25.5.05

A Igreja Meszarista de São Gil Baiano

‘Arranjem-me um lateral que faça todo o corredor e eu ponho-vos a Margarida Prieto a rezar de joelhos’
Férenc 9.43

Aqui não se fala de actualidade. O Meszaros é apenas um blog revivalista. Apesar de vivermos agora, invocamos permanentemente o passado futebolístico nacional, por vezes de forma talibânica, como o d’ ‘os bons velhos tempos’. Mas sem vivermos o que se passa hoje, não poderemos fazer, daqui a uns 10 anos, um post de 885,342,829 palavras a ofender o Simão. Esta história toda para confessar que, posso não ter morrido do coração com as voltaretas hitchckoquianas do campeonato, mas fiquei com os estômago todo cheio de nós. Começou por isso a produzir um camião cisterna de ácidos verdes e viscosos que me inundam, no qual já vivem seres pequeninos que gostam de viver dentro de ácidos verdes e viscosos e que começaram já a escavar umas quantas úlceras. Apenas essa poderá ser a razão desta interminável azia que sinto desde a semana passada e que teve a sua apoteose magistral no Domingo, quando a minha mucosa perdeu definitivamente as temperas e começou a gregoriar-se para o meu estômago numa incontinente produção de ácido clorídrico, estilo Sabry a perder bolas no ataque. Mas pensava já em fazer uma laqueação do estômago a-la El Pibe ‘ex-estomago-de-vaca’, pois quanto mais pequeno é menos se enche, quando me surge uma imagem celestial que surtiu um efeito Guronsan milagroso. O estômago acalmou, aligeirou-se-me este amargo de boca e até já consigo escutar as palavra ‘Colombo’ e ‘orelhas’. Apesar de quando as tento pronunciar apenas me sai a palavra ‘Benquerença’. Se eu tinha dúvidas da sua essência a roçar o divino, este efeito balsâmico converteu-me definitivamente. Vou comprar um armazém de conservas velho e cheio de ratos e vou criar a Igreja Meszarista de São Gil Baiano, o arcanjo Gabriel. Os ratos podem lá ficar.

Exercício: Lembrem-se de 10 grandes jogadores de futebol. Podem ser os que consideram os melhores do Mundo, lá da terra, ou até da vossa rua se não moram lá só gajos de pés tortos como na minha (o Faleiro é da Rua das Oliveiras). Dá igual. Agora digam-me lá quantos desses 10 são laterais. Eu arrisco: Nenhum.

Quando os putos vão aos treinos de captação, de forma geral, a defesa lateral metem sempre os canhotos que não sejam muito jeitosos e os putos mais pequenitos, porreiritos, caladitos, que não levantam muita onda e que quase sempre são filhos de um vizinho do roupeiro ou de um vogal da direcção e que não sabendo dar uma patada na bola, encostam-no ali ao lado para que possa estar mais perto da mãe nos jogos.

Só aí se entende que ostensivos ícones da vulgaridade possam jogar á bola e até ser internacionais ( Aqui vai uma referência especial ao amigo Carlos 'Não gozó' Secretário), num fosso grotesto de categoria com os seus colegas. Generalizo e reconheço que até há excepções, mas isto aplica-se como uma luva ao rapaz que se segue: Gil Baiano.

Chegou ao Sporting lá para 96, com a responsabilidade de substituir um dos capitães, Carlos Xavier e vinha com o rótulo de qualidade da selecção brasileira. Se a selecção brasileira é realmente sinónimo de qualidade então a contrafacção chinesa já imperava em grande nessa altura, pois no mesmo cabaz do Gil Baiano também andaram pérolas como Wilson Gottardo (mais tarde no Marítimo), Antonio Carlos (FC Porto) ou Donizete (esse bandidolas). E chegou caladito como tinha chegado aos treinos de captação, com os seus angelicais caracolitos dourados e os seu sorriso angelical de menino bonzinho, como um arcanjo mulatito, gordico e rechunchudo cheio de asinhas pequeninas que não servem para nada porque o canalhinha tem o cú demasiado gordo. No relvado demonstrava igualmente os seus angelicais dotes de bom rapaz, de angelical sorrisinho nos lábios, movendo-se nas suas angelicais 2 velocidades ( devagarinho até ao meio campo, devagarinho para trás – asas de merda, pois), realizando sempre angelicais boas acções para com os seus adversários, deixando-os passar á sua frente como mandavam as suas boas maneiras, nem nunca entrando duro porque as canaleiras são caras e podiam ficar riscadas.

E enquanto sorria e distribuia bons dias a toda agente, da mesma forma angelical meteram-no num avião e lá se foi embora, com o seu angelical caracolito dourado e com o seu angelical sorrisinho, deixando uma fartura de saudades, particularmente entre os escuteiros do Lumiar, que tanto choraram a sua partida quando com eles cantou o ‘Chegou a hora do adeus, irmãos vamos partiiiiiir’ de uma forma tão serena e angelical á volta da fogueira.

Em Alvalade sempre se acreditou que, sendo um jogador tão vulgar que não servia nem para jogar futebol sem bola no ciclo, o homem só podería mesmo ser um pai-de-santo. Se tinha vindo para fazer um cadomblézito, então tudo bem: a Margarida Prieto tinha a sua capelinha, o Pimenta Machado arranjou o Alexandrino, o Sporting podía ter o Gil Baiano. Eu pessoalmente tinha dúvidas até nos seus poderes místicos. Mas redimo-me pois fui abençoado pelo que terá sido o seu terceiro milagre. O primeiro foi ter chegado á selecção do Brasil. O segundo ter feito 16 jogos em Alvalade. Começem já a canonização. Pela minha parte vou ligar ao Marco Aurélio e montar uma igreja.