jamir e Bruno Caires e Valdo e Panduru eram um tronco flácido, pouco robusto e bastante curtinho, que raramente conseguia uma penetraçao poderosa e magnífica de fazer engasgar a defesa contrária. A glande Joao Pinto, embora insuficiente, era o elemento mais sensível de toda a estrutura fálicó-táctica e o que algum prazer provocava, mas Hassan, como buraquinho do mijo, era tao inconstante que, ora ejaculando precocemente ora sofrendo de frigidez, nao era capaz de assegurar o clímax desejado, como tantas vezes tinha feito ao serviço do Farense.
A táctica do Pirilau revelou-se finalmente uma revoluçao genitálica pouco viril e fundamentalmente estéril, uma vez que nao se adaptou á natureza essencial da equipa. Para justificar em parte a impotência da táctica do pirilau é importante nao esquecer essa natureza frágil e feminina de uma equipa com pouco amor próprio, abandonada e rejeitada, enxovalhada e escarnecida. Por isso este conceito táctico parecía forçado, anti-natura.
Na verdade, a cirurgia de Autuori tornou a equipa transsexuada, como uma mulher a quem foi colocado um ostensivo falo pouco convincente para enganar algum desprevenido. A equipa de Autuori tornou-se uma gaja com pila. Mas por ser gaja, nao a sabía usar. Autuori, pelos vistos, também nao a soube ensinar muito bem. Deixo-vos com esta reflexao...
25.2.05
Fado Artur
‘ Ó Ar-tu-re, ó Ar-tu-re, an-da cá, an-da cá...´
Cancioneiro popular
I
O braço que indica
A voz que grita
Insistindo na orientaçao
O braço que cai
A voz que se esvai
Consumida p´la resignaçao
Resultado repetido
Jogo perdido
A equipa foi humilhada
O Sócio que insulta
E o rival que exulta
A cada jornada
II
Mas até há um tempo
Num passado recente
Era até respeitado
Treinador de sucesso
De bigode espesso
Farfalhudo e aparado
Treinou campeoes
Franceses, dragoes
Era ídolo no Norte
Mas fez-se poeta
E a conversa da treta
Levou-lhe a sorte
III
O braço ainda indica
A voz ainda grita
Ainda insiste na orientaçao
O braço sempre cai
A voz sempre se esvai
Consumida p´la resignaçao
E nesta intimidade
Só me sai a verdade
Vou-lhes revelar o que sinto
É um povo que se deleita
Pois justiça foi feita :
Obrigado, Sá Pinto.
Cancioneiro popular
I
O braço que indica
A voz que grita
Insistindo na orientaçao
O braço que cai
A voz que se esvai
Consumida p´la resignaçao
Resultado repetido
Jogo perdido
A equipa foi humilhada
O Sócio que insulta
E o rival que exulta
A cada jornada
II
Mas até há um tempo
Num passado recente
Era até respeitado
Treinador de sucesso
De bigode espesso
Farfalhudo e aparado
Treinou campeoes
Franceses, dragoes
Era ídolo no Norte
Mas fez-se poeta
E a conversa da treta
Levou-lhe a sorte
III
O braço ainda indica
A voz ainda grita
Ainda insiste na orientaçao
O braço sempre cai
A voz sempre se esvai
Consumida p´la resignaçao
E nesta intimidade
Só me sai a verdade
Vou-lhes revelar o que sinto
É um povo que se deleita
Pois justiça foi feita :
Obrigado, Sá Pinto.
16.2.05
Declaraçao Magiar II - Todos temos um pouco de Manuel Barbosa
‘ Chama-se Mantorras e vale 18 milhoes de contos... ’
Ex-Presidente do Alverca
Depois de um périplo pelas terras da boa gente do Mali, o Meszaros volta a ausentar-se para fazer uma nova propecçao por terras africanas. Ainda acreditamos nesse El Dorado perdido que já nos trouxe diamantes como Dibo ou Ali Hassan, N’Kongolo ou Parfait N’Dong. Uns mais lapidados que outros, na verdade, mas todos com uma mao cheia de carátes.
Desta vez vamos por terras de Guiné Conakry. Nao que o campeonato seja entusiasmante, um poço sem fundo de potenciais estrelas internacionais. Nao, nao vamos em busca de nenhuma estrela Guineana. Vamo-nos infiltrar no sub-mundo do Campeonato Guineano Inter-Campos de Refugiados, á procura de um novo Sessay ou um novo Musa Shannon. Vamos procurar potenciais vedetas Serra Leonesas e Liberianas que tenham fugido do seu país e se encontrem agora perdidas nalgum campo de refugiados, debaixo de uma tela de plástico das Naçoes Unidas. Tiramos-los de lá, metemos-los a jogar no clube dum amigalhaço e vamos viver á pála deles para sempre.
Como nao temos nenhum irmao mais novo que saiba jogar á bola, temos que fazer pela vida. É assim. Saúdinha. Onde e com quem quer que esteja.
Ex-Presidente do Alverca
Depois de um périplo pelas terras da boa gente do Mali, o Meszaros volta a ausentar-se para fazer uma nova propecçao por terras africanas. Ainda acreditamos nesse El Dorado perdido que já nos trouxe diamantes como Dibo ou Ali Hassan, N’Kongolo ou Parfait N’Dong. Uns mais lapidados que outros, na verdade, mas todos com uma mao cheia de carátes.
Desta vez vamos por terras de Guiné Conakry. Nao que o campeonato seja entusiasmante, um poço sem fundo de potenciais estrelas internacionais. Nao, nao vamos em busca de nenhuma estrela Guineana. Vamo-nos infiltrar no sub-mundo do Campeonato Guineano Inter-Campos de Refugiados, á procura de um novo Sessay ou um novo Musa Shannon. Vamos procurar potenciais vedetas Serra Leonesas e Liberianas que tenham fugido do seu país e se encontrem agora perdidas nalgum campo de refugiados, debaixo de uma tela de plástico das Naçoes Unidas. Tiramos-los de lá, metemos-los a jogar no clube dum amigalhaço e vamos viver á pála deles para sempre.
Como nao temos nenhum irmao mais novo que saiba jogar á bola, temos que fazer pela vida. É assim. Saúdinha. Onde e com quem quer que esteja.
14.2.05
A angustia da barreira antes do livre directo do Heitor
‘ Um homem tem que proteger sempre a sua felicidade’.
Férenc 79.61
Há uns anos, um amiguete do Wim Wenders, um senhor chamado Peter Handke, resolveu publicar um livro que se chamava ‘ A angústia do guarda-redes antes do Penalty’. O sô Handke utilizada o futebol, e em particular o duelo particular entre guarda-redes e marcador, para construir uma metáfora sobre relaçoes inter-pessoais e jogos psicológicos que finalmente se poderíam extrapolar a uma escala quase universal e aplicar a várias as situaçoes da nossa vida.
Permito-me, no entanto, discordar desta alegoria. Do título percebe-se automáticamente que o sô Handke nao percebe um cú de futebol.
A base de toda esta divagaçao é a previsivel impotência do guarda-redes para evitar um destino certo e todo um sacrificio, um jogo mental, que desenvolve para tentar contrariar esta determinada situaçao que lhe é, á partida, altamente desfavorável. No fundo, uma luta contra um destino já escrito. No meio desta reflexao existe um elemento importante para ajudar a eliminar a responsabilidade do Bela Katzirz de turno e que, se potenciado, se torna um trunfo que joga a seu favor neste duelo directo com o marcador, um factor de galvanizaçao: A inevitabilidade. É este elemento que me leva a pensar que ‘sim, coitado do guarda-redes, mas será mais angustiante do que estar na barreira num livre directo do Heitor, a 25 metros da baliza?’
Heitor, histórico lateral do Marítimo é personagem secundária nesta história, mas entra nela porque é um bom exemplo: O homem marcava livres com uma brutalidade atroz, absolutamente sanguinária, obsessionado pelo vício de marcar o golo ou, em alternativa, pelo fascínio cruel da incapacitaçao de um adversário. E ao contrário da maioria dos pé-canhao do futebol português ( como sao conhecidos quase todos os que marcam habitualmente livres directos a mais de 60 km/h) fazia-o com razoável acerto. Quando a bola nao entrava na baliza, era ver aquela massa de couro de 600 gramas a embater a uma velocidade de uns 150km/h na barreira a 9 metros de distância. Neste caso, o resultado era: Dor. Mesmo que protegessem o peito, a cara ou a nossa felicidade, havia sempre dôr. Muita dôr.
E o sentimento vivido pelos mártires da barreira diferencia-se do dos guarda-redes, precisamente pela alta probabilidade de presença da dor física, um elemento que nao existe normalmente na marcaçao de um penalty. Quando o árbitro apita a falta, prepara-se a colocaçao da barreira e vemos que é um jogador como o Heitor (ou podia ser o Branco, o Valtinho, o Barroso, o Dinda, o Celso) que se coloca á nossa frente, a impotência torna-se o sentimento dominante e o horror uma realidade: Terror x expectativa = uma angústia do caraças.
Quando se tem um Heitor á frente, sabemos que há uma elevada probabilidade que as alternativas seja apenas uma de duas: Ou sofremos nós, individualmente ou sofre a equipa, como colectivo. Por isso é de admirar a coragem dos homens da barreira, soldados de couraça de carne, na frente de um ataque de artilharia e ainda assim prontos a oferecer o seu corpo como um escudo, num estoicismo voluntário.
No momento entre o apito do árbitro e o pé de Heitor na bola, ali na barreira falta o ar, tensam-se o corpos, recorda-se num flash de milésimos de segundos todos os momentos importantes das suas vidas, mas unem as almas, na solidariedade única dos momentos críticos.
Esta tensao, esta impotência perante a fatalidade conhecida de um destino incontornável, era brilhantemente retratada por Sérgio Leone nos seus western spaghetti. Enquanto o Heitor pulula a uns metros da bola, ganhando balanço como um touro preparando a investida ao desprotegido forcado, ninguém consegue ficar indiferente áquele ‘ tu-ruru-ruru’ imaginário de uma flauta mexicana e tudo os movimentos e expressoes nos rostos dos demais destilam agonia e expectativa. E, tal como nos filmes de Leone, aparece-nos em grande plano a gota de suor que nasce e escorre fugidia pela fonte de um Rui Barros que sabe que, se é ele o boneco, entra juntamente com a bola dentro da baliza; os dedos que se movem em câmara lenta, aconchegando lá em baixo a felicidade do jogador; a respiraçao abafada escondida por detrás de um cotovelo protector; o bater do coraçao que se escuta por todo o estádio.
Mas tal como em qualquer cenário do Velho Oeste de Almería, este momento de tensao é a mais pura exaltaçao do sentimento de dever, como naqueles italianos feios, suados e de barba por fazer, que sabem de antemao que o Clint ‘Homem-sem-nome’ Eastwood lhes vai limpar o sebo. E mesmo assim estao lá. Com esperança mínima, mas estao lá. O que mais querem, tal como os homens da barreira, é que tudo se despache e que um dedo divino troque o pé de Heitor pelo de Quim Berto. E a bola sai pela linha lateral e fica tudo bem. Da mesma forma que todos os guarda-redes desejavam que fosse o Gregório Freixo a marcar sempre os penalties. Esta boa dose de angustia continuava a existir. Mas ao contrário...
Férenc 79.61
Há uns anos, um amiguete do Wim Wenders, um senhor chamado Peter Handke, resolveu publicar um livro que se chamava ‘ A angústia do guarda-redes antes do Penalty’. O sô Handke utilizada o futebol, e em particular o duelo particular entre guarda-redes e marcador, para construir uma metáfora sobre relaçoes inter-pessoais e jogos psicológicos que finalmente se poderíam extrapolar a uma escala quase universal e aplicar a várias as situaçoes da nossa vida.
Permito-me, no entanto, discordar desta alegoria. Do título percebe-se automáticamente que o sô Handke nao percebe um cú de futebol.
A base de toda esta divagaçao é a previsivel impotência do guarda-redes para evitar um destino certo e todo um sacrificio, um jogo mental, que desenvolve para tentar contrariar esta determinada situaçao que lhe é, á partida, altamente desfavorável. No fundo, uma luta contra um destino já escrito. No meio desta reflexao existe um elemento importante para ajudar a eliminar a responsabilidade do Bela Katzirz de turno e que, se potenciado, se torna um trunfo que joga a seu favor neste duelo directo com o marcador, um factor de galvanizaçao: A inevitabilidade. É este elemento que me leva a pensar que ‘sim, coitado do guarda-redes, mas será mais angustiante do que estar na barreira num livre directo do Heitor, a 25 metros da baliza?’
Heitor, histórico lateral do Marítimo é personagem secundária nesta história, mas entra nela porque é um bom exemplo: O homem marcava livres com uma brutalidade atroz, absolutamente sanguinária, obsessionado pelo vício de marcar o golo ou, em alternativa, pelo fascínio cruel da incapacitaçao de um adversário. E ao contrário da maioria dos pé-canhao do futebol português ( como sao conhecidos quase todos os que marcam habitualmente livres directos a mais de 60 km/h) fazia-o com razoável acerto. Quando a bola nao entrava na baliza, era ver aquela massa de couro de 600 gramas a embater a uma velocidade de uns 150km/h na barreira a 9 metros de distância. Neste caso, o resultado era: Dor. Mesmo que protegessem o peito, a cara ou a nossa felicidade, havia sempre dôr. Muita dôr.
E o sentimento vivido pelos mártires da barreira diferencia-se do dos guarda-redes, precisamente pela alta probabilidade de presença da dor física, um elemento que nao existe normalmente na marcaçao de um penalty. Quando o árbitro apita a falta, prepara-se a colocaçao da barreira e vemos que é um jogador como o Heitor (ou podia ser o Branco, o Valtinho, o Barroso, o Dinda, o Celso) que se coloca á nossa frente, a impotência torna-se o sentimento dominante e o horror uma realidade: Terror x expectativa = uma angústia do caraças.
Quando se tem um Heitor á frente, sabemos que há uma elevada probabilidade que as alternativas seja apenas uma de duas: Ou sofremos nós, individualmente ou sofre a equipa, como colectivo. Por isso é de admirar a coragem dos homens da barreira, soldados de couraça de carne, na frente de um ataque de artilharia e ainda assim prontos a oferecer o seu corpo como um escudo, num estoicismo voluntário.
No momento entre o apito do árbitro e o pé de Heitor na bola, ali na barreira falta o ar, tensam-se o corpos, recorda-se num flash de milésimos de segundos todos os momentos importantes das suas vidas, mas unem as almas, na solidariedade única dos momentos críticos.
Esta tensao, esta impotência perante a fatalidade conhecida de um destino incontornável, era brilhantemente retratada por Sérgio Leone nos seus western spaghetti. Enquanto o Heitor pulula a uns metros da bola, ganhando balanço como um touro preparando a investida ao desprotegido forcado, ninguém consegue ficar indiferente áquele ‘ tu-ruru-ruru’ imaginário de uma flauta mexicana e tudo os movimentos e expressoes nos rostos dos demais destilam agonia e expectativa. E, tal como nos filmes de Leone, aparece-nos em grande plano a gota de suor que nasce e escorre fugidia pela fonte de um Rui Barros que sabe que, se é ele o boneco, entra juntamente com a bola dentro da baliza; os dedos que se movem em câmara lenta, aconchegando lá em baixo a felicidade do jogador; a respiraçao abafada escondida por detrás de um cotovelo protector; o bater do coraçao que se escuta por todo o estádio.
Mas tal como em qualquer cenário do Velho Oeste de Almería, este momento de tensao é a mais pura exaltaçao do sentimento de dever, como naqueles italianos feios, suados e de barba por fazer, que sabem de antemao que o Clint ‘Homem-sem-nome’ Eastwood lhes vai limpar o sebo. E mesmo assim estao lá. Com esperança mínima, mas estao lá. O que mais querem, tal como os homens da barreira, é que tudo se despache e que um dedo divino troque o pé de Heitor pelo de Quim Berto. E a bola sai pela linha lateral e fica tudo bem. Da mesma forma que todos os guarda-redes desejavam que fosse o Gregório Freixo a marcar sempre os penalties. Esta boa dose de angustia continuava a existir. Mas ao contrário...
8.2.05
O boxe-to-boxe
‘Posso ter ficado sem dentes, mas preguei-te uma rabeta.’
Férenc 11.11
Pode-se dizer que o Brasil está para o futebol português como a brasileira para o jogador português: Há alternativas, mas ninguém resiste á forma como fazem levantar o estádio.
Essa tradiçao mantém-se pela reputaçao dos profissionais que até cá têm chegado: Desde o Xerife Moisés de Andrade até á Paula, muitos deixaram a sua marca por cá. Um, no entanto, deixou-a nao só nos relvados como também bem selada nos corpos dos seus adversários. Na verdade é que podiam ser muitos, mas referimo-nos a um jogador em particular, que juntava o génio de um Marlon Alves com a delicadeza súbtil de um Tanta, a energia inesgotável de um Emerson com a raça acérrima de um Milton Mendes, a classe de um Pingo com o temperamento de um Donizete. Desta mistura explosiva e de meias puxadas para baixo, saiu Douglas.
Saiu do Brasil e aterrou em Alvalade para se instalar no meio campo e fazer história por todo o relvado. A sua natureza indomável nao lhe permitia resumir-se a uma determinada zona do terreno. No miolo iniciava o jogo, aí começava a sua luta, mas depois expandia-se: Onde havía uma bola por disputar ou uma canela que morder, aí estava Douglas, qual Macgyver, com o seu canivete suiço na ponta dos pitons, a desenrascar qualquer situaçao.
O seu carácter combativo levava-o a discutir com os seus treinadores por se recusar usar caneleiras, essas mariquices, tanto em jogos como em treinos. Na verdade, que maior estimulante existe para uma líbido futebolística que sentir o osso no osso, o adversário no chao e nós de pé, a driblar o seguinte, numa rata arrogante, mas sublime e seguirmos altivos em direcçao á baliza? Ou regressar para o baneário, com a camisola manchada de sangue e um dente agarrado ao cotovelo, orgulhosos por nao termos vacilado? E é nestes momentos, que o futebol se individualiza: ‘Sim, sou macho. Agarra-me a camisola, faz-me uma gravata, dá-me um chuto, enterra-me o piton no gémeo, abre-me o sobrolho. Faz-me o que quiseres, desde que quem fique com a bola seja eu.’ A vitória suprema do orgulho másculo. E no momento seguinte passas pelo adversário, olhas-lhe nos olhos enquanto sopras uma ranhada com as costas do dedo na outra narina: ‘És um merdas, quem nem consegues mandar um gajo ao chao’.
E Douglas, em passinhos pequeninos, meias em baixo e caneleiras lá no cacifo, enquanto puxava um braço ou lhe faziam uma tesoura, seguía num vai-vem imparável, ora matando ataques do adversário, ora assistindo o Bi-bota; ora ajudando o Duílio que se ficava nas covas ou subindo para marcar um genial golo de calcanhar. Douglas estava lá, nunca recusando uma luta, numa omnipresencia assustadora de rufia de viela, com a naifa na peúga, sempre pronto para uma richa de rua. E tal como a um moleque de favela apanhado numa rusga, a Douglas também lhe tiraram a liberdade quando as novas regras lhe obrigaram a usar as caneleiras nos jogos. As regras, a prisao dos homens-livres. Que mais iriam fazer? Mostrar cartoes amarelos nas entradas por trás? Proibir os socos nos pulmoes nos pontapés de canto? Ah? E chorei contigo, Douglas. Porque tal como tu adivinhava a castraçao das raízes do genuíno jogador da bola, o futebol de rua. Por ti Douglas, o ultimo dos rufias.
Férenc 11.11
Pode-se dizer que o Brasil está para o futebol português como a brasileira para o jogador português: Há alternativas, mas ninguém resiste á forma como fazem levantar o estádio.
Essa tradiçao mantém-se pela reputaçao dos profissionais que até cá têm chegado: Desde o Xerife Moisés de Andrade até á Paula, muitos deixaram a sua marca por cá. Um, no entanto, deixou-a nao só nos relvados como também bem selada nos corpos dos seus adversários. Na verdade é que podiam ser muitos, mas referimo-nos a um jogador em particular, que juntava o génio de um Marlon Alves com a delicadeza súbtil de um Tanta, a energia inesgotável de um Emerson com a raça acérrima de um Milton Mendes, a classe de um Pingo com o temperamento de um Donizete. Desta mistura explosiva e de meias puxadas para baixo, saiu Douglas.
Saiu do Brasil e aterrou em Alvalade para se instalar no meio campo e fazer história por todo o relvado. A sua natureza indomável nao lhe permitia resumir-se a uma determinada zona do terreno. No miolo iniciava o jogo, aí começava a sua luta, mas depois expandia-se: Onde havía uma bola por disputar ou uma canela que morder, aí estava Douglas, qual Macgyver, com o seu canivete suiço na ponta dos pitons, a desenrascar qualquer situaçao.
O seu carácter combativo levava-o a discutir com os seus treinadores por se recusar usar caneleiras, essas mariquices, tanto em jogos como em treinos. Na verdade, que maior estimulante existe para uma líbido futebolística que sentir o osso no osso, o adversário no chao e nós de pé, a driblar o seguinte, numa rata arrogante, mas sublime e seguirmos altivos em direcçao á baliza? Ou regressar para o baneário, com a camisola manchada de sangue e um dente agarrado ao cotovelo, orgulhosos por nao termos vacilado? E é nestes momentos, que o futebol se individualiza: ‘Sim, sou macho. Agarra-me a camisola, faz-me uma gravata, dá-me um chuto, enterra-me o piton no gémeo, abre-me o sobrolho. Faz-me o que quiseres, desde que quem fique com a bola seja eu.’ A vitória suprema do orgulho másculo. E no momento seguinte passas pelo adversário, olhas-lhe nos olhos enquanto sopras uma ranhada com as costas do dedo na outra narina: ‘És um merdas, quem nem consegues mandar um gajo ao chao’.
E Douglas, em passinhos pequeninos, meias em baixo e caneleiras lá no cacifo, enquanto puxava um braço ou lhe faziam uma tesoura, seguía num vai-vem imparável, ora matando ataques do adversário, ora assistindo o Bi-bota; ora ajudando o Duílio que se ficava nas covas ou subindo para marcar um genial golo de calcanhar. Douglas estava lá, nunca recusando uma luta, numa omnipresencia assustadora de rufia de viela, com a naifa na peúga, sempre pronto para uma richa de rua. E tal como a um moleque de favela apanhado numa rusga, a Douglas também lhe tiraram a liberdade quando as novas regras lhe obrigaram a usar as caneleiras nos jogos. As regras, a prisao dos homens-livres. Que mais iriam fazer? Mostrar cartoes amarelos nas entradas por trás? Proibir os socos nos pulmoes nos pontapés de canto? Ah? E chorei contigo, Douglas. Porque tal como tu adivinhava a castraçao das raízes do genuíno jogador da bola, o futebol de rua. Por ti Douglas, o ultimo dos rufias.
2.2.05
Aparício. Ou quando Setúbal perdeu um bom pescador.
‘ Por favor, deixem o homem ir aos chocos’
Férenc 6.71
Meszaros, o Huno tem a honra de apresentar um all-time favourite.
Filósofos do futebol, opinai: Marcar golos, por si só, é uma arte? Decididamente, as opinioes vao-se dividir: Uns mais pragmáticos dirao que ‘por si só, por si só, nao, só alguns golos poderao ser considerados obras de arte e como tal, nao se pode generalizar’. Outros mais apaixonados dirao que ‘ golos é a essência do futebol. Se futebol é arte, logo, golos sao arte’.
Entao pegando nesta corrente de opiniao, sigo o meu raciocínio. ‘Se golos sao arte, quem marca golos é um artista. Certo?’ E é neste momento, que esbugalho os olhos e me sinto como o Toni cada vez que chega para treinar a equipa do Colombo: ‘Minha santinha da Luz, mas onde é que me meti?!’ Para me desenrascar, penso: ‘ Calma. O Alex Bunburry marcava golos e era um artista; o Mapuata marcava golos e era um artista; o Cadorin marcava golos e era um artista. Sim.’ E fico mais descansado. Mas logo me torno um Vítor Manuel quando, entre 3 paragens cardíacas, penso: ‘Atao e o Aparício?’
Aparício. Em Setúbal conhecido por Parríçe. Metade homem do mar, metade matreco na área, todo ele um ícone do Bonfim. Nascido e criado por terras do Sado, gaiato rebelde crescido entre as Fontaínhas e o Viso, entre uns mergulhos na doca e um bafo escondido no cigarro roubado ao tio.
Aparício. Em Setúbal conhecido por Parríçe. Cresceu fortalecido pelo cheiro a maresia, pelo pregao do varino. Fez-se homem nas traineiras, a sua tez curtida pelo sol e pelo sal. Fez-se jogador na taberna do Luciano, entre um copo de três e um sopapo bem arreado, acabando a mamujar entre qualquer dupla de centrais á espera de um chuveirinho do Figueiredo ou um ressalto caprichoso numa jogada do Amâncio.
Aparício. Em Setúbal conhecido por Parríçe. Marcava golos? Na verdade é que há registo de um ou outro. Uma carambola, uma bolada nas costas que entra na baliza, um pé casual quando está a correr. Mas sempre marcava mais do que se mexía. E aí reside o grande busilis desta minha interrogaçao que assume contornos de semi-existencial: O homem jogava mais parado que o Assis (o actual empresário do irmao); nao recuperou uma única bola em 30 anos de carreira; mamujava um jogo inteiro; falhava cerca de 27,366,543 ocasioes de golos por jogo; era, simplesmente, a anti-estética do futebol. Mas porque marcava algum golito de trambolhao, poderá ser considerado um artista? A resposta é... sim. Por todas as razao acima.
Aparício. Em Setúbal conhecido por Parríçe. Mesmo sendo mau, muito mau, sempre conseguiu marcar um golito aquí e ali e sobreviver no futebol até aos dias de hoje. Sim, é de artista. Como um Joaquim de Almeida que tem a expressividade do King, mas nao há mais ninguém que faça de mafioso; um José Cid que canta pior que o Neno mas sempre aparece todo nú na Nova Gente. Um artista alternativo, em que o seu génio existe por uma mistura explosiva de desastre e persistência, coincidencias e sorte.
Aparicío. Em Setúbal conhecido por Parríçe, um ídolo das bancadas que tinham um grito especial para ele (‘A-PA-RÍ-CIO! A-PA-RI-CÍO!’), por ser um homem do mar, um chavalo da terra, que tinha o VIII Exército comprado com sandochas de coiratos e os sócios cativos comprados com queijadas de Sintra. Um artista Setubalense. Na glamorosa linha de Clemente, Toy ou Mister Gay.
E se alguém quiser ainda hoje observar a sua inéptica arte, é ir um domingo á tarde ao campo do Moitense, onde ainda a vai arrastando pelo pelado. Arte-lixo, kitsch e má. Mas, pronto, sempre é arte...
Férenc 6.71
Meszaros, o Huno tem a honra de apresentar um all-time favourite.
Filósofos do futebol, opinai: Marcar golos, por si só, é uma arte? Decididamente, as opinioes vao-se dividir: Uns mais pragmáticos dirao que ‘por si só, por si só, nao, só alguns golos poderao ser considerados obras de arte e como tal, nao se pode generalizar’. Outros mais apaixonados dirao que ‘ golos é a essência do futebol. Se futebol é arte, logo, golos sao arte’.
Entao pegando nesta corrente de opiniao, sigo o meu raciocínio. ‘Se golos sao arte, quem marca golos é um artista. Certo?’ E é neste momento, que esbugalho os olhos e me sinto como o Toni cada vez que chega para treinar a equipa do Colombo: ‘Minha santinha da Luz, mas onde é que me meti?!’ Para me desenrascar, penso: ‘ Calma. O Alex Bunburry marcava golos e era um artista; o Mapuata marcava golos e era um artista; o Cadorin marcava golos e era um artista. Sim.’ E fico mais descansado. Mas logo me torno um Vítor Manuel quando, entre 3 paragens cardíacas, penso: ‘Atao e o Aparício?’
Aparício. Em Setúbal conhecido por Parríçe. Metade homem do mar, metade matreco na área, todo ele um ícone do Bonfim. Nascido e criado por terras do Sado, gaiato rebelde crescido entre as Fontaínhas e o Viso, entre uns mergulhos na doca e um bafo escondido no cigarro roubado ao tio.
Aparício. Em Setúbal conhecido por Parríçe. Cresceu fortalecido pelo cheiro a maresia, pelo pregao do varino. Fez-se homem nas traineiras, a sua tez curtida pelo sol e pelo sal. Fez-se jogador na taberna do Luciano, entre um copo de três e um sopapo bem arreado, acabando a mamujar entre qualquer dupla de centrais á espera de um chuveirinho do Figueiredo ou um ressalto caprichoso numa jogada do Amâncio.
Aparício. Em Setúbal conhecido por Parríçe. Marcava golos? Na verdade é que há registo de um ou outro. Uma carambola, uma bolada nas costas que entra na baliza, um pé casual quando está a correr. Mas sempre marcava mais do que se mexía. E aí reside o grande busilis desta minha interrogaçao que assume contornos de semi-existencial: O homem jogava mais parado que o Assis (o actual empresário do irmao); nao recuperou uma única bola em 30 anos de carreira; mamujava um jogo inteiro; falhava cerca de 27,366,543 ocasioes de golos por jogo; era, simplesmente, a anti-estética do futebol. Mas porque marcava algum golito de trambolhao, poderá ser considerado um artista? A resposta é... sim. Por todas as razao acima.
Aparício. Em Setúbal conhecido por Parríçe. Mesmo sendo mau, muito mau, sempre conseguiu marcar um golito aquí e ali e sobreviver no futebol até aos dias de hoje. Sim, é de artista. Como um Joaquim de Almeida que tem a expressividade do King, mas nao há mais ninguém que faça de mafioso; um José Cid que canta pior que o Neno mas sempre aparece todo nú na Nova Gente. Um artista alternativo, em que o seu génio existe por uma mistura explosiva de desastre e persistência, coincidencias e sorte.
Aparicío. Em Setúbal conhecido por Parríçe, um ídolo das bancadas que tinham um grito especial para ele (‘A-PA-RÍ-CIO! A-PA-RI-CÍO!’), por ser um homem do mar, um chavalo da terra, que tinha o VIII Exército comprado com sandochas de coiratos e os sócios cativos comprados com queijadas de Sintra. Um artista Setubalense. Na glamorosa linha de Clemente, Toy ou Mister Gay.
E se alguém quiser ainda hoje observar a sua inéptica arte, é ir um domingo á tarde ao campo do Moitense, onde ainda a vai arrastando pelo pelado. Arte-lixo, kitsch e má. Mas, pronto, sempre é arte...
19.1.05
Os discípulos de Borota III
‘E, na apocalíptica noite, debaixo do trovejar demoníaco, ergeu as maos aos céus e gritou : Deus, para que serve isto no fim dos braços? ’
Férenc 22.76
Discípulo III
Ivica ‘ E-o-que-faço-com-as-maos-quando chega-a-bola’ Kralj
O seu rotundo fracasso nas Antas representou o caso mais surpreendente dos 3 discípulos. Chegou como um Mlynarczyk, saiu como um Lemajic.
Esta responsabilidade que lhe meteram nas maos, Ivica nao foi capaz de aguentar. Deixava-a cair sempre ao chao. De facto, este Rodolfo Rodriguez de Leste caracterizava-se pela sua incontrolável descoordenaçao motora. Era habitual ver Kralj a enfiar os dedos no nariz enquanto orientava a barreira num livre directo ou a esmurrar-se a si mesmo quando tentava socar a bola num pontapé de canto. Embora creamos que essa mesma descoordenaçao fosse um dos seus trunfos lá no campeonato da sua terra, por cá infelizmente nao funcionava como arma de desconcentraçao dos avançados, sofrendo mais frangos do que golos feitos falhava Lima.
Ivica, este Ran tan plan da pequena área, estava para a sua baliza como o seu companheiro Stéphane Paille para a dos adversários. Ou seja, tinham tanto a ver como o Abel Xavier do Estrela da Amadora e o Abel Xavier do Liverpool. Nada. Absolutamente nada.
E por essa razao, a sua presença lá prós lados da Gaia foi tao fugaz como as defesas que conseguiu fazer. Apesar de totalmente inapto como guarda-redes, Kralj merece a nossa homenagem pois reconhecemos o esforço de um homem que tenta ultrapassar as suas próprias limitaçoes, mesmo sem o conseguir, o que o faz um quase-exemplo para todos nós.
Também os seus adversários ainda hoje choram de saudades e enviam-lhe mensagens para o telemóvel encorajando-o e incentivando o seu regresso para as balizas de um qualquer rival. Mas Ivica ‘ E-o-que-faço-com-as-maos-quando chega-a-bola’ Kralj nao sabe disto. Porque ainda nao conseguiu carregar nos botoes do seu telemóvel.
Férenc 22.76
Discípulo III
Ivica ‘ E-o-que-faço-com-as-maos-quando chega-a-bola’ Kralj
O seu rotundo fracasso nas Antas representou o caso mais surpreendente dos 3 discípulos. Chegou como um Mlynarczyk, saiu como um Lemajic.
Esta responsabilidade que lhe meteram nas maos, Ivica nao foi capaz de aguentar. Deixava-a cair sempre ao chao. De facto, este Rodolfo Rodriguez de Leste caracterizava-se pela sua incontrolável descoordenaçao motora. Era habitual ver Kralj a enfiar os dedos no nariz enquanto orientava a barreira num livre directo ou a esmurrar-se a si mesmo quando tentava socar a bola num pontapé de canto. Embora creamos que essa mesma descoordenaçao fosse um dos seus trunfos lá no campeonato da sua terra, por cá infelizmente nao funcionava como arma de desconcentraçao dos avançados, sofrendo mais frangos do que golos feitos falhava Lima.
Ivica, este Ran tan plan da pequena área, estava para a sua baliza como o seu companheiro Stéphane Paille para a dos adversários. Ou seja, tinham tanto a ver como o Abel Xavier do Estrela da Amadora e o Abel Xavier do Liverpool. Nada. Absolutamente nada.
E por essa razao, a sua presença lá prós lados da Gaia foi tao fugaz como as defesas que conseguiu fazer. Apesar de totalmente inapto como guarda-redes, Kralj merece a nossa homenagem pois reconhecemos o esforço de um homem que tenta ultrapassar as suas próprias limitaçoes, mesmo sem o conseguir, o que o faz um quase-exemplo para todos nós.
Também os seus adversários ainda hoje choram de saudades e enviam-lhe mensagens para o telemóvel encorajando-o e incentivando o seu regresso para as balizas de um qualquer rival. Mas Ivica ‘ E-o-que-faço-com-as-maos-quando chega-a-bola’ Kralj nao sabe disto. Porque ainda nao conseguiu carregar nos botoes do seu telemóvel.
18.1.05
Os discípulos de Borota II
‘ Quando olhares e vires alguém, nao significa que esteja gente‘.
Férenc 09.11
Discípulo II
Wozniak ‘Robokeeper 2000’
Possuidor de um estilo que se pode caracterizar como essencialmente geométrico, Wozniak parecia que fazía todos os seus movimentos corporais em angulos de 90º. Wozniak era um prodígio na arte de defender mal. De facto, era dos três discípulos de Borota, o mais parecido com Baía. Mais propriamente com a Baía de Cascais, já que na sua testa podíam atracar diariamente dezenas de traineiras e uma ou outra fragata de guerra, razao pela qual é um dos grandes favoritos ao Prémio Dr. Domingos Gomes, para as maiores entradas de sempre do futebol portugués. Os seus principias rivais sao:
- Nivaldo
- José António
- Murça
- Bobó
- Mario Artur
- Nunes
- Caccioli
- Best
- 80% dos planteis do FC Porto desde 1970.
Prémio Dr. Domingos Gomes, próximamente no blog mais perto de si.
Ou seja, de Wozniak, o que podemos dizer é que tambiém os alunos da famosa escola polaca de guarda-redes chumbam.
Férenc 09.11
Discípulo II
Wozniak ‘Robokeeper 2000’
Possuidor de um estilo que se pode caracterizar como essencialmente geométrico, Wozniak parecia que fazía todos os seus movimentos corporais em angulos de 90º. Wozniak era um prodígio na arte de defender mal. De facto, era dos três discípulos de Borota, o mais parecido com Baía. Mais propriamente com a Baía de Cascais, já que na sua testa podíam atracar diariamente dezenas de traineiras e uma ou outra fragata de guerra, razao pela qual é um dos grandes favoritos ao Prémio Dr. Domingos Gomes, para as maiores entradas de sempre do futebol portugués. Os seus principias rivais sao:
- Nivaldo
- José António
- Murça
- Bobó
- Mario Artur
- Nunes
- Caccioli
- Best
- 80% dos planteis do FC Porto desde 1970.
Prémio Dr. Domingos Gomes, próximamente no blog mais perto de si.
Ou seja, de Wozniak, o que podemos dizer é que tambiém os alunos da famosa escola polaca de guarda-redes chumbam.
14.12.04
Declaracao Magiar - Todos temos um pouco de Luis Suaréz
“Cuidado com os olheiros de oculos escuros e gabardina comprida. Podem ser sempre o Padre Frederico.”
Ferenc 3.39
Meszaros , o Huno declara que a producao de artigos durante os proximos dias vai ser afectada por uma viagem de prospeccao que estamos actualmente a realizar no prolifero campeonato militar do Mali. Temos esperanca de conseguir descobrir um novo Keita ou um novo Diallo, duas quase-estrelas miticas da constelacao leonina caso tivessem jogado mais que uns meros segundos no campeonato.
A partir deste momento tambem nos posicionamos oficialmente contra os acentos. Os acentos estao para a ortografia como Joao Malheiro para o futebol: Dao um certo colorido, mas no final de contas nao fazem falta nenhuma. E comecamos finalmente a entender a politica de contratacoes do Uniao da Madeira de principios de anos 90...
No entretanto, Meszaros recomenda que tenham cuidado com as roturas de ligamentos cruzados e aconselha a jogar sempre pelos flancos. Haja saude.
Ferenc 3.39
Meszaros , o Huno declara que a producao de artigos durante os proximos dias vai ser afectada por uma viagem de prospeccao que estamos actualmente a realizar no prolifero campeonato militar do Mali. Temos esperanca de conseguir descobrir um novo Keita ou um novo Diallo, duas quase-estrelas miticas da constelacao leonina caso tivessem jogado mais que uns meros segundos no campeonato.
A partir deste momento tambem nos posicionamos oficialmente contra os acentos. Os acentos estao para a ortografia como Joao Malheiro para o futebol: Dao um certo colorido, mas no final de contas nao fazem falta nenhuma. E comecamos finalmente a entender a politica de contratacoes do Uniao da Madeira de principios de anos 90...
No entretanto, Meszaros recomenda que tenham cuidado com as roturas de ligamentos cruzados e aconselha a jogar sempre pelos flancos. Haja saude.
1.12.04
Quim vs. Nascimento - O embate
'E quando lhe contaram as histórias dos seus antepassados, o Homem de Cro-Magnon disse: 'Houh''
Férenc 2.2
Varzim e Vit. Setúbal encontram-se na Póvoa. Ambiente de festa, com sardinhada e vinho tinto, tão comuns em encontros de gente do mar. Dentro do campo, as equipas sentem a excitação de um dos clássicos ignorados do futebol português, alvo de fervilhante paixão entre uma elite cada vez mais underground.
Começa o jogo.
Num ombro a ombro a meio campo, Quim (mais tarde, no FC Porto) e Nascimento, antepassados de Moreira e possuídores das mandíbulas mais temidas e proeminentes da primeira divisão, batem com o queixo um no outro. O som é arrepiante. A multidão arrefece em silêncio. Deixa de se ouvir barulho na lota de pesca. Qual dos dois tem que sair de maca?
Resposta em breve. Entretando, revelem toda a vossa astúcia, seus velhas raposas. Enviem as vossas respostas a meszaros@no-log.org e façam saltar do banco esse John Mortimore que têm adormecido dentro de vós. Será dos comprimidos pró coraçao...
Quem mandar uma boa resposta recebe o ‘Parabéns a Voçê’ cantado por todo o balneário.
Férenc 2.2
Varzim e Vit. Setúbal encontram-se na Póvoa. Ambiente de festa, com sardinhada e vinho tinto, tão comuns em encontros de gente do mar. Dentro do campo, as equipas sentem a excitação de um dos clássicos ignorados do futebol português, alvo de fervilhante paixão entre uma elite cada vez mais underground.
Começa o jogo.
Num ombro a ombro a meio campo, Quim (mais tarde, no FC Porto) e Nascimento, antepassados de Moreira e possuídores das mandíbulas mais temidas e proeminentes da primeira divisão, batem com o queixo um no outro. O som é arrepiante. A multidão arrefece em silêncio. Deixa de se ouvir barulho na lota de pesca. Qual dos dois tem que sair de maca?
Resposta em breve. Entretando, revelem toda a vossa astúcia, seus velhas raposas. Enviem as vossas respostas a meszaros@no-log.org e façam saltar do banco esse John Mortimore que têm adormecido dentro de vós. Será dos comprimidos pró coraçao...
Quem mandar uma boa resposta recebe o ‘Parabéns a Voçê’ cantado por todo o balneário.
30.11.04
Os discípulos de Borota I
‘ Quem tem medo compra um cao. Mas eles compraram pinchers’.
Férenc 88.09
Imaginemos que os 3 reis magos, a caminho de levar o ouro, incenso e a mirra ao Salvador, de repente perdiam a estrela de Belém. Desesperados tentaríam encontrar outra estrela que os orientasse no seu caminho. Apenas muito dias depois, dar-se-íam conta que se tinham enganado e estavam no Bangladesh ofereçendo o ouro ao filho de um produtor de arroz budista, porque o incenso e a mirra já tinham comido pelo caminho.
Esta alegoria serve apenas para explicar como se sentiu o FC Porto, quando depois de vender Vítor ‘Euro 2004’ Baía para o Barcelona tentou desesperadamente procurar outra estrela para guiar a sua defesa. Ao FC Porto aconteceu ainda pior que aos 3 reis magos. Se ir para o Bangladesh é mau, contratar um Ivica Kralj, um Eriksson y um Wosniak é muito pior.
Moral da história, se os reis magos nao percebem um boi de geografia, o FC nao percebe um Paulinho Santos de Futebol.
Ora vide:
Discípulo I
Lars ‘ o Homem tranquilo’ Eriksson
Varias teorías existiram sobre a serenidade de Lars Eriksson, um pacato guarda-redes Sueco que apareceu nas Antas ninguém sabe muito bem como nem porquê. Meszaros, o Huno traz-lhes aquí as teorías mais famosas:
- Teoría 1 – ‘Eriksson era apenas um homem muito calmo’. Segundo esta teoria estamos perante um fenómeno da condiçao humana. É que tendo diante uma defesa composta por um Secretário, um Jorge Costa, um Aloísio e um Paulinho Santos, até o Dalai Lama estaría nervoso. Todos sabemos que no caso de estes meninos nao terem um adversario directo para atacar, podiam virar-se contra qualquer um, como Rottweillers em fúria tentando saciar a sua codicia de sangue. Que o diga Mielcarski, que se fartava de levar caldos do Paulinho Santos de cada vez que marcava um golo. Talvez por isso preferisse estar lesionado. Teoría rejeitada por medo de agressao.
- Teoria 2 – ‘Eriksson na realidade era apenas depresivo’. Esta teoria apresenta ‘Homem Tranquilo’ Eriksson nao como uma pessoa calma mas catatónica, pela quantidade industrial de drunfes que lhe metíam por aquela boca dentro. No entanto, esta teoría é uma absoluta calúnia, pois a reputaçao do departamento médico do FC Porto é intocável. Tao intocável como as cabeças da maioría dos jogadores quando começam a perder cabelo ainda em idade de infantis. Teoría rejeitada e processo em tribunal.
- Teoria 3 – ‘ Eriksson estava morto’. Esta teoria é de todas a mais verosímil. Mais: Meszaros, o Huno sabe de fonte segura que a contrataçao de Eriksson constitui mais uma infame cabala orquestrada pela Camorra Sueca de tráfico de jogadores de futebol, responsável pelos fenómenos Martín Pringle e Hans Eskillson (prometido para um próximo blog) a qual Meszaros nao vai parar de denunciar. Sabemos que o Sr. Lars Eriksson, cidadao sueco e vendedor de electrodomésticos, foi comprado por um Agente FIFA a uma agencia funeraria (para ver até onde chegam os tentáculos deste polvo) depois de ter perecido por enfarte de miocárdio e vendido ao FC Porto como jogador de futebol. A trama foi tao bem orquestrada que ninguém desconfiou o facto de ter sempre alguém a dar-lhe pancaditas nas costas ou o seu agente ligar ao treinador para nao o pôr a jogar nos dias mais ventosos.
Apenas Vale e Azevedo, o Gil y Gil português, conseguiu detectar a tempo mais uma maquiavélica maquinaçao da Camorra Sueca, quando lhe tentaram vender o ponta de lança Rushfeldt, que na realidade era um boneco insuflável. Ladrao que apanha ladrao, também devia ter 100 anos de perdao. A justiça nao foi feita, Dr. Azevedo. E por isso, a Camorra Sueca anda por aí...
Ps. O facto deste mail nao ter alguns acentos é a prova cabal de que a Camorra Sueca tenta a todo o custo boicotar a nossa missao de esclarecer a verdade.
Férenc 88.09
Imaginemos que os 3 reis magos, a caminho de levar o ouro, incenso e a mirra ao Salvador, de repente perdiam a estrela de Belém. Desesperados tentaríam encontrar outra estrela que os orientasse no seu caminho. Apenas muito dias depois, dar-se-íam conta que se tinham enganado e estavam no Bangladesh ofereçendo o ouro ao filho de um produtor de arroz budista, porque o incenso e a mirra já tinham comido pelo caminho.
Esta alegoria serve apenas para explicar como se sentiu o FC Porto, quando depois de vender Vítor ‘Euro 2004’ Baía para o Barcelona tentou desesperadamente procurar outra estrela para guiar a sua defesa. Ao FC Porto aconteceu ainda pior que aos 3 reis magos. Se ir para o Bangladesh é mau, contratar um Ivica Kralj, um Eriksson y um Wosniak é muito pior.
Moral da história, se os reis magos nao percebem um boi de geografia, o FC nao percebe um Paulinho Santos de Futebol.
Ora vide:
Discípulo I
Lars ‘ o Homem tranquilo’ Eriksson
Varias teorías existiram sobre a serenidade de Lars Eriksson, um pacato guarda-redes Sueco que apareceu nas Antas ninguém sabe muito bem como nem porquê. Meszaros, o Huno traz-lhes aquí as teorías mais famosas:
- Teoría 1 – ‘Eriksson era apenas um homem muito calmo’. Segundo esta teoria estamos perante um fenómeno da condiçao humana. É que tendo diante uma defesa composta por um Secretário, um Jorge Costa, um Aloísio e um Paulinho Santos, até o Dalai Lama estaría nervoso. Todos sabemos que no caso de estes meninos nao terem um adversario directo para atacar, podiam virar-se contra qualquer um, como Rottweillers em fúria tentando saciar a sua codicia de sangue. Que o diga Mielcarski, que se fartava de levar caldos do Paulinho Santos de cada vez que marcava um golo. Talvez por isso preferisse estar lesionado. Teoría rejeitada por medo de agressao.
- Teoria 2 – ‘Eriksson na realidade era apenas depresivo’. Esta teoria apresenta ‘Homem Tranquilo’ Eriksson nao como uma pessoa calma mas catatónica, pela quantidade industrial de drunfes que lhe metíam por aquela boca dentro. No entanto, esta teoría é uma absoluta calúnia, pois a reputaçao do departamento médico do FC Porto é intocável. Tao intocável como as cabeças da maioría dos jogadores quando começam a perder cabelo ainda em idade de infantis. Teoría rejeitada e processo em tribunal.
- Teoria 3 – ‘ Eriksson estava morto’. Esta teoria é de todas a mais verosímil. Mais: Meszaros, o Huno sabe de fonte segura que a contrataçao de Eriksson constitui mais uma infame cabala orquestrada pela Camorra Sueca de tráfico de jogadores de futebol, responsável pelos fenómenos Martín Pringle e Hans Eskillson (prometido para um próximo blog) a qual Meszaros nao vai parar de denunciar. Sabemos que o Sr. Lars Eriksson, cidadao sueco e vendedor de electrodomésticos, foi comprado por um Agente FIFA a uma agencia funeraria (para ver até onde chegam os tentáculos deste polvo) depois de ter perecido por enfarte de miocárdio e vendido ao FC Porto como jogador de futebol. A trama foi tao bem orquestrada que ninguém desconfiou o facto de ter sempre alguém a dar-lhe pancaditas nas costas ou o seu agente ligar ao treinador para nao o pôr a jogar nos dias mais ventosos.
Apenas Vale e Azevedo, o Gil y Gil português, conseguiu detectar a tempo mais uma maquiavélica maquinaçao da Camorra Sueca, quando lhe tentaram vender o ponta de lança Rushfeldt, que na realidade era um boneco insuflável. Ladrao que apanha ladrao, também devia ter 100 anos de perdao. A justiça nao foi feita, Dr. Azevedo. E por isso, a Camorra Sueca anda por aí...
Ps. O facto deste mail nao ter alguns acentos é a prova cabal de que a Camorra Sueca tenta a todo o custo boicotar a nossa missao de esclarecer a verdade.
29.11.04
Walker, o Ranger do Bessa
‘Dêem-me uns pítons de alumínio, um par de caneleiras e uma colt .45 e até divido uma bola com o Valtinho.’
Férenc 4:11
Era uma vez um forasteiro. Viajou de um País distante para tentar construir a sua vida, numa terra para ele desconhecida, inóspita e dura, como tantos aventureiros que amuraram na nossa costa. De Skoda a Pitico, de Décio António a Voynov, todos tinham a mesma ilusão: Obter fama, ganhar fortuna e engatar uma gaja boa que trabalhasse numa loja de roupa da baixa.
Chegou ao faroeste do futebol português, deficitário de lei mas excendentário de ladrões de cavalos. Nas margens do Douro encontrou o seu refúgio. O Bessa era como uma pequena cidade sem ordem, desmandada e desgovernada, tornando-se um alvo extremamente vulnerável ao saque dos 2 pontos por quem o visitasse. Phil Walker rápidamente entendeu o seu destino: Impôr a sua lei, criar disciplina e ganhar o respeito dos outros bandos. Custe o que custasse.
Pegou nuns quantos delegados e pôs-se a organizar o forte. O Ranger Walker tinha que impôr a ordem. O meio do campo era o seu rancho, mas o seu território não tinha fronteiras. Em momentos de aflição, era ele quem dava o grito de alerta, impulsando a revolta dos seus fiéis delegados. Em alturas de tranquilidade, permitia aos seus vaqueiros uns copos no saloon e uns passitos de Cacan, mantendo-se ele de vigília.
O seu brilhantismo estava apenas na sua estrela de xerife, na sua liderança. Não era o mais rápido, o mais forte ou mais genial. Também não fazia falta. Era preciso um atirador furtivo para dar cabo de um par de coiotes, chama-se o Ricky, que até se misturava bem com a escuridão. Fazia falta um batedor, havia o Marlon Brandao que se enviezava pelos montes adversários, abrindo caminho para o resto do bando. O trabalho exigia um capanga de força bruta, ali estava o Nogueira, que até enganava bem com o seu ar de intelectual de festa do avante, mas que na altura de afiambrar era um verdadeiro skinhead. E até havia um par de lugares tenentes, Agatão e Rui Casaca, que lhe davam uma boa ajudinha na altura de reunir e avivar as tropas. Mas o chefe da banda era ele. O descendente do Bobó, de dreadlocks ao vento.
O mito nasceu e correu mundo. Dizia-se dele que quando alguém sofria uma entrada sua a pés juntos, ficava com a marca dos pítons para sempre cravada na pele, uma cabeça de gado mais da sua manada, marcada a ferro quente. Dizia-se que o seu grito de mando era tão poderoso que até deslocava as balizas, razão pela qual Ricky marcava golos. Dizia-se até que o segredo da sua pujança e energia estava no seu rasta aparentemente descuidado, o que até tinha um certo fundo de verdade, pois no seu rasta guardava sempre uma sandes de torresmo e uma mini-preta para quando lhe faltavam as forças. O rumor é a força motora do nascimento de um mito. Mas o mito só nasce se houver um embrião de verdade. E a gente do Bessa conhecía-a.
E ainda hoje para os lados da Boavista, nessas solarengas tardes de Domingo, se pode ouvir o som de uma harmónica triste, como chamando o velho vaqueiro. E nós que nos habituámos a vê-lo, de dreadlocks ao vento, olhamos para o pôr do sol e, escutando essa balada saudosista, sentimo-nos felizes: Sempre é melhor o som de uma harmónica do que a voz do Jorge Gabriel pelo sistema de som de um estádio qualquer.
Férenc 4:11
Era uma vez um forasteiro. Viajou de um País distante para tentar construir a sua vida, numa terra para ele desconhecida, inóspita e dura, como tantos aventureiros que amuraram na nossa costa. De Skoda a Pitico, de Décio António a Voynov, todos tinham a mesma ilusão: Obter fama, ganhar fortuna e engatar uma gaja boa que trabalhasse numa loja de roupa da baixa.
Chegou ao faroeste do futebol português, deficitário de lei mas excendentário de ladrões de cavalos. Nas margens do Douro encontrou o seu refúgio. O Bessa era como uma pequena cidade sem ordem, desmandada e desgovernada, tornando-se um alvo extremamente vulnerável ao saque dos 2 pontos por quem o visitasse. Phil Walker rápidamente entendeu o seu destino: Impôr a sua lei, criar disciplina e ganhar o respeito dos outros bandos. Custe o que custasse.
Pegou nuns quantos delegados e pôs-se a organizar o forte. O Ranger Walker tinha que impôr a ordem. O meio do campo era o seu rancho, mas o seu território não tinha fronteiras. Em momentos de aflição, era ele quem dava o grito de alerta, impulsando a revolta dos seus fiéis delegados. Em alturas de tranquilidade, permitia aos seus vaqueiros uns copos no saloon e uns passitos de Cacan, mantendo-se ele de vigília.
O seu brilhantismo estava apenas na sua estrela de xerife, na sua liderança. Não era o mais rápido, o mais forte ou mais genial. Também não fazia falta. Era preciso um atirador furtivo para dar cabo de um par de coiotes, chama-se o Ricky, que até se misturava bem com a escuridão. Fazia falta um batedor, havia o Marlon Brandao que se enviezava pelos montes adversários, abrindo caminho para o resto do bando. O trabalho exigia um capanga de força bruta, ali estava o Nogueira, que até enganava bem com o seu ar de intelectual de festa do avante, mas que na altura de afiambrar era um verdadeiro skinhead. E até havia um par de lugares tenentes, Agatão e Rui Casaca, que lhe davam uma boa ajudinha na altura de reunir e avivar as tropas. Mas o chefe da banda era ele. O descendente do Bobó, de dreadlocks ao vento.
O mito nasceu e correu mundo. Dizia-se dele que quando alguém sofria uma entrada sua a pés juntos, ficava com a marca dos pítons para sempre cravada na pele, uma cabeça de gado mais da sua manada, marcada a ferro quente. Dizia-se que o seu grito de mando era tão poderoso que até deslocava as balizas, razão pela qual Ricky marcava golos. Dizia-se até que o segredo da sua pujança e energia estava no seu rasta aparentemente descuidado, o que até tinha um certo fundo de verdade, pois no seu rasta guardava sempre uma sandes de torresmo e uma mini-preta para quando lhe faltavam as forças. O rumor é a força motora do nascimento de um mito. Mas o mito só nasce se houver um embrião de verdade. E a gente do Bessa conhecía-a.
E ainda hoje para os lados da Boavista, nessas solarengas tardes de Domingo, se pode ouvir o som de uma harmónica triste, como chamando o velho vaqueiro. E nós que nos habituámos a vê-lo, de dreadlocks ao vento, olhamos para o pôr do sol e, escutando essa balada saudosista, sentimo-nos felizes: Sempre é melhor o som de uma harmónica do que a voz do Jorge Gabriel pelo sistema de som de um estádio qualquer.
23.11.04
A escala de Maside
‘ O primeiro inventor da pressao alta foi Anthímio de Azevedo’
Férenc 2:10
‘Senhores e senhoras espectadores do topo sul, por questoes de segurança, por favor, desloquem-se para a lateral, pois o Vitoria vai atacar na segunda parte para esse lado’.
Após as solicitaçoes de muitos clubes, da protecçao civil e da intervençao da Procuradoria Geral da República, a FPF viu-se obrigada a tomar esta medida de aviso aos espectadores como precauçao em cada jogo do Vitória de Setúbal e, mais tarde do Sporting.
Tudo porque, a extremo direito jogada o verdadeiro terramoto das bancadas: Rui ‘Richter’ Maside.
‘Richter’ Maside começava o jogo enconstado á linha. ‘ Rui’ dizia-lhe o Mister, ‘poe-te do lado de dentro da linha. É o lado onde estao os outros jogadores todos. Sim, os que estao de pé e equipados como tu’. E ía sempre em frente. Ás vezes passavam-lhe a bola, que se embrulhava nos pés e ficava para trás, mas o Rui continuava a correr. Outras vezes nem lhe passavam a bola, mas o Rui continuava a correr.
Mesmo com a sua quase completa inaptidao para ter a bola nos pés, até se podía dizer que era um extremo perigoso. Perigoso para a integridade física do adversário. Mas os danos eram mínimos pois quando começava a correr os defesas saíam da sua frente e deixavam-lhe o caminho livre. Os defesas e também os fiscais de linhas, os fotógrafos, os apanha-bolas e até o público.
Alguns estádios reforçaram a protecçao das bancadas com barras de aço trazidos directamente da Siderurgia Nacional, para evitar danos na estrutura. Outros estádios já foram construídos usando materiais e tecnologia anti-Maside.
Alvalade e Bonfim, no entanto, adaptaram-se tecnologicamente de modo a conseguir mante-lo mais ou menos dentro do campo sem terem um carro preparado na doca para o trazer ao estádio de cada vez que caía ao rio durante um jogo de futebol: A idéia consistia em revestir os topos do estádio com umas molas almofadadas, para que cada vez que Maside embatesse contra as bancadas fizesse ricochete para trás, mantendo-o sempre em jogo e evitando gastos em portoes novos.
Apesar de todas as críticas que o denominavam de verdadeiro desastre natural, os seus méritos foram reconhecidos pelo Sporting, dando a Rui ‘Richter’ Maside um lugar na nova história do clube, tendo um papel importante na demoliçao do antigo Estádio de Alvalade.
‘Richter’ Maside nao era um artista, um virtuoso, um brinca-na-areia. Era uma força da Natureza, indomável como um Dani depois das 10 da noite, como um Vítor Manuel a dirigir a sua equipa a partir do banco de suplentes, ou um Isidoro a distribuir cartoes. Ainda assim dizem as crónicas que houve um jogo em que conseguiu chutar a bola e fazer um cruzamento. Para as bancadas, mas também nao se pedem milagres. Mas foi só um jogo.
Férenc 2:10
‘Senhores e senhoras espectadores do topo sul, por questoes de segurança, por favor, desloquem-se para a lateral, pois o Vitoria vai atacar na segunda parte para esse lado’.
Após as solicitaçoes de muitos clubes, da protecçao civil e da intervençao da Procuradoria Geral da República, a FPF viu-se obrigada a tomar esta medida de aviso aos espectadores como precauçao em cada jogo do Vitória de Setúbal e, mais tarde do Sporting.
Tudo porque, a extremo direito jogada o verdadeiro terramoto das bancadas: Rui ‘Richter’ Maside.
‘Richter’ Maside começava o jogo enconstado á linha. ‘ Rui’ dizia-lhe o Mister, ‘poe-te do lado de dentro da linha. É o lado onde estao os outros jogadores todos. Sim, os que estao de pé e equipados como tu’. E ía sempre em frente. Ás vezes passavam-lhe a bola, que se embrulhava nos pés e ficava para trás, mas o Rui continuava a correr. Outras vezes nem lhe passavam a bola, mas o Rui continuava a correr.
Mesmo com a sua quase completa inaptidao para ter a bola nos pés, até se podía dizer que era um extremo perigoso. Perigoso para a integridade física do adversário. Mas os danos eram mínimos pois quando começava a correr os defesas saíam da sua frente e deixavam-lhe o caminho livre. Os defesas e também os fiscais de linhas, os fotógrafos, os apanha-bolas e até o público.
Alguns estádios reforçaram a protecçao das bancadas com barras de aço trazidos directamente da Siderurgia Nacional, para evitar danos na estrutura. Outros estádios já foram construídos usando materiais e tecnologia anti-Maside.
Alvalade e Bonfim, no entanto, adaptaram-se tecnologicamente de modo a conseguir mante-lo mais ou menos dentro do campo sem terem um carro preparado na doca para o trazer ao estádio de cada vez que caía ao rio durante um jogo de futebol: A idéia consistia em revestir os topos do estádio com umas molas almofadadas, para que cada vez que Maside embatesse contra as bancadas fizesse ricochete para trás, mantendo-o sempre em jogo e evitando gastos em portoes novos.
Apesar de todas as críticas que o denominavam de verdadeiro desastre natural, os seus méritos foram reconhecidos pelo Sporting, dando a Rui ‘Richter’ Maside um lugar na nova história do clube, tendo um papel importante na demoliçao do antigo Estádio de Alvalade.
‘Richter’ Maside nao era um artista, um virtuoso, um brinca-na-areia. Era uma força da Natureza, indomável como um Dani depois das 10 da noite, como um Vítor Manuel a dirigir a sua equipa a partir do banco de suplentes, ou um Isidoro a distribuir cartoes. Ainda assim dizem as crónicas que houve um jogo em que conseguiu chutar a bola e fazer um cruzamento. Para as bancadas, mas também nao se pedem milagres. Mas foi só um jogo.
22.11.04
Uma frase do Mestre I
‘E um dia Vítor Baía, o pequeno apanha-bolas, estendeu a bola a Borota e ao vê-lo encaminhar-se para os postes, com admiraçao disse para si mesmo: Um dia quero ser como tú... ’
Férenc 2:22
Uma frase do Mestre:
‘ Luiz Fernando... já jogou na selecçao do Brasil... É portanto, brasileiro’
José Nicolau de Melo
Mestre, és o Pietra dos comentadores.
Férenc 2:22
Uma frase do Mestre:
‘ Luiz Fernando... já jogou na selecçao do Brasil... É portanto, brasileiro’
José Nicolau de Melo
Mestre, és o Pietra dos comentadores.
19.11.04
Agora é que fodemos isto tudo
Apenas uma palavra: Leónidas.
Quando fazes pop, já não há stop
‘Nem todos os suecos são altos, louros e toscos. Alguns são pretos’
Férenc 2:22
E um dia alguém acorda de manhã, com uma ressaca do caneco depois de uma noite de maluquice, sai de casa para comprar gurosans, e, de mal com o Mundo, olha para o primeiro gajo que vê na rua e diz: ‘Vou fazê-lo jogador de futebol e vendê-lo á equipa do Colombo’. Não sabemos se a história se passa exactamente assim, mas este fenómeno de transformação instantânea de gajos que passam na rua em jogadores de futebol, é real no nosso universo futebolístico e repete-se regularmente embora de forma não periódica. Tipo eclipse da lua. Assim se explica o surgimento de tantos jogadores como Eskilsson, Uribe, King, Escalona, Machairidis ou Walter Paz. Um dos ex-líbris do fenómeno pop-players, foi, no entanto, Martín ‘Bicho-Pau’ Pringle.
Reza a lenda que ‘Bicho-Pau’ Pringle foi descoberto enquanto entregava pizzas na Suécia. Chega a casa de um Agente FIFA:
tlim tlão
- Quem é?
- Telepizza, Sáxavor. São 2 familiares de rena com anchovas, não é isso chefe?
- É sim, obrigado.
- Ora muito bem. Aqui tem um anãozinho ajudante do Pai Natal insuflável, ofertinha da casa e um folheto anti-suícidio. Sao 43 Euros e 26 centimos, sáxavor.
- Greta! Ó Greta, dá lá o dinheiro pra pagar ó señor (Pausa). Aquí tá.
- Ó chefe, só tem notas de 50 Euros? Na tem trocado?
- Ó Greta, não tens trocado pró senhor? (Pausa) Ó amigo, desculpe lá mas não tenho.
- Chefe, isto assim na pode ser. Só posso aceitar trocado. Se na tem trocado na lhe posso deixar as pizzas.
- Entao mas o que quer que lhe faça? Eu não tenho trocado, só tenho essa nota.
- Desculpe lá, mas as regras sao as regras. Na há trocado na há pizza.
- Entao mas a gente nao pode arranjar uma maneira de dar a volta a isto? Olhe lá, voçê já pensou em ser jogador de futebol?
E foi assim.
A meio da peladinha do primeiro treino, o seu treinador já o pôs a jogar como ponta-de-lança, pois quando mais longe da própria baliza perdesse a bola, menor sería o estrago. Mas o mais surpreendente na carreira de ‘Bicho-Pau’ Pringle no desporto-rei, onde ficou conhecido por coisa nenhuma, não foi ter chegado á equipa do Colombo, mas sim o facto de ainda hoje continuar a ter contratos de futebol profissional. Isto leva a pensar que a história-lenda de ‘Bicho-Pau’ Pringle não está muito bem contada: Ele tería que levar, no mínimo, três pizzas de rena com anchovas e não apenas duas...
Férenc 2:22
E um dia alguém acorda de manhã, com uma ressaca do caneco depois de uma noite de maluquice, sai de casa para comprar gurosans, e, de mal com o Mundo, olha para o primeiro gajo que vê na rua e diz: ‘Vou fazê-lo jogador de futebol e vendê-lo á equipa do Colombo’. Não sabemos se a história se passa exactamente assim, mas este fenómeno de transformação instantânea de gajos que passam na rua em jogadores de futebol, é real no nosso universo futebolístico e repete-se regularmente embora de forma não periódica. Tipo eclipse da lua. Assim se explica o surgimento de tantos jogadores como Eskilsson, Uribe, King, Escalona, Machairidis ou Walter Paz. Um dos ex-líbris do fenómeno pop-players, foi, no entanto, Martín ‘Bicho-Pau’ Pringle.
Reza a lenda que ‘Bicho-Pau’ Pringle foi descoberto enquanto entregava pizzas na Suécia. Chega a casa de um Agente FIFA:
tlim tlão
- Quem é?
- Telepizza, Sáxavor. São 2 familiares de rena com anchovas, não é isso chefe?
- É sim, obrigado.
- Ora muito bem. Aqui tem um anãozinho ajudante do Pai Natal insuflável, ofertinha da casa e um folheto anti-suícidio. Sao 43 Euros e 26 centimos, sáxavor.
- Greta! Ó Greta, dá lá o dinheiro pra pagar ó señor (Pausa). Aquí tá.
- Ó chefe, só tem notas de 50 Euros? Na tem trocado?
- Ó Greta, não tens trocado pró senhor? (Pausa) Ó amigo, desculpe lá mas não tenho.
- Chefe, isto assim na pode ser. Só posso aceitar trocado. Se na tem trocado na lhe posso deixar as pizzas.
- Entao mas o que quer que lhe faça? Eu não tenho trocado, só tenho essa nota.
- Desculpe lá, mas as regras sao as regras. Na há trocado na há pizza.
- Entao mas a gente nao pode arranjar uma maneira de dar a volta a isto? Olhe lá, voçê já pensou em ser jogador de futebol?
E foi assim.
A meio da peladinha do primeiro treino, o seu treinador já o pôs a jogar como ponta-de-lança, pois quando mais longe da própria baliza perdesse a bola, menor sería o estrago. Mas o mais surpreendente na carreira de ‘Bicho-Pau’ Pringle no desporto-rei, onde ficou conhecido por coisa nenhuma, não foi ter chegado á equipa do Colombo, mas sim o facto de ainda hoje continuar a ter contratos de futebol profissional. Isto leva a pensar que a história-lenda de ‘Bicho-Pau’ Pringle não está muito bem contada: Ele tería que levar, no mínimo, três pizzas de rena com anchovas e não apenas duas...
18.11.04
Fado da Moda afro-disco da Buraca
‘Uma palestra do Artur Jorge depois de um murro do Sá Pinto. Isso sim, é poesia’
Férenc 19:19
Do outro lado da circular
Quando a equipa era popular
Existiu fenómeno sem igual.
Expoente de idolatração
Amado pela multidão
O verdadeiro ídolo nacional
Não deslumbrava pela subtileza
Nem pelo comando da defesa
Muito menos pelo rigor do passe.
Deslumbrava pela figura,
Pelo seu conceito de estética pura
Que o levitava a outra classe
Era aquela enorme cabeleira
Que tapava a baliza inteira
Alvo de admiração e desejo
E aquele bigode massiço
Gordo, farfalhudo e roliço
De uma sexualidade que eu invejo
Não era um futebolista, era um revolucionário
Um lírico, um visionário
Mais que um génio, um profeta
Um herói desta nação
Ïcone de uma geração.
Gritemos todos bem alto: Nao te esqueçeremos, Minervino Pietra!
Férenc 19:19
Do outro lado da circular
Quando a equipa era popular
Existiu fenómeno sem igual.
Expoente de idolatração
Amado pela multidão
O verdadeiro ídolo nacional
Não deslumbrava pela subtileza
Nem pelo comando da defesa
Muito menos pelo rigor do passe.
Deslumbrava pela figura,
Pelo seu conceito de estética pura
Que o levitava a outra classe
Era aquela enorme cabeleira
Que tapava a baliza inteira
Alvo de admiração e desejo
E aquele bigode massiço
Gordo, farfalhudo e roliço
De uma sexualidade que eu invejo
Não era um futebolista, era um revolucionário
Um lírico, um visionário
Mais que um génio, um profeta
Um herói desta nação
Ïcone de uma geração.
Gritemos todos bem alto: Nao te esqueçeremos, Minervino Pietra!
17.11.04
Paulo vs. Manuela
‘Nunca te metas com um extremo de raíz’
Férenc 14:31
Este foi um dos melhores momentos da televisão portuguesa, comparado apenas a... Não. Foi mesmo o melhor momento da televisão portuguesa.
Paulo Futre, acabado de chegar á equipa do Colombo, vindo do Ol. Marselha, para iniciar a segunda de três fases da sua reforma, é o convidado especial de Manuela Moura Guedes no Jornal da Noite da TVI. Horário Nobre. E merecido.
Paulo Futre tem aquí uma demonstração inquestionável de que mantinha o mesmo jogo de cintura que levou tantos rins ás mesas de operações para tirar os nós. Á Vado.
Manuela: ‘Paulo, quanto ganhas?’
Paulo: ‘Bem Manuela, isso é algo que não te vou dizer aqui.’
(Atenção ao sotaque, pois é imprescindível. Tem que ser lido com a entoação de quem nasceu no Montijo, partilhou parte da sua vida com Gil y Gil e tem um porche amarelo canário)
Manuela: Paulo, reconheces que é algo que todos os espectadores têm curiosidade de saber e que tem sido alvo de bastante especulação.
Paulo: ‘Bem Manuela, se me disseres quanto ganhas tu, digo-te quanto ganho eu’
Manuela (resposta imediata, olhando-lhe nos olhos como quem diz ‘ vê lá como te safas desta’): ‘Eu ganho 300 contos’.
Paulo (surpreendido mas nunca rendido): ‘ Pois eu ganho um pouco mais’
Isto sim, é serviço público.
Férenc 14:31
Este foi um dos melhores momentos da televisão portuguesa, comparado apenas a... Não. Foi mesmo o melhor momento da televisão portuguesa.
Paulo Futre, acabado de chegar á equipa do Colombo, vindo do Ol. Marselha, para iniciar a segunda de três fases da sua reforma, é o convidado especial de Manuela Moura Guedes no Jornal da Noite da TVI. Horário Nobre. E merecido.
Paulo Futre tem aquí uma demonstração inquestionável de que mantinha o mesmo jogo de cintura que levou tantos rins ás mesas de operações para tirar os nós. Á Vado.
Manuela: ‘Paulo, quanto ganhas?’
Paulo: ‘Bem Manuela, isso é algo que não te vou dizer aqui.’
(Atenção ao sotaque, pois é imprescindível. Tem que ser lido com a entoação de quem nasceu no Montijo, partilhou parte da sua vida com Gil y Gil e tem um porche amarelo canário)
Manuela: Paulo, reconheces que é algo que todos os espectadores têm curiosidade de saber e que tem sido alvo de bastante especulação.
Paulo: ‘Bem Manuela, se me disseres quanto ganhas tu, digo-te quanto ganho eu’
Manuela (resposta imediata, olhando-lhe nos olhos como quem diz ‘ vê lá como te safas desta’): ‘Eu ganho 300 contos’.
Paulo (surpreendido mas nunca rendido): ‘ Pois eu ganho um pouco mais’
Isto sim, é serviço público.
16.11.04
Priiiii!
‘Dá-me seis gajos com bigode, três carecas, um comunista e um vesgo e eu faço-te campeão nacional’
Férenc 16:15
O futebol português já Não é o que era. Se falamos de futebol, ainda mais de futebol português, é imprescindível começarmos com um cliché. Como é que fazem os jogadores brasileiros mal aterram no aeroporto? Ãh? Podíamos utilizar outros, como o octaviano ‘com muito trabalho alcançaremos os nossos objectivos’, o solidário ‘temos um balneário muito unido’, o auto-moderador ‘temos que ser humildes e respeitar o nosso adversário’ ou até o subversivo ‘sabem que não costumo falar dos árbitros, mas...’, mas estes não vêm nada a propósito. Fiquemos com o saudosista ‘O futebol português já não é o que era ‘. A verdade é essa: O futebol português mudou. Não de um dia para o outro, Não de forma espontanea ou por artes mágicas. Nada é permanente, tudo se transforma. Menos Jaime Pacheco.
Não interessa se essa evoluçao foi para melhor ou para pior, isso deixamos para outros gajos. Não interessa se um campo com tartan é melhor ou pior que umas bancadas a poucos metros da baliza, se um estilo afro-disco-dos-suburbios do Minervino é mais sexualmente atraente que um estilo neo-Mohawk de Porfírio, se era mais beto o Bi-Bota (vénia) ou o Diogo, se devíamos manter por cá os nossos Jorge Leitões, Mamedes ou Rui Patacas como antes mantínhamos os nossos Luis Sauras, Crisantos ou Chicos Faria, se preferíamos um Rui Tovar ou um Daniel Bessa. Não estamos aqui para fazer juízos de valor, apesar de ainda termos fotos de Minervino dentro do guarda-fato (o poster do meio. E com o bigode aparadinho).
A verdade é que temos saudades. Temos saudades de ver jogos no peão ao domingo á tarde, do bigode de Vermelhinho, do romantismo de um Feirense que prefere manter a sua identidade lusitana a ganhar jogos, do tempo em que se vendiam garrafas de vidro nos estádios e os árbitros vestiam de preto, do bigode do Vermelhinho, do tempo em que as faltas por trás não levavam amarelo e os guarda-redes defendiam um atraso com as maos, do Bernardino Pedroto a treinar o V. Guimaraes e do bigode do Vermelhinho.
Temos saudades do tempo dos capitaes de aço, como Gregório Freixo, Ferreira da Costa ou Rui França, homens de nobre linhagem que impunham o seu carisma e comandavam as suas tropas, com a eloquência subtil de pastores brasileiros de uma qualquer igreja alternativa, exigindo, em cada domingo, a dízima ao seu rebanho.
Temos saudades quando tínhamos o privilégio de nos deixarmos inebriar pelo exotismo sedutor de uma legião estrangeira digna e meritória, heterogénea mas solidária, onde um Negrete ‘pontapé-de-moinho’ galantemente se enfrentava a um Amarildo ‘coiçe-de-mula’ e um Mladenov compartia o seu protagonismo de estrela internacional com um Mapuata, representando a universalidade do futebol portugues num mundo ainda não globalizado, separado por uma barreira que era muito mais que física.
Temos saudades do Espinho de Quinito, do Guimarães de Autuori, do Boavista de Raul Águas e do Belenenses de Marinho Peres. E de John Mortimore. Ai, John Mortimore... E do morcego-da-paz Octávio, o vigilante da noite, digníssimo Presidente dos Bombeiros Voluntários de Palmela.
Chamem-nos piegas, revivalistas, saudosistas e o caneco. Assumimos! Somos! Mas quem viveu uma apresentação do Eskilsson aos sócios e se não foi dos que se esvaiu em sangue após cortar os pulsos, sabe do que estamos a falar. A diferença entre o futebol português de há 15 anos é que antes os ídolos se chamavam Cabumba, Conhé, Bobó e Babá. Agora chamam-se Ricardo e Não Labreca, Beto e Não Severo, apenas Simao, já sem o Sabrosa. E quem se chama agora Tamagnini? Bem hajam Bodunha, Febras e Edú Brasil, seus incorruptíveis. Houve uma evolução no futebol português, sim. Mas uma evolução quase apenas cosmética mas que não se resumiu apenas ao nome dos jogadores. Cosmética. A substância manteve-se, ou piorou. A diferença entre o futebol português de há 15 anos e o de agora está na genuinidade. Perdeu-se quando se impôs a hipocrisia.
Apenas queremos voltar a uma época em que o futebol era mais puro e mais macho. Apenas queremos voltar a sentir esse encanto, lembrar esses momentos, homenagear esses ídolos e divagar sobre tantas particularidades que o fizeram (e, em alguns casos, ainda fazem- Obrigado Papa) tão sui generis. Nunca te esqueçeremos, Minervino.
Queremos fazer justiça e recordar um futebol português já esquecido, tantas vezes irreconhecido e muitas desprezado. Antes de mais para nós mesmos, para nosso prazer, como os putos caixeiros que preferem divertir-se em toques e fintas, ratas e bicicletas antes de deixar que os outros curtam também um cochinho. A verdade é que somos os donos da bola e só joga quem a gente quiser. E vai pá baliza quem for mais gordo.
E temos saudades do Festas e do Vivas. Mudós cinco, acabós dez. Começó jogo.
Férenc 16:15
O futebol português já Não é o que era. Se falamos de futebol, ainda mais de futebol português, é imprescindível começarmos com um cliché. Como é que fazem os jogadores brasileiros mal aterram no aeroporto? Ãh? Podíamos utilizar outros, como o octaviano ‘com muito trabalho alcançaremos os nossos objectivos’, o solidário ‘temos um balneário muito unido’, o auto-moderador ‘temos que ser humildes e respeitar o nosso adversário’ ou até o subversivo ‘sabem que não costumo falar dos árbitros, mas...’, mas estes não vêm nada a propósito. Fiquemos com o saudosista ‘O futebol português já não é o que era ‘. A verdade é essa: O futebol português mudou. Não de um dia para o outro, Não de forma espontanea ou por artes mágicas. Nada é permanente, tudo se transforma. Menos Jaime Pacheco.
Não interessa se essa evoluçao foi para melhor ou para pior, isso deixamos para outros gajos. Não interessa se um campo com tartan é melhor ou pior que umas bancadas a poucos metros da baliza, se um estilo afro-disco-dos-suburbios do Minervino é mais sexualmente atraente que um estilo neo-Mohawk de Porfírio, se era mais beto o Bi-Bota (vénia) ou o Diogo, se devíamos manter por cá os nossos Jorge Leitões, Mamedes ou Rui Patacas como antes mantínhamos os nossos Luis Sauras, Crisantos ou Chicos Faria, se preferíamos um Rui Tovar ou um Daniel Bessa. Não estamos aqui para fazer juízos de valor, apesar de ainda termos fotos de Minervino dentro do guarda-fato (o poster do meio. E com o bigode aparadinho).
A verdade é que temos saudades. Temos saudades de ver jogos no peão ao domingo á tarde, do bigode de Vermelhinho, do romantismo de um Feirense que prefere manter a sua identidade lusitana a ganhar jogos, do tempo em que se vendiam garrafas de vidro nos estádios e os árbitros vestiam de preto, do bigode do Vermelhinho, do tempo em que as faltas por trás não levavam amarelo e os guarda-redes defendiam um atraso com as maos, do Bernardino Pedroto a treinar o V. Guimaraes e do bigode do Vermelhinho.
Temos saudades do tempo dos capitaes de aço, como Gregório Freixo, Ferreira da Costa ou Rui França, homens de nobre linhagem que impunham o seu carisma e comandavam as suas tropas, com a eloquência subtil de pastores brasileiros de uma qualquer igreja alternativa, exigindo, em cada domingo, a dízima ao seu rebanho.
Temos saudades quando tínhamos o privilégio de nos deixarmos inebriar pelo exotismo sedutor de uma legião estrangeira digna e meritória, heterogénea mas solidária, onde um Negrete ‘pontapé-de-moinho’ galantemente se enfrentava a um Amarildo ‘coiçe-de-mula’ e um Mladenov compartia o seu protagonismo de estrela internacional com um Mapuata, representando a universalidade do futebol portugues num mundo ainda não globalizado, separado por uma barreira que era muito mais que física.
Temos saudades do Espinho de Quinito, do Guimarães de Autuori, do Boavista de Raul Águas e do Belenenses de Marinho Peres. E de John Mortimore. Ai, John Mortimore... E do morcego-da-paz Octávio, o vigilante da noite, digníssimo Presidente dos Bombeiros Voluntários de Palmela.
Chamem-nos piegas, revivalistas, saudosistas e o caneco. Assumimos! Somos! Mas quem viveu uma apresentação do Eskilsson aos sócios e se não foi dos que se esvaiu em sangue após cortar os pulsos, sabe do que estamos a falar. A diferença entre o futebol português de há 15 anos é que antes os ídolos se chamavam Cabumba, Conhé, Bobó e Babá. Agora chamam-se Ricardo e Não Labreca, Beto e Não Severo, apenas Simao, já sem o Sabrosa. E quem se chama agora Tamagnini? Bem hajam Bodunha, Febras e Edú Brasil, seus incorruptíveis. Houve uma evolução no futebol português, sim. Mas uma evolução quase apenas cosmética mas que não se resumiu apenas ao nome dos jogadores. Cosmética. A substância manteve-se, ou piorou. A diferença entre o futebol português de há 15 anos e o de agora está na genuinidade. Perdeu-se quando se impôs a hipocrisia.
Apenas queremos voltar a uma época em que o futebol era mais puro e mais macho. Apenas queremos voltar a sentir esse encanto, lembrar esses momentos, homenagear esses ídolos e divagar sobre tantas particularidades que o fizeram (e, em alguns casos, ainda fazem- Obrigado Papa) tão sui generis. Nunca te esqueçeremos, Minervino.
Queremos fazer justiça e recordar um futebol português já esquecido, tantas vezes irreconhecido e muitas desprezado. Antes de mais para nós mesmos, para nosso prazer, como os putos caixeiros que preferem divertir-se em toques e fintas, ratas e bicicletas antes de deixar que os outros curtam também um cochinho. A verdade é que somos os donos da bola e só joga quem a gente quiser. E vai pá baliza quem for mais gordo.
E temos saudades do Festas e do Vivas. Mudós cinco, acabós dez. Começó jogo.
Vatatoon, o palhaço preto
‘Se o Moreira de Sá e o Sammy Davis Jr copulassem, nascería sempre um artista’
Férenc 23.11
Este atleta de elite foi um dos grandes ícones da equipa do Colombo dos anos 80. Amado e idolatrado tanto pelos seus incontestáveis dotes futebolísticos como pela arte circense que espalhava por esses relvados, fazia de cada Domingo, um verdadeiro carnaval de Torres.
Vata, franzino, de pose esguía e maleável, era a imagem da pluralidade com que o futebol português presenteava o País. Embaixador do seu continente, mostrava que África era muito mais que o Vale da Amoreira e mao de obra não qualificada na construção civil. Era fantasia, espontaneidade e muito, muito humor. Avançado de estilo repentino (de repente tocava na bola, de repente não; de repente estava de pé, de repente não), ingressou no corso do Colombo para deixar a marca de toda a sua pouca felinidade e muito boa disposição. Chegou juntamente com Miranda, um verdadeiro humpty-dumpty do miolo do terreno, deixando, ambos, as boas gentes poveiras em prantos e desnorteadas pela perda das referências da sua equipa, o seu Yin e Yan, os bastiões do equilíbrio espiritual e étnico do Varzim. A saída de Vata e Miranda para o Colombo deixou os nobres pescadores poveiros orfãos de pai e mãe, perdidos num mar revolto, sem farol nem bússola, num naufrágio do qual tememos, não mais regressaram. Nem mesmo após a chegada de Mendonça, ‘a locomotiva da Muchima’, uma esperança infelizmente efémera e que nunca provou ser descendente da estirpe dos seus míticos antecessores.
Apesar de ter sido o melhor marcador da primeira divisão no ano dos pobrezinhos, o que não deve constituir um grande motivo de orgulho nem o valoriza em muito, Vata distinguia-se mais pelos pormenores cómicos que espalhava pelos relvados que pelos dotes de goleador: a sua posição fetal antes de cair ao tropeçar numa bola, a forma símia como se encavalitava nos centrais para cabeçar num pontapé de canto, os chutos no ar e os trambolhões de mãos levantadas fingindo cair num buraco, levaram milhares de crianças aos relvados e vários milhões a implorar aos pais que os deixassem ficar de pé para esperar pelo Domingo Desportivo, para ver as diabruras do seu herói e rir ás gargalhadas, bem dispostos para começar uma nova semana de escola.
Vata constituiu um exemplo histórico de um artista que consegue pegar em duas artes e interpretá-las de forma totalmente harmoniosa e complementar, em prol do espectáculo e da diversão das massas.
Mas sem dúvida o seu momento mais brilhante e ousado de uma carreira repleta de tropelías, foi quando numa semi-final da taça dos campeões, contra o Marselha, realiza o seu acto mais visionário no show-bizz futebolístico, um daqueles que diferencia um semi-deus que roça o Olímpo de um comum mortal que apenas o sonha. Um Stan Valckx de um Machairidis, um Douglas de um Jamir, um Balakov de um Uribe. De uma forma harmoniosa e poética, transporta toda a sua alma circense para dentro do campo de futebol, qual saltimbanco da grande área, fazendo, num passe de malabarismo com a sua mão, entrar a bola dentro da baliza do Ol. Marselha. Perante a exaltação geral de uma plateia pouco dada a pormenores regulamentares sempre que fossem a seu favor, Tapie agonizava com o atrevimento do pequeno mariola mas apontava num caderninho tudo o que tinha aprendido naquela noite. Ficou famosa a sua frase, anos mais tarde, quando foi preso foi corrupção: 'Que inveja dos gajos do Benfica.. *'
Ainda hoje Vata é relembrado por todos com um sorriso nos lábios, fazendo parte do imaginário infanto-juvenil do folclore desportivo. Conseguiu como só os maiores conseguem, pela sua audácia e genialidade, ser odiado por uns e... enfim... que outros lhe achassem graça.
* Traduçao por Rui Pataca. Obrigado, Rui!
Férenc 23.11
Este atleta de elite foi um dos grandes ícones da equipa do Colombo dos anos 80. Amado e idolatrado tanto pelos seus incontestáveis dotes futebolísticos como pela arte circense que espalhava por esses relvados, fazia de cada Domingo, um verdadeiro carnaval de Torres.
Vata, franzino, de pose esguía e maleável, era a imagem da pluralidade com que o futebol português presenteava o País. Embaixador do seu continente, mostrava que África era muito mais que o Vale da Amoreira e mao de obra não qualificada na construção civil. Era fantasia, espontaneidade e muito, muito humor. Avançado de estilo repentino (de repente tocava na bola, de repente não; de repente estava de pé, de repente não), ingressou no corso do Colombo para deixar a marca de toda a sua pouca felinidade e muito boa disposição. Chegou juntamente com Miranda, um verdadeiro humpty-dumpty do miolo do terreno, deixando, ambos, as boas gentes poveiras em prantos e desnorteadas pela perda das referências da sua equipa, o seu Yin e Yan, os bastiões do equilíbrio espiritual e étnico do Varzim. A saída de Vata e Miranda para o Colombo deixou os nobres pescadores poveiros orfãos de pai e mãe, perdidos num mar revolto, sem farol nem bússola, num naufrágio do qual tememos, não mais regressaram. Nem mesmo após a chegada de Mendonça, ‘a locomotiva da Muchima’, uma esperança infelizmente efémera e que nunca provou ser descendente da estirpe dos seus míticos antecessores.
Apesar de ter sido o melhor marcador da primeira divisão no ano dos pobrezinhos, o que não deve constituir um grande motivo de orgulho nem o valoriza em muito, Vata distinguia-se mais pelos pormenores cómicos que espalhava pelos relvados que pelos dotes de goleador: a sua posição fetal antes de cair ao tropeçar numa bola, a forma símia como se encavalitava nos centrais para cabeçar num pontapé de canto, os chutos no ar e os trambolhões de mãos levantadas fingindo cair num buraco, levaram milhares de crianças aos relvados e vários milhões a implorar aos pais que os deixassem ficar de pé para esperar pelo Domingo Desportivo, para ver as diabruras do seu herói e rir ás gargalhadas, bem dispostos para começar uma nova semana de escola.
Vata constituiu um exemplo histórico de um artista que consegue pegar em duas artes e interpretá-las de forma totalmente harmoniosa e complementar, em prol do espectáculo e da diversão das massas.
Mas sem dúvida o seu momento mais brilhante e ousado de uma carreira repleta de tropelías, foi quando numa semi-final da taça dos campeões, contra o Marselha, realiza o seu acto mais visionário no show-bizz futebolístico, um daqueles que diferencia um semi-deus que roça o Olímpo de um comum mortal que apenas o sonha. Um Stan Valckx de um Machairidis, um Douglas de um Jamir, um Balakov de um Uribe. De uma forma harmoniosa e poética, transporta toda a sua alma circense para dentro do campo de futebol, qual saltimbanco da grande área, fazendo, num passe de malabarismo com a sua mão, entrar a bola dentro da baliza do Ol. Marselha. Perante a exaltação geral de uma plateia pouco dada a pormenores regulamentares sempre que fossem a seu favor, Tapie agonizava com o atrevimento do pequeno mariola mas apontava num caderninho tudo o que tinha aprendido naquela noite. Ficou famosa a sua frase, anos mais tarde, quando foi preso foi corrupção: 'Que inveja dos gajos do Benfica.. *'
Ainda hoje Vata é relembrado por todos com um sorriso nos lábios, fazendo parte do imaginário infanto-juvenil do folclore desportivo. Conseguiu como só os maiores conseguem, pela sua audácia e genialidade, ser odiado por uns e... enfim... que outros lhe achassem graça.
* Traduçao por Rui Pataca. Obrigado, Rui!
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